Famílias que precisam recorrer à tratamentos alternativos com o uso da cannabis medicinal tiveram um motivo para comemorar. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro e venda de medicamentos à base da maconha. Os pais de Nalu Sanches Gritti, de 2 anos, falam sobre a dificuldade encontrada na região para conseguir o tratamento: “Santos está bem atrás em relação à cannabis”, conta a mãe.
Os problemas de saúde da pequena Nalu apareceram já nas primeiras horas de vida. Ela foi diagnosticada com paralisia cerebral, microcefalia adquirida pela falta de oxigenação e epilepsia refratária. Segundo Nadhusca Silva Sanches, a gestação foi tranquila e o quadro de saúde da filha surpreendeu os pais.
Após o nascimento, a criança apresentou hipoglicemia e entrou em quadro epiléptico, precisando passar 25 dias internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Nós a vimos com monitor encefálico. Tinha monitor do soro, cardíaco, do cérebro. A única parte que conseguíamos tocar era na mãozinha e um pedacinho da perna. Só conseguimos pegar a Nalu no colo quando ela passou dos 18 dias", comenta a mãe.
Com a alta médica, a recém-nascida passou por tratamentos da medicina tradicional. Recebeu anticonvulsivos, fez fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e demais apoios médicos que a ajudassem a desenvolver. Mas o tratamento alopático não foi suficiente.
Aos 7 meses, ela estava tomando cinco medicamentos para tratar convulsões. Nadhusca relata que, ainda assim, a neném teve um quadro epiléptico moderado, que durou cerca de 15 minutos porque a filha estava 'dopada'. A partir daí a família decidiu subir a serra e procurar profissionais de saúde especializados no uso do canabidiol.
Tratamento
A dona de casa revela que na Baixada Santista, apenas uma médica prescreve tratamentos à base da cannabis medicinal, mas somente após todas as alternativas envolvendo remédios convencionais se esgotarem. A família não tinha mais tempo.
“Nós não podíamos perder tempo. Em São Paulo encontramos vários médicos que recomendam o tratamento. Não só neurologistas, como psiquiatras e outros profissionais. Santos está bem atrás em relação a cannabis", afirma a mãe.
A família pediu autorização à Anvisa e a decisão saiu no dia do aniversário de 1 ano da menina. Uma ONG da região Sul ajudou no fornecimento dos primeiros frascos do óleo. Hoje, a família recebe a medicação disponibilizada pelo Governo do Estado de São Paulo. Nadhusca revela que o tratamento não conseguiria ser custeado pelos pais, já que seu marido Felipe Ferreira Gritt é motoboy e cada frasco da medicação custa em média R$ 1 mil.
Nalu faz o uso combinado de dois óleos ricos em tetraidrocanabinol (Thc) e Canabidiol (Cdb). As diferenças foram notadas logo no início do tratamento. Nalu passou a interagir mais e a sofrer menos com dores. Além disso, o apetite da criança também aumentou.
"Antes a Nalu não regulava a temperatura do corpo. Hoje ela tem até chulé rs. Não tinha interação social e hoje brinca e dá até gargalhada. Ela consegue sustentar por mais tempo o tronco e a cabeça. O apetite melhorou, a qualidade do sono também. Ela mudou muito e era um bebê completamente oposto ao que é hoje. São detalhes sutis, mas para nós são muito importantes”, finaliza.