Há um ano e meio, o comerciante Miguel Escandon, de 70 anos, recebeu um desafio: consertar uma boneca, trazida por uma mulher e sua neta. Desde então, ele dá vida nova a diferentes tipos de brinquedos em seu comércio, na Rua Riachuelo, no Centro de Santos, em busca de alegrar crianças de todas idades.
O conserto de brinquedos na loja de reparos de equipamentos fotográficos começou pouco antes da pandemia, quando Escadon sentiu uma queda na demanda de serviços. Por meio de pessoas que já o procuraram para questionar sobre o reparo de brinquedos, decidiu trabalhar com as duas coisas.
“Foi um desafio maior do que eu imaginava porque os produtos fabricados hoje são feitos com vida útil muito curta e com dificuldade muito grande de fazê-los funcionar como de origem. Logicamente, porque a indústria precisa renovar os produtos para que eles possam continuar vendendo.”
De lá para cá, o comerciante, também conhecido como Zé Corneteiro, já fez reparos em brinquedos de diversos tipos e países, tanto de crianças quanto de adultos. Um dos mais marcantes, segundo Escandon, foi uma boneca com 80 anos de existência.
“Curiosamente, descobri que, ao consertar brinquedos, notei que estava consertando para 'crianças' de 3 até 90 anos de idade”, brinca.
Escandon também diz que os brinquedos são deixados por avós, pais ou tias de crianças e, muitas vezes, os responsáveis vêm acompanhados delas, para confirmar se o doutor dos brinquedos está em conformidade com aquilo que eles querem ver. Por isso, surgiu a ideia de usar um jaleco durante os atendimentos.
A notícia do negócio também surpreendeu lojas de brinquedos da região. Escandon conta que procurou um comerciante para avisar que estava realizando reparos de brinquedos. Este recebeu a notícia com surpresa, dizendo que não se encontravam mais profissionais assim na Cidade.
“Como é uma área de valores pequenos, acredito que sou um dos poucos que fazem esse trabalho na região, porque a indústria concorre conosco ou algum comércio com produtos bem mais em conta e, com isso, a gente se conforta entre fazer alguma coisa que a pessoa tenha desejo de ser consertada.”
Escandon tem ainda planos mais ambiciosos. Ele sonha com a construção de um museu de brinquedos, para resgatar a criança interior do imaginário santista. “Tenho como ideia fazer o museu no Centro Histórico de Santos, reunindo uma série de coisas interessantes e acho que poderia colaborar com a proposta de revitalizar o Centro.”