GCM de Santos relata que 'filha chorou' ao ver o vídeo em que o pai é humilhado por desembargador

O desembargador chamou o Guarda Civil Municipal de analfabeto, rasgou a multa e jogou o papel no chão

Por: Nathália de Alcantara  -  19/07/20  -  22:57

“Eu me senti humilhado diante dos meus filhos de 10, 15 e 17 anos. Como eu explico o que aconteceu para eles? Sempre tiveram muito orgulho do meu trabalho. A minha menina de 15 anos chorou. É muito difícil para mim saber que eles viram esse vídeo”, desabafa o guarda municipal Cicero Hilário Roza Neto, de 36 anos, que foi chamado de analfabeto pelo desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira, no sábado (18), em Santos. O homem foi multado por não usar máscara enquanto caminhava na praia.


Um vídeo com a ação foi gravado e viralizou nas redes sociais. O desembargador chama o Guarda Civil Municipal (GCM) de analfabeto, rasga a multa e joga o papel no chão. Por fim, conforme mostram as imagens, dá uma carteirada ao telefonar para o secretário de Segurança Pública do município, Sérgio Del Bel, para que intimidasse o Guarda Municipal.


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O GCM Hilário lembra que atuava por volta de 14h40 na orla da praia de Santos quando avistou o desembargador no espelho d’água.


“Eu acenei para ele, que gesticulou fazendo pouco caso. Avisei meu parceiro sobre o que vi, entramos na viatura e fomos até lá. Quando meu amigo viu quem era, me alertou dizendo que já tinha um vídeo com esse homem causando polêmica em outra ocasião, quando meu chefe deu uma multa durante uma autuação por também estar sem máscara. ”, diz Hilário.


Conforme mostra o vídeo, o guarda pede educadamente para o desembargador colocar a máscara. “Nesse mesmo dia, fizemos 13 autuações. As pessoas até reclamam, mas não desrepeitam dessa forma. Eu ainda nem consegui ver o vídeo todo. Não quero ver”.


Cicero Hilário Roza Neto disse que tentou manter a tranquilidade e que não chegaria ao nível do agressor
Cicero Hilário Roza Neto disse que tentou manter a tranquilidade e que não chegaria ao nível do agressor   Foto: Reprodução

Tranquilidade


A calma de Hilário chama a atenção nas imagens. E ele diz que sempre trabalhou dessa forma. “Eu fiquei tranquilo. O que ele estava fazendo não me deu sequer pico de nervoso. Eu não entraria nessa. Não chegaria no mesmo nível que ele”, justifica o GCM.


Sobre se sentir intimidado de cumprir seu papel por se tratar de uma situação polêmica com um desembargador, Hilário disse que nem pensou em hesitar. “Vou sempre cumprir meu papel e pronto. Tenho e teria a mesma atitude com pessoas de diversas classes sociais e vários perfis”.


O guarda explicou ainda que está chateado com o fato do vídeo ter viralizado nas redes sociais. Tanto que familiares de outras cidades estão entrando em contato  para saber o que houve.


“Alguns até criticaram a minha atitude. Mas eu faria a mesma coisa de novo. Se eu pudesse dizer algo para esse desembargador, seria ‘use máscara’. Ele poderia se comportar diferente por conta do grau de instrução que tem. Com tudo o que vemos aqui e em outros países, usar máscara é um ato muito pequeno e que se torna grande demais. É pensar no próximo”.


O desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira foi procurado, mas não se pronunciou até a publicação desta matéria.



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