Mercado Municipal de Santos coleciona problemas

Prédio construído no início do século passado – e redesenhado na década de 1940 – coleciona problemas por anos devido à falta de manutenção

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  30/01/19  -  13:11
Mercado Municipal de Santos coleciona problemas
Mercado Municipal de Santos coleciona problemas   Foto: Rogério Bomfim/Prefeitura de Santos

Outrora centro comercial pujante,o Mercado Municipal agoniza.Os últimos seis permissionários que ainda insistem em se manter no histórico imóvel da Vila Nova contam nos dedos os clientes que se aventuram por ali. O prédio construído no início do século passado – e redesenhado na década de 1940– coleciona problemas por anos devido à falta de manutenção.


O cenário de abandono se assemelha ao do entorno, considerado uma das regiões mais degradadas da Cidade. Embora planos de revitalização do centro de compras da Praça Iguatemy Martins sejam debatidos há quase duas décadas – sem qualquer avanço –, o espaço segue fora dos planos da Administração Municipal. Nem mesmo a eliminação de falhas pontuais, como marcas de umidade nas paredes e buracos no teto, são sanados pelo Poder Público.


“O espaço é bonito, mas mal aproveitado. Está largado à própria sorte”, diz o estudante Edson Vaz, que na manhã da última terça-feira (29) era um dos raros curiosos no local. Neste mês, foi iniciada intervenção para dotar a calçada e o imóvel de acessibilidade – projeto que prevê a eliminação de todos os desníveis ou obstáculos na parte externa e interna do edifício. Contudo,a obra já apresenta falhas na execução, como dois blocos de concreto rachados, no pavimento em frente ao Mercado. “É uma vergonha. A peça de granito ficou mais de 50 anos e nunca teve um problema”, diz o taxista Ricardo Mello Souza.


Sustento


Antes dos hipermercados, o Mercado era o ponto para os santistas comprar em frutas, verduras e legumes. No ápice, os 28 boxes destinados a açougues, empórios, hortifrutigranjeiros, laticínios, peixarias atendiam no atacado e varejo. Os tempos mudaram e o pouco de movimento que ocorre no local se concentra no mezanino, onde são comercializadas antiguidades.


Da venda de frutas, a comerciante Odete Lima tirou o sustento familiar nas últimas cinco décadas.“Está cada vez mais difícil. Não entra uma viva alma aqui. Não faço sequer dez vendas em uma semana.Só se mantém aqui quem fez um pé de meia no passado.Os demais,foram embora”, diz.


Para manter o box ativo, ela paga R$ 250,00 por mês. “O que falta aqui é gente para comprar. Para comprar mercadoria, tive que passar no cartão”.


Ela enumera que nos últimos três anos, ao menos, sete boxes encerraram as atividades. Quem fica, reclama de falta de manutenção e descaso do Poder Público. Odete sustenta existir interessados em alugar um dos 22 espaços livres e destinados à venda de gêneros alimentícios, porém sem sucesso. “(A Prefeitura) diz para esperar a licitação (para locação dos espaços), que nunca sai do papel.Enquanto isso, o Mercado fica às mínguas”.


Sem aniversário


Os raros permissionários garantem que nem mesmo as comemorações pelos 70 anos do local foi lembrado pela Administração santista – celebrado em 27 de novembro. Até mesmo a agenda de eventos culturais, que no passado recente foi responsável pela sobrevida do espaço,é realizada. “A festa da banana não acontece há três anos. Apresentação musical faz muito tempo”, continua Odete.


O abandono é tamanho que a área destinada à venda de pescado está fechada, A ala para comercialização de carnes já começa a receber boxes de antiguidades. Os permissionários afirmam que o baixo número de visitantes explica o porquê da recusa dos comerciantes da Rua do Peixe irem para o local. “Venderiam para quem?”, indaga Odete.


Local pode virar polo de economia criativa


Após vários projetos nos últimos anos, o Mercado Municipal está na mira para virar um centro para geração de trabalho e renda. A Prefeitura avalia transformar o espaço em polo de economia criativa – conjunto de negócios baseados no capital intelectual e cultural dos produtores. Para isso, busca captação de recursos e parcerias para a revitalização do imóvel.


De acordo com a Administração, a Lei de Uso e Ocupação do Solo criou o Núcleo de Intervenção e Diretrizes Estratégicas (NIDE) Distrito Criativo do Mercado. A classificação “dará incentivos fiscais para empreendedores criativos, que é a atividade que mais cresce no mundo”, afirma, por meio de nota.


No prédio anexo ao Mercado já funciona a Vila Criativa, iniciativa pública que oferece cursos de inclusão produtiva.


Mobilidade


Outra melhoria esperada é maior mobilidade urbana no entorno. A Administração solicitou ao Estado que o traçado da segunda fase de expansão do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) passe na porta do Mercado Municipal.


“Com essas e outras ações em desenvolvimento, o objetivo é trazer desenvolvimento ao local e à população que vive no entorno”.


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