Mulher é chamada de 'vagabunda' por motorista em Santos após filho autista colocar o pé no banco

Anna de Oliveira, de 29 anos, conta que o motorista insinuava que ela e o filho não eram pessoas decentes e a chamou de vagabunda

Por: Carolina Faccioli  -  12/03/21  -  16:11
  Foto: Arquivo Pessoal/Anna de Oliveira

Uma moradora de Santos diz ter sido xingada e desrespeitada por um motorista de aplicativo durante uma corrida que compartilhava com um filho, que possui o transtorno do espectro autista. O caso aconteceu no último dia 3 de março. Em entrevista para A Tribuna, Anna Carolina de Oliveira, de 29 anos, conta que uma dos comentários que mais a revoltou foi quando o motorista disse que "só transportava pessoas decentes", dando a entender que mãe e filho não eram.


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Anna conta que teve que pedir o carro por aplicativo no bairro Jabaquara, onde mora, para levar o filho até uma avaliação na Apae de Santos. Como estava em cima da hora, decidiu que o carro por aplicativo seria a melhor alternativa. Enquanto esperava, foi até um comércio pegar uma garrafa de água e outra de refrigerante para tentar acalmar o filho durante a viagem.


Ela explica que o filho tem um grau severo de autismo e, por isso, não fala, apenas balbucia alguns sons. Porém, a decisão de comprar as bebidas era uma alternativa de distraí-lo durante o caminho.


Ao entrar no veículo com o filho Alexandre Xavier de Abreu Filho, de oito anos, Anna conta que Alexandre sentou com o pé no banco e, quando o motorista viu, falou em tom grosseiro que o garoto era abusado, pois estava com o sapato no banco do veículo. Após ver que o filho ficou acuado, Anna conta que disse ao motorista que ele deveria tratar melhor os passageiros e a resposta que recebeu foi que estava lá pára levar "pessoas decentes".


Por conta da situação, o motorista informou que não ia levá-los e pediu para que deixassem o veículo. "Na hora eu fiquei brava porque eu expliquei primeiro que ele era autista, mas ele não teve uma reação mais amena", diz.


No entanto, a passageira informa que o motorista ainda a xingou de vagabunda após ter descido do veículo. Após a situação, ela procurou o aplicativo para fazer uma reclamação e procurou o Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Condefi).


Apesar da situação, Anna releva que não fará um boletim de ocorrência contra o motorista e acredita que a empresa deverá tomar alguma atitude para que o caso não se repita, pois deseja apenas que o homem tenha mais empatia pelas pessoas com deficiência e que não trate mais nenhum passageiro dessa forma.


Laís Serrão Domingues é Conselheira do Condefi e conta que é preciso que a empresa esclareça se houve punição ao autor da discriminação, pois muitas vezes só aparecem respostas automáticas nos aplicativos. "Infelizmente, casos como o do Alexandre são mais comuns do que imaginamos. É bem frequente vermos casos de discriminação e desrespeito às pessoas com deficiência. Cabe ao Condefi fiscalizar e denunciar todos esses casos", diz.


O que diz a empresa
Em nota, a 99 lamenta profundamente o caso e reitera que comportamentos como esse não são tolerados na plataforma. "Assim que tomamos conhecimento, bloqueamos o motorista e mobilizamos uma equipe especializada para buscar contato com a passageira e oferecer todo o apoio e acolhimento necessários. Nós não compactuamos com qualquer atitude discriminatória, seja contra motoristas, passageiras ou passageiros. No Guia da Comunidade 99, temos uma comunicação clara sobre respeito e gentileza, principalmente no trato de quem precisa de assistência especial. Também investimos em educação para prevenir essas situações, o que inclui uma plataforma de cursos para 100% dos motoristas com foco em diversidade e cidadania. Situações como essa ocorridas durante as viagens intermediadas pela 99 devem ser feitas pelo nosso aplicativo ou pela nossa Central de Segurança no telefone 0800-888-8999. Ao ligar, o usuário receberá informações sobre o que fazer e quais medidas serão tomadas", diz a nota.


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