Elevador que despencou em Santos tinha falhas, afirmam parentes

Equipamento passou por perícia na terça-feira após acidente em prédio da Marinha

Por: Da Redação  -  01/01/20  -  17:55
Área em que ocorreu a queda permaneceu isolado por dias para trabalho da perícia
Área em que ocorreu a queda permaneceu isolado por dias para trabalho da perícia   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Na volta do passeio com a neta Júlia, de 3 anos, o subtenente da Marinha e morador do 9º andar do Edifício Tiffany, na Vila Belmiro, em Santos, recebeu a notícia de que sua mulher, a caixa Jucelina de Souza Goes dos Santos, de 48 anos, estava no elevador que despencou e matou quatro pessoas da mesma família na segunda-feira (30).


Minutos antes do acidente, ele usou o mesmo elevador para descer com a menina, para levá-la a um parquinho do bairro, conta o irmão do subtenente, que prefere não se identificar.


As outras três vítimas são a irmã de Jucelina, a professora Lucineide de Souza Goes, de 43 anos, o marido dela e também professor Edilson Donizete dos Santos, de 45, e o filho do casal, o estudante Eric Miguel Goes dos Santos, de 19. Eles moravam em Santo André (SP) e vieram passar o Réveillon com a família, como de costume.


Depois de chegar do trabalho, numa padaria do bairro, Jucelina se preparou para receber a irmã com a família. Em casa, um de seus três filhos tomava banho e, como o prédio não tem porteiro, ela mesma desceu para abrir a porta para os parentes.


“Eles chegaram ao nono andar, mas o elevador deu um tranco e [após descer] parou no sétimo. Ainda não sabemos o que houve, que daí ele despencou direto”, conta o irmão do suboficial. Outros parentes também não quiseram ter seu nome publicado.


Ele diz que o irmão ouviu, a algumas quadras dali, o barulho da queda do elevador, mas achou que fosse uma bomba. “Quando voltou para casa, viu o filho desesperado na calçada, chorando muito. Foi quando ele soube o que houve".


Perícia foi até o local para emitir laudo e apontar causas do acidente
Perícia foi até o local para emitir laudo e apontar causas do acidente   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Problemas


O prédio é da União e serve de residência para militares da Marinha. A prefeitura informou, por nota, que a Villarta, empresa responsável pela manutenção dos equipamentos, tem documentação regular, alvará de instalação e funcionamento dos aparelhos.


Também apresentou, em 1º de dezembro, o relatório trimestral obrigatório de regularidade, que atesta a responsabilidade técnica de manutenção preventiva. Só que essa informação é contestada pelo irmão do suboficial e por moradores do local.


“A Jucelina comentou semana passada que morreria gente nesse elevador. Disse que usava por morar no último andar. A gente nem podia imaginar que seria ela mesma”, lembra um sobrinho da vítima.


A filha mais nova do casal faz 15 anos neste mês. E a mãe, Jucelina, cuidava de todos os detalhes da festa. “Ela está devastada. É difícil acontecer uma coisa dessa por negligência. Não foi fatalidade, foi uma tragédia anunciada. A Marinha foi procurada para tomar providências, mas disse que não tinha dinheiro”, disse outro irmão do suboficial.


Ele conta que o prédio “estava abandonado” em vários aspectos. Um deles seria a portaria. “Não tinha mais porteiro. Colocaram um menino da faxina hoje [terça], para não ficar feio”.


Uma vizinha disse que só usava as escadas. “Os próprios moradores tinham medo e queriam arrumar por conta própria. Houve mesmo uma vistoria em dezembro, mas o problema não foi resolvido”.


Respostas


Uma perícia seria realizada terça-feira para determinar o motivo da tragédia. A Reportagem esteve na sede da Villarta e foi atendida por um funcionário. Ele explicou que um advogado foi procurado e ninguém se pronunciaria.


Segundo a Capitania dos Portos do Estado, o contrato com a manutenção do elevador foi firmado pelo condomínio e está em dia, mas não é de responsabilidade da Marinha. Também não houve falta de verba que impedisse cuidados no equipamento.


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