Jovens de Santos que não saem de casa há um ano relatam depressão e ansiedade causada pela pandemia

Mesmo preocupados com a doença física, pessoas que se mantiveram em quarentena durante o período precisam se proteger dos transtornos mentais.

Por: Carlos da Hora  -  23/02/21  -  09:39
Junto da família, Vinícius saiu de casa apenas uma vez durante o período
Junto da família, Vinícius saiu de casa apenas uma vez durante o período   Foto: Arquivo Pessoal/Vinícius Souza

O primeiro caso de Covid-19 foi registrado no Brasil no dia 26 de Fevereiro de 2020. Não demorou muito para que diversas pessoas espalhadas pelo país contraíssem a doença. Na Baixada Santista não foi diferente, e agora próximo de completar um ano da doença circulando em território brasileiro, a região atingiu o número de 100 mil casos de contaminação.


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Ainda sem perspectivas de tempos melhores, algumas pessoas seguem em quarentena rígida, com medo da doença que mata diariamente milhares de pessoas no país. É o caso de dois jovens santistas que estão isolados junto de suas famílias desde o início de março de 2020.


Um deles é Vinícius Souza, de 22 anos. O publicitário, que está em isolamento junto dos pais e mais dois irmãos, conta que o medo de seus familiares - que são do grupo de risco - contraírem a Covid-19 é o principal fator da quarentena 'forçada'.


"Meu pai, minha mãe e meu irmão mais novo são diabéticos. Isso já é um grande motivo para decidirmos nos isolar", diz. Desde a explosão de casos no Brasil, a família de Vinícius saiu de casa apenas para votar, durante as eleições municipais, e realiza grande partes dos afazeres do dia a dia por meio de aplicativos.


Contudo, o grande tempo convivendo 24 horas por dia com as mesmas pessoas acaba gerando alguns problemas. "Tem vezes que nos excedemos, e até o tom de uma frase gera discussão". Ainda assim, o jovem acredita que, pelo tempo elevado de convívio, a situação é melhor do que o esperado.


Vista de uma das janelas da casa de Vinícius
Vista de uma das janelas da casa de Vinícius   Foto: Arquivo Pessoa/Vinícius Souza

Sobre 2020, Vinícius não acredita que foi um ano desperdiçado, mas confessa que o isolamento intensificou alguns problemas relacionados a sua mente, principalmente na questão dos estudos. "Foi muito complicado lidar. Como eu estudava em São Paulo, ficou até mais leve na questão da locomoção, mas quem estuda em casa sabe que é difícil focar e até absorver as coisas que os professores ensinam. Tem muita coisa que desvia a nossa atenção", contou.


Problemas mais sérios


Já para outro morador da cidade, de 20 anos, que preferiu não ter a identidade revelada, a quarentena rígida acabou trazendo algumas crises de ansiedade. "É engraçado, porque esse período trouxe essas crises que até então eu nunca tinha tido. No começo fiquei com bastante medo, mas depois vi que não tinha o que temer e busquei ajuda profissional".


Passando boa parte do tempo com os pais neste período de quase um ano, o jovem começou a adquirir o hábito da leitura em horas vagas. Além disso, a maioria do seu tempo é focada nos estudos.


"Gosto também de jogar e falar com os meus amigos sempre que posso. Sinto que isso é um dos poucos refúgios que tenho no momento para me dispersar um pouco dessa rotina maluca", revela.


Segundo ele, a expectativa é que a vacina chegue para os jovens ainda em 2021. "Espero que chegue o mais rápido possível. Hoje em dia é estranho pensar que poder sair na rua normalmente, sem máscara, é ainda algo distante".


Opinião profissional


Para a psicóloga da USF Suarão, em Itanhaém, Luciana Nakai, a pandemia trouxe muita preocupação com a doença física, o que com certeza é importante, mas a parte mental acabou sendo muito menos focada.


"O isolamento também agravou os casos mentais. As pessoas focam muito na prevenção da doença em si, o que está certo também, a Covid-19 é uma doença gravíssima, mas não podemos limita-la apenas ao corpo", afirmou.


Para ela, a pandemia é uma espécie de 'terapia de choque' para as pessoas olharem mais para si e seus familiares. Sobre a família e amigos, a profissional da saúde afirma que é importante manter contato mesmo distante durante a quarentena.


"A interação social é uma das coisas mais importantes neste atual momento. Temos de manter contato por meio de chamadas de vídeos, telefonemas, o jeito que der para ficarmos próximos das pessoas que gostamos e se sentir menos sozinho".


Ainda assim, a interação social também pode trazer problemas. É o caso das redes sociais, onde algumas pessoas frustradas e chateadas com a situação atual acabam descontando a raiva com ofensas a outros indíviduos.


Luciana ainda ressalta a importância da procura ao auxílio médico caso a pessoa comece enfrentar problemas psicológicos. "É a questão de buscar ajuda quando ver que as coisas não estão mais funcionando", finaliza.


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