Médicos cubanos se despedem de Guarujá: "Experiência muito rica"

Profissionais do Mais Médicos iniciam volta para casa após decisão do governo de Cuba

Por: Nathália de Alcantara  -  25/11/18  -  00:36
  Foto: Rogério Soares/A Tribuna

Depois de um ano e dois meses longe do filho Mauro, de 4 anos, e do marido Amauris, a clínica geral cubana Yariuska Fernandes, de 36 anos, finalmente conseguiu trazer os dois para morar em Guarujá, junto a ela, em junho deste ano. Apesar dos sonhos e planos que fez com a família na Pérola do Atlântico, tudo isso foi interrompido depois de Cuba anunciar a saída do programa Mais Médicos, no último dia 14. Em uma semana, ela teve de arrumar as malas e tentar reorganizar, à distância, a vida que terá ao voltar para Guantanamo.


Ela é um dos 29 médicos cubanos que fazem parte do programa em Guarujá, cidade que teve a maior perda de profissionais na Baixada Santista depois do anúncio. E, nesse sábado (24), Yariuska despediu-se não só da cidade onde recomeçou a sua história, mas novamente do filho e do marido.


Eles não conseguiram uma passagem para o mesmo dia que ela e, por isso, o reencontro só será possível em 1º de dezembro, quando os dois embarcam de volta para casa e para os braços dela.


"Fui muito bem acolhida e o lugar é muito bom. Pude discutir e dialogar. Levo comigo uma experiência muito rica. Não contava com essa mudança repentina e foi uma correria para ir embora, mas vou com a sensação de missão cumprida por ter conseguido ajudar as pessoas que precisavam".


Amor a Guarujá


Também foi dia de despedida para o clínico geral Livan Valdivia, de 50 anos. A esposa, Danait, só o verá novamente no próximo dia 3, em Sancti Spíritus, já em Cuba.


Em poucos dias, ele teve de vender tudo o que investiu no apartamento onde morava com a mulher. O dinheiro de itens como ar-condicionado ajudará na viagem. "Tivemos apenas uma semana. É pouco tempo para arrumar tudo. Eu tinha feito um investimento e tive de vender muita coisa. Gosto muito do Brasil, amo o Guarujá. Estava muito feliz aqui, mas agora é olhar para a frente e seguir".


Entre os médicos cubanos, Livan acabou se tornando como que um líder. De um jeito leve e descontraído, era próximo de todos e falava em nome deles. "Não tem nada melhor do que olhar para o paciente e receber carinho, gratidão. Eles destacavam que eu olhava nos olhos deles. Sempre respondi que somos todos iguais. Procurei atender com humanidade, com o coração. É preciso tratar o paciente como gostaríamos que tratassem nossa mãe, nosso pai, nosso filho".


Reposição


A expectativa é de que essa baixa de 29 médicos cubanos seja reposta até o dia 7 de dezembro, segundo promessa do Ministério da Saúde feita à Prefeitura de Guarujá.


"Estamos com uma expectativa muito grande. Vários profissionais já fizeram a opção de trabalhar em Guarujá e entraram em contato conosco para saber informações da cidade e inclusive de onde morar", explicou a diretora de Atenção Básica da Prefeitura, Marion Sanches Lino Botteon, na despedida.


Por enquanto, para manter o atendimento à população, foi feito um remanejamento dos médicos. "São quatro equipes com um médico generalista de saúde da família. Nas unidades de onde saíram esses profissionais, foram repostas pessoas de outros lugares para haver um equilíbrio".


Dos 29 cubanos que fazem parte do programa na Cidade, 26 embarcam de volta para casa neste domingo (25). Desses, 21 se despediram de Guarujá em um ônibus disponibilizado pela Prefeitura. Já outros cinco foram por conta própria. Os três profissionais restantes partirão apenas no dia 10, conforme determinado pelo Ministério da Saúde.


Cada médico ganhou ainda uma lembrança das mãos do prefeito Válter Suman (PSB). Ela é um artesanato feito com areia das praias guarujaenses e guardada em um vidro. "Levem com vocês um pedaço do Guarujá. Muito obrigado por terem não apenas cuidado das pessoas por meio do atendimento, mas também com carinho e atenção", disse o chefe do Executivo.


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