Restrições no isolamento afetam cotidiano de jovens da Baixada Santista: 'Nem consigo dormir'

A pandemia impacta jovens em relação ao estudo, diversão, relacionamento e trabalho

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  28/02/21  -  17:14
Diego Gonçalves e Gabrielle Muniz relatam dificuldades causadas pela pandemia
Diego Gonçalves e Gabrielle Muniz relatam dificuldades causadas pela pandemia   Foto: Fotos: Reprodução

A travessia entre a adolescência e a vida adulta nem de longe é feita num mar calmo. Carreira, 1º emprego, independência e relacionamentos sempre agitam as águas que separam as duas fases. Mas a pandemia chegou para causar um turbilhão ainda maior na vida de jovens que, numa nova onda da doença, parecem ser os mais impactados pelas restrições do isolamento social. Porém, é com a irreverência da idade e o apoio da família que eles encontram alternativas para enfrentar esta tempestade.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Um baque. É assim que Diego Gonçalves, de 17 anos, morador do Embaré, em Santos, define os acontecimentos de março de 2020 que desencadearam uma mudança profunda no comportamento da população em todo o mundo. “Eu estava indo para o 2º ano do Ensino Médio com uma expectativa muito grande”. Alguns planos foram frustrados, mas o que ele não imaginava era que a situação se estendesse por tanto tempo.


>> Leia a primeira reportagem da série A Pandemia sob o Olhar das Crianças e dos Jovens


Agora, o jovem confessa que tem se sentindo muito preocupado. “Além da questão da saúde, esse é meu ano de prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não sei o que quero fazer. Tudo isso fica martelado na minha cabeça e, às vezes, nem consigo dormir”, conta Diego, que está estudando com aulas no sistema híbrido. 


>> Leia a segunda reportagem da série A Pandemia sob o Olhar das Crianças e dos Jovens


Gabrielle Muniz, 18 anos, do bairro Aparecida, enfrentou toda a pressão do Enem presencial em meio à pandemia, justamente no ano em que completou o Ensino Médio. “Foi a primeira vez que prestei o exame. Além de todo o comprometimento que a prova exige, ainda teve a escola com EaD, então achei bem difícil. Fora o pânico que deu ao entrar numa classe com outros alunos depois de tanto tempo em casa”. 


Mas Gabrielle teve obstáculos ainda maiores a encarar neste período. Pouco antes de eclodir a pandemia, ela perdeu o pai. De uma só vez, a família precisou enfrentar o luto, os impactos da covid e uma crise financeira. O bolso apertou, o irmão foi dispensado, a mãe teve dificuldade para encontrar emprego e o aluguel atrasou. “Foi um período bem difícil, mas conseguimos vencer. Por isso, ficar em casa no começo da pandemia foi bom”.


Efeitos


Porém, depois de quase um ano, a restrição de mobilidade a quem está na fase de expandir horizontes tem seus efeitos. “Parecia que o mundo estava girando e eu fiquei parado”, resume Alec Xavier Altamira, de 18 anos, do Embaré. Ele conta que, no começo, até pareceu interessante ficar em casa, mas logo pesou a pressão de amigos que se cansaram do isolamento e decidiram sair. “Fiquei bem pilhado”. 


O dilema entre ficar em casa ou não causou atrito entre Alec e a família. “Começamos a brigar bastante porque eu já não tinha mais nada para fazer em casa, queria sair e eles não deixavam”. Até para Diego, que no começo fazia textão na internet criticando quem passeava na rua durante a pandemia, começou a ficar difícil. “O tempo foi passando e descobri que ficar em casa é sufocante. Comecei a entender algumas pessoas”. 


Uma conversa franca com a família e uma análise do contexto foi a saída para entender os riscos da pandemia e identificar que alguns passeios poderiam ser feitos com segurança. Diego, por exemplo, encontrou uma alternativa nas caminhadas na praia. “Mas nunca em feriado porque ficava cheio”. Para Alec, essa conversa ajudou muito e trouxe paz e tranquilidade mental em meio a tanta pressão. “Passei a conversar muito mais, principalmente com minha mãe”.


No caso de Esther Pupo de Oliveira, de 17 anos, do Marapé, a decisão de ficar em casa foi imposta pelo medo e angústia de ver as consequências da covid-19 aplacarem a família. “Nós pegamos covid e meu pai ficou alguns dias na UTI”.


A doença, o isolamento, a preocupação com currículo e emprego tiveram impacto no bem-estar mental de Esther e dos jovens em geral. Por isso, eles buscam estratégias para manter a cabeça no lugar. Alec desabafa com a família, enquanto Diego encontrou nos vídeos de meditação guiada a calma para regular o sono. 


Depois que ela e a família venceram a covid-19, Esther diz que as caminhadas com o namorado ajudaram a relaxar. Mas, nem todos conseguem passar a pandemia com um amor e o status de solteiro permanece nas redes sociais. “Até conheci alguém nas redes. Mas aí vem aquele papo: quando tudo tiver bem a gente se vê. Nunca fica bem e a pessoa some”, conta Diego. Prevendo isso, Alec nem começou a paquera. “Já sabia que não iria rolar. Só aumentaria a ansiedade”.


Aprendizado


Entre tantos dilemas e dificuldades, os jovens sabem que muito aprendizado será tirado deste momento. Milena Lira Paganini, de 18 anos e moradora da Ponta da Praia, afirma que se surpreendeu ao ver que, em pleno 2021, muitas pessoas ainda não acreditam na Ciência. 


“São muitas informações falsas, muitas pessoas ignorando fatos. Nunca imaginei que nos dias de hoje veria as pessoas duvidando da Ciência”.


Para Esther, existe a esperança que, do caos no qual o mundo mergulhou, possa emergir uma tomada de consciência. “Olhar para o outro. Acredito que essa situação nos faça pensar mais no coletivo”.


Logo A Tribuna
Newsletter