Operação Lava Jato terá santista no comando

Thaméa Danelon pretende dar mais atenção às denúncias de desvio de recursos públicos estaduais

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  19/11/18  -  09:40
Thaméa Danelon Valiengo assumiu o comando do núcleo paulista em substituição a Thiago Lacerda Nobre
Thaméa Danelon Valiengo assumiu o comando do núcleo paulista em substituição a Thiago Lacerda Nobre   Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

A procuradora da República Thaméa Danelon Valiengo assumiu o comando do núcleo paulista da Operação Lava Jato. Natural de Santos, ela substitui Thiago Lacerda Nobre, que acumulava o cargo de procurador-chefe do Ministério Público Federal (MPF) com a coordenadoria local da força-tarefa. A mudança ocorre há pouco mais de um ano da criação do braço estadual da ação de combate à corrupção.


A Procuradoria-Geral da República (PGR) autorizou em julho de 2017 a instalação da força-tarefa em São Paulo. Nos últimos meses, o grupo se concentrou em criar estrutura interna à força-tarefa, como remanejar funcionários para ajudar no trabalho dos procuradores. O posto de comando é rotativo. Nobre continua na Lava Jato, na chefia do MPF paulista e à frente da Operação Tritão, que investiga suspeitas de desvios no Porto de Santos.


Em entrevista exclusiva para A Tribuna, Thaméa explica que os desdobramentos das delações premiadas de executivos da Odebrecht foram repassadas para o MPF paulista. “Continuaremos tocando essas investigações, com maior atenção à conclusão dos inquéritos e oferecimento de apoio penais. Vamos nos dedicar bastante em dar andamento para processar quem tiver que ser processado”, afirma.


Obras estaduais


Especializada em crimes financeiros, a procuradora diz que a força-tarefa paulista dará atenção especial às suspeitas de desvios de recursos públicos em obras do Estado, como ao eventual superfaturamento no trecho Norte do Rodoanel e formação de cartel no Metrô paulistano. “É importante averiguar quais (intervenções) tiveram esquema de corrupção e que sejam averiguados os envolvidos para que sejam tomadas as providências”.


O braço de São Paulo da força-tarefa tem 11 procuradores, sendo quatro exclusivos para os casos de corrupção – fazem parte também Anamara Osório Silva e José Roberto Pimenta Oliveira. “Agora, estaremos com dedicação exclusiva apenas para a força-tarefa. Antes, eu acumulava demais funções e investigações do dia a dia. Com isso, podemos nos focar em finalização dos inquéritos judiciais, desmembrados pelo Supremo (Tribunal Federal )”.


Procuradora da República desde 1999, Thaméa fez mestrado em crimes financeiros sob orientação do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ela tomou a frente da campanha pela aprovação do pacote de Dez Medidas Contra a Corrupção, documento produzido pelo Ministério Público. Foi umas principais vozes de oposição às mudanças feitas pelo Congresso durante a tramitação da proposta.


Moro no Ministério


Ela avalia que o futuro governo deve retomar a discussão desse projeto. “O fato do doutor (Sérgio) Moro ter aceito ser ministro da Justiça vai ajudar muito. Ele tem perfil de combate a corrupção e sempre lutou para melhorar o sistema”.


Ela acredita que Moro poderá encaminhar, via presidente, projetos de lei de combate à corrupção. Thaméa lista como fundamental endurecer as penas aos crimes dessa natureza. “Ele também reforçará a atuação da Polícia Federal”.


A procuradora ficou conhecida por participar da operação Boca Livre, que investigou suspeitas fraudes na Lei Rouanet. A denúncia contra os alvos, no entanto, foi oferecida por outra procuradora, Karen Kahn. Na campanha eleitoral, se dedicou nas redes sociais a pedir que os eleitores não votassem em candidatos investigados na força-tarefa.


Entretanto, ela afirma já existir mudança no comportamento daqueles que faziam parte dos esquemas de corrupção. Cita para isso o número de empresários que se oferecem para participar das delações premiadas.


“A força-tarefa começou a mostrar que não só os menos favorecidos que cometerem crimes serão presos, os grandes empresários, políticos e com poderes econômicos também podem ser. Isso é bom porque mostra que corrupção passa a ser um crime de alto risco”.


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