Professores da Baixada Santista morrem de covid-19 após volta às aulas presenciais

Pelos menos dois óbitos já foram registrados. Nas redes municipais das cidades que têm atividades presenciais, foram confirmados 51 casos da doença.

Por: Tatiane Calixto  -  07/03/21  -  10:00
Pelo menos 2 docentes sucumbiram à doença na última semana, e há 51 infectados em escolas da região
Pelo menos 2 docentes sucumbiram à doença na última semana, e há 51 infectados em escolas da região   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Na última semana, pelo menos dois professores que haviam retornado para as aulas presenciais na Baixada Santista morreram por covid-19: uma da rede particular de Santos e um da rede estadual de Guarujá. Nas redes municipais de cidades que têm atividades presenciais, foram confirmados 51 casos da doença. 


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O número tende a ser maior, pois não há balanço na rede particular e a Secretaria de Educação do Estado afirma que, após quase um mês de volta às aulas, está estruturando a plataforma que dará informações sobre os casos de forma regionalizada. Enquanto isso, a Educação vive o dilema de manter no ensino remoto alunos que ficaram quase um ano longe das salas de aula ou expor a comunidade escolar ao risco de contaminação no pior momento da pandemia. 


Na quinta-feira, uma professora que lecionava no colégio Pixote Evoluir, em Santos, morreu. Ela estava internada desde 13 de fevereiro e trabalhava na escola há dez anos. Na segunda-feira, um professor da Escola Estadual Ignácio Miguel Estefno, em Guarujá, também não resistiu. 


“Receber a notícia foi algo devastador, porque o professor era jovem, sem comorbidade, saudável. A gente acha que quem vai adoecer são sempre os mais vulneráveis. Então, a notícia impactou muito a escola”, conta uma funcionária do colégio onde o professor lecionava.


Na região


Em Santos, a Secretaria de Educação informa que, até quinta-feira, foram registrados 22 casos de covid na rede desde o início do retorno às aulas no modelo híbrido, no dia 8 de fevereiro. Atualmente, monitora 50 casos suspeitos. 


Peruíbe retomou atividades presenciais no dia 22, com sete funcionários de escolas infectados.


Em Guarujá, foram confirmados 22 casos, e 18 estão sendo investigados. Na rede da cidade, as aulas presenciais começaram no último dia 22. 


O secretário de Educação guarujaense, Marcelo Nicolau, afirma que a preservação da saúde de alunos, professores e demais profissionais é uma premissa, “mas não podemos prejudicar ainda mais os alunos em seu processo de ensino e aprendizagem, após um longo período longe da escola, em função da pandemia. Por isso, pedimos que todos reforcem os cuidados também fora da unidade (escolar)”. 


Em Mongaguá, as creches municipais retomaram as atividades em 8 de fevereiro e não há registros de profissionais ou alunos contaminados. Porém, devido à nova fase do Plano São Paulo, o município estuda a suspensão das atividades escolares.


Coronavírus se multiplica nas escolas, diz Apeoesp


Mesmo sem números oficiais do Estado, a coordenadora da Subsede da Apeoesp na Baixada Santista, Tânia Grizzi de Morais, afirma que os casos de covid-19 estão se multiplicando nas escolas. Levantamento da entidade, que representa professores da rede estadual, aponta que, no Estado, registraram-se 1.952 casos em unidades da rede. Na Baixada Santista, seriam 82. 
“Em algumas situações, a direção não afasta professores que tiveram contato com casos suspeitos. Fora que as classes são usadas em três períodos e a sanitização não é adequada”, avalia Tânia. 


“Decretou-se a fase vermelha, mas permitem-se as escolas abertas dentro dessa conjuntura assustadora. A solução é a vacina. Sem ela, temos que manter o isolamento”, diz Walter Alves, presidente do Sindicato dos Professores (Sinpro-Santos), que representa docentes da rede privada, da Educação Infantil ao Ensino Superior. 


Segundo ele, o sindicato procura as unidades. “As aulas presenciais impactam no transporte público, no transporte escolar e em outras atividades do entorno da escola. Precisamos vacinar os professores, mas, enquanto isso não acontece, as aulas precisam ser remotas”. 


Para o médico infectologista e membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia, Evaldo Stanislau, os estudantes foram extremamente prejudicados com a suspensão das aulas presenciais no ano passado. Por isso, ele pondera que no atual cenário, se o lockdown for adotado em uma região, é prudente que as medidas sirvam para todos. Então, devem-se evitar, inclusive, atividades nas escolas. 


“É possível que elas permaneçam abertas desde que se siga com rigor os protocolos. Se a escola e tudo o que gira em torno dela não assegura isso, de fato, a atividade escolar fica prejudicada”, analisa.


Cidades dizem ter cautela; SP junta dados


Todas as cidades que adotaram o ensino híbrido afirmam que estão cumprindo todos os protocolos, orientando as famílias e profissionais e monitorando a situação. 


A Secretaria de Educação do Estado informa que a equipe da Coordenadoria de Informação, Tecnologia e Matrícula da pasta, a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp) e a Comissão Médica da Educação estão mobilizados na elaboração e na homologação dos indicadores de processo e resultados que farão parte de um Painel de Monitoramento. Ele será estruturado para permitir que as escolas possam acompanhar o impacto da pandemia localmente e dar às diretorias de ensino as informações contidas no Sistema de Informação e Monitoramento da Educação. Isso proporcionará dados para subsidiar decisões. 


A secretaria lamentou o óbito do professor da escola Ignácio Miguel e garantiu que segue todos os protocolos definidos por autoridades de saúde e preserva a segurança de professores, servidores e alunos.


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