Arquiteta de Santos tem TCC premiado ao propor revitalização da Vila Nova

A arquiteta Sumaya Hamad Chaouk fez um trabalho de requalificação do bairro na região central de Santos

Por: Arminda Augusto  -  25/12/22  -  13:25
O projeto prevê o aproveitamento de áreas livres, com integração ao ambiente externo
O projeto prevê o aproveitamento de áreas livres, com integração ao ambiente externo   Foto: Reprodução

“A Vila Nova é o retrato da opulência do passado hoje entregue à própria sorte”. Essa é a frase que encabeça o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da jovem arquiteta Sumaya Hamad Chaouk, que adotou como área de estudo de sua pesquisa o Bairro Vila Nova, na região central de Santos.


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O trabalho, intitulado BCECAP Darcy Ribeiro: Requalificação da quadra sul da Catraia, acaba de ser premiado com menção honrosa em uma das categorias do Prêmio Projetando o Futuro, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU-SP). Sumaya nasceu em São Paulo, mas se mudou para Santos para cursar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unisanta.


A jovem arquiteta adotou a Vila Nova como objeto de seu TCC por entender que o bairro guarda uma riqueza histórica e arquitetônica que foi ficando esquecida ao longo dos anos e, hoje, transformou-se em uma área de grande vulnerabilidade social, com centenas de famílias vivendo em cortiços e sub-habitações. Seu trabalho alia a reocupação dos espaços a partir da criação de oportunidades para requalificar os moradores, por meio de cursos profissionalizantes, e também da oferta de cultura e arte para os jovens e crianças da vizinhança.


“Ao romper os laços com o Centro onde habitou por mais de 300 anos, a elite deslocou também os investimentos e a infraestrutura, deixando para trás seus casarões, seus símbolos e, sobretudo, o descontentamento em compartilhar espaços com os menos favorecidos”, escreve Sumaya em seu projeto.


A Vila Nova é um bairro da região central que ocupa 438 mil m2 e fica no quadrilátero compreendido entre as avenidas São Francisco, Senador Feijó e Campos Sales. Nele estão espaços importantes de Santos como o Mercado Municipal, o sistema de catraias, parque tecnológico e as escolas Avelino da Paz Vieira, Santista e Acácio de Paula Leite (esta, fechada há nove anos).


o que é o BCECAP

Sumaya sugere a criação do que chamou BCECAP, que é uma biblioteca e um centro de capacitação profissional, a ser instalado em uma quadra que fica próxima ao Mercado Municipal, com acessos pela Rua Chile, Avenida Campos Sales e Praça Iguatemi Martins. A quadra tem 22 imóveis que preservam as características originais, necessitando apenas de restauro, e outros seis já bastante descaracterizados arquitetonicamente, o que exigiria retrofit.


O BCECAP requalifica esses imóveis e propõe as intervenções necessárias para transformá-los em biblioteca, salas de aula, anfiteatro, áreas de convivência com café, laboratórios de informática e terraço-jardim com horta comunitária. O projeto prevê o aproveitamento de áreas livres, com integração ao ambiente externo, como as catraias e o cenário do Porto. “Minha preocupação foi aproveitar o que já temos ali no bairro. Não precisamos começar do zero a cada novo projeto”, diz.


Para as salas de aula, Sumaya pesquisou quais aprendizados e áreas profissionalizantes fazem mais sentido para os moradores que ali vivem. Entre eles, sugere alfabetização e cursos rápidos de artesanato, conserto de celulares e de computadores, desenvolvedor de jogos, sites e aplicativos, barbeiro, cabeleireiro, costura moda praia, depilação, manicure/pedicure, maquiagem, auxiliar de cozinha, confeiteiro, garçom, entre outros.


“A BCECAP objetiva suprimir o déficit de bibliotecas na Cidade, bem como o de mão de obra qualificada. Compreendendo ambos equipamentos como fonte de informação, formação e acesso à cultura. A integração é pautada nas similaridades de propósitos bem como a compatibilidade entre os programas de necessidades”, escreve a arquiteta em seu trabalho.


Pesquisando as áreas de maior vulnerabilidade social da Cidade, Sumaya propõe que a unidade na Vila Nova funcione em rede com outras duas, que seriam implantadas no Morro Nova Cintra e na Zona Noroeste.


“A rotatividade de cursos, exposições, mostras, oficinas e palestras tem como objetivo pulverizar o conhecimento e as atividades culturais nas regiões mais carentes”, justifica.


O prêmio recebido por Sumaya é do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU-SP), na categoria Projetos. Cinco trabalhos de final de curso foram premiados de um total de 55 inscritos.


Abismo

A cidade de Edimburgo, na Escócia, possui o melhor índice mundial de distribuição de bibliotecas: uma para cada 1.930 habitantes. Em Santos, há uma biblioteca para cada 54.245 habitantes. Além disso, 2% da população é analfabeta, 8% da população é vulnerável à pobreza e 18,24% das pessoas com 18 anos ou mais não possuem o Ensino Fundamental completo e vivem na informalidade.


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