'Poder público deixou de ocupar espaços, e isso permitiu o desequilíbrio', diz ex-vereador de Santos

Ex-vereador em Santos, empresário e diretor-presidente da Transbrasa, Bayard Umbuzeiro Filho lançará seu segundo livro: "Santos, 50 anos em 5".

Por: Da Redação  -  15/06/20  -  22:48
Bayard se diz fã do ex-presidente Juscelino Kubitschek, que construiu Brasília
Bayard se diz fã do ex-presidente Juscelino Kubitschek, que construiu Brasília   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Santista, empresário, ex-vereador (89-92), Bayard Umbuzeiro Filho lança, no próximo dia 18, às 20 horas, de forma virtual, seu segundo livro, “Santos, 50 anos em 5”. A referência não é mera coincidência com o slogan da campanha de Juscelino Kubitschek quando candidato a presidente da República, em 1955. Bayard se diz fã do político que construiu Brasília, anos mais tarde.


Mas para além do lançamento do livro, o diretor-presidente da Transbrasa ensaia ser pré-candidato a prefeito pelo PTB, partido ao qual se filiou “nos 45 do segundo tempo”, como diz.


O livro reúne uma ampla pesquisa de dados setoriais e históricos da cidade de Santos nas últimas cinco décadas, e foi compilada pela Data Center Brasil, dos jornalistas Rodolfo Amaral e Verônica Mendrona.


A intenção era apenas entregá-lo como fonte de pesquisa a todos os candidatos a prefeito de Santos, mas a ideia de ser ele próprio o candidato o animou: “Sou apaixonado por esta cidade, e acho que posso dar minha contribuição”, diz. Mas o martelo ainda não está batido pelo partido. A proximidade dos 80 anos, a serem completados em setembro, não o incomoda: “Moisés começou sua vida no deserto aos 80”, diz.


A conversa com Bayrad Umbuzeiro é recheada de metáforas e histórias. Como a do projeto de construção de uma marina na entrada do canal do Estuário, ideia que ele agora retoma como opção para incrementar o turismo. “E te digo mais: o projeto não está parado”. 


O livro será lançado pela página do Facebook Santos50anosem5, com verba revertida integralmente a duas entidades: Casa da Esperança e Casa da Criança.


Por que a escolha desse nome para o livro, Santos: 50 anos em 5? O que a escolha do nome tem de relação com o lema do governo de Juscelino Kubitschek?


Olha, eu acho que um dos maiores estadistas deste País foi o Juscelino, então, foi uma feliz coincidência quando o Rodolfo Amaral (que reuniu os dados que constam no livro) me apresentou a ideia de publicar um livro que fizesse remissão aos últimos 50 anos de Santos, tendo algumas possíveis ideias de soluções nos próximos cinco. Então, tem uma coincidência em adotar esse nome, sim, e também com o fato de eu ter trabalhado, há 50 anos, com o Esmeraldo Tarquínio, que era muito mais político que advogado. 


Ainda sobre a relação do seu livro com JK, o governo dele falava sobre um plano de metas, que propunha desenvolver 50 anos de Brasil em cinco. Seu livro faz diferente: analisa os 50 passados e projeta os próximos cinco. O que essa análise de 50 anos passados identifica como possíveis gargalos para o desenvolvimento? E mais: quais seriam as metas para os próximos cinco?


A diferença entre o gestor público e o gestor privado são os patrões. O patrão do gestor público é o povo. Ele é o acionista, é quem vai fiscalizar os atos do gestor. A base de tudo é o planejamento, às vezes até com base em sensibilidade, experiência, feeling. Eu tenho muito disso, sabe. O JK deixou uma obra fantástica, sou fã dele, mas a base de tudo foi o planejamento. Eu sempre pautei minha atividade empresarial com base em análise dos erros passados, os exemplos de concorrentes. Aqui em Santos, temos uma característica interessante: foram poucas as empresas familiares que sobreviveram nos últimos 30, 40 anos nessa área que eu atuo. Então, tudo precisa de planejamento, análise do passado para definir o futuro, e sempre com a possibilidade de, eventualmente, dar marcha-a-ré, corrigir rumos. Eu sou velejador, e já aprendi que a distância mais curta entre dois pontos nem sempre é uma reta. A rota que você escolhe para atingir seus objetivos, às vezes, inclui desvios, retornos, curvas.


O senhor acha que as administrações públicas consideram pouco o que já foi feito em gestões passadas, e acabam "inventando a roda" muitas vezes, cometendo os mesmos erros, gastando tempo e dinheiro desnecessariamente?


Sim, é um problema. Os prefeitos nem sempre têm tempo suficiente para planejar suas administrações. Mas é preciso olhar o passado, sim. Pesquisar o passado é fundamental. Eu não vejo nenhum problema quando um candidato começa a discutir nomes para compor seu secretariado. A formação da equipe é fundamental. Eu vejo isso lá na minha empresa, a Transbrasa. Tenho colaboradores que estão comigo há 15, 20 anos. 


Os pilares da economia de Santos são, basicamente, turismo, serviços, Porto. Nesse estudo que o senhor reúne no livro, há algum outro caminho que pode ser melhor explorado como base econômica forte?


Já inventaram a roda há séculos. Não vou inventá-la novamente, mas melhorá-la.


E qual é a roda?


Além do Porto, o turismo pode ser aprimorado. Há 20 anos, me pediram pra fazer um projeto daquilo que acabou se chamando uma marina, na entrada do canal. Mas minha ideia era propor um waterfront na entrada do canal. Acabamos chamando de marina pra ter uma compreensão melhor do povo. Eu ainda tenho muitas fotos desse projeto, e até hoje sou abordado na rua por gente me perguntando sobre a marina.


Então esse é um projeto que pode ser resgatado para incrementar o turismo.


Sem dúvida alguma.


E o senhor acha que o projeto passaria por todas as questões ambientais sem problemas?


A questão é a seguinte: pau que nasce torto não se endireita. Em 20 anos, nós fomos adequando todo o projeto e vencendo as etapas. Ibama, Marinha ... fizemos uma peregrinação por todos os entes ambientais envolvidos para um projeto dessa envergadura. Todos os possíveis entraves que poderíamos ter foram identificados, o que nos permite saber os caminhos a percorrer. Esse seria um marco pra cidade de Santos, além do Santos Futebol Clube e do Pelé. Santos seria conhecida no resto do mundo por ter um waterfront.


Tudo isso parou?


Eu vou dizer a você que não está parado, não. Mas por enquanto eu não posso dar mais detalhes.


Além do planejamento e de olhar para trás para ver o que já foi feito, o senhor acha que falta também uma integração maior entre gestores da nossa região para efetivar projetos comuns?


Você colocou o dedo na ferida agora. Em 1989 eu era vereador e participei das discussões da Lei Orgânica do Município. Santos sempre foi considerada a capital da Baixada Santista. A única maneira de unificar mais os prefeitos seria eleger um subgovernador, que respondesse pela região, e para quem os prefeitos se reportassem. Você veja a questão do lixo, por exemplo. Por que não temos uma usina de lixo única? Cada prefeito quer cuidar de seu lixo. Por quê? O governador não tem capacidade de poder de troca porque ou os municípios exigem mais do que deveriam, ou o governador faz mau uso do poder político que ele tem de oferecer alguma coisa em troca.


Bayard é defensor da criação de um waterfront no canal do Estuário de Santos
Bayard é defensor da criação de um waterfront no canal do Estuário de Santos   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Depois de analisar, em seu livro, os últimos 50 anos da Cidade, que caminhos o senhor aponta para reduzir a desigualdade social? Ou melhor: o senhor acha que essa é uma questão possível de se resolver ou já faz parte do modo Brasil de ser?


Isso só se resolve politicamente.


Politicamente?


Sim, porque quem elege os representantes do governo são as pessoas. Se a população não tem capacidade de saber diferenciar o joio do trigo ... a população brasileira vive enganada, em todas as esferas.


Mas somente o voto consciente é capaz de resolver essa questão?


A questão é muito complexa mesmo. Hoje, o poder público deixou de ocupar vários espaços, e isso permitiu o desequilíbrio. Cada favela tem um "dono", um "prefeito" pela ausência de estado. O crime organizado ocupou os espaços por absoluta inércia do poder público. Então, a questão da pobreza não é em um ou dois mandatos que se resolve. Isso passou a ser cultural mesmo.


O senhor tem intenção de se candidatar a prefeito este ano?


Eu sou apaixonado pela minha cidade. Quando eu me tornei proprietário da Transbrasa, a primeira coisa que fiz foi trazer todas as atividades da empresa para Santos. Eu adoro política, mas gosto muito mais da minha cidade.


Dito isso ...


Eu estou com quase 80 anos, tenho uma experiência de vida que me dá uma condição bem especial. Já vivi muitas coisas. Então, quando estávamos fazendo esse livro, eu e o Rodolfo, a ideia era deixar um legado com muita informação a todos os candidatos a prefeito.


Mas afinal, será candidato ou não?


Se depender de mim, da minha vontade, eu sou candidato. Eu me entusiasmei com o PSL, fiz campanha forte para o Bolsonaro. Eu sou Bolsonaro. Fui para o PSL, mas depois do racha me decepcionei. Eu já havia sido filiado ao PTB há quatro ou cinco anos, e no minuto final da filiação me filiei novamente. Então, tudo sempre pode mudar, mas a intenção existe, sim. Estamos conversando.


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