Linchamento de Fabiane de Jesus, em Guarujá, completa cinco anos

A partir de fotos falsas em rede social, moradora de Guarujá foi acusada de sequestrar crianças e espancada até a morte

Por: Egle Cisterna & Da Redação &  -  04/05/19  -  21:14
Familiares e amigos fizeram passeata pedindo Justiça contra os agressores
Familiares e amigos fizeram passeata pedindo Justiça contra os agressores   Foto: Alexssander Ferraz- Arquivo

Há cinco anos, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus foi linchada em Morrinhos, em Guarujá, depois de ter sido confundida por moradores com uma mulher que supostamente estaria sequestrando crianças para rituais de magia negra.


O caso teve repercussão nacional e chamou a atenção para o perigo de boatos e notícias falsas que circulam pela internet. A moradora de Guarujá é considerada a primeira vítima fatal das fake news.


O linchamento ocorreu no dia 3 de maio de 2014, quando várias pessoas agrediram brutalmente a mulher que consideravam ser a mesma que estava em um retrato-falado divulgado em uma rede social. Depois da agressão, ela foi levada ao Hospital Santo Amaro, gravemente ferida, e morreu dois dias depois do ataque.


Imagens do crime feitas por celulares (e que também circularam pela internet) ajudaram a polícia a identificar cinco pessoas que participaram do linchamento. Jair Batista dos Santos, Abel Vieira Batalha Júnior, o Pepê, Carlos Alex Oliveira de Jesus, Valmir Dias Barbosa e Lucas Rogério Fabrício Lopes, o Lagartixa foram condenados por homicídio qualificado e seguem presos.


Justiça feita


A sentença com pena máxima para os cinco participantes do linchamento faz com que Jailton Alves das Neves, de 45 anos, viúvo de Fabiane, tenha um pouco mais de tranquilidade. Ele considera que a Justiça foi feita. “Agora para a gente, só resta tocar a vida para frente”, afirma.


Juntos por 18 anos, o casal teve as filhas Yasmin, hoje com 17 anos, e Esther, de 6 anos. Ele continua morando no mesmo bairro e segue no mesmo trabalho. Evita falar da vida pessoal, só destacando que as filhas estão bem.


Do episódio trágico, ele, que usa pouco as redes sociais, quer que fique de lição para as pessoas o cuidado com as informações.


“Quem usa a internet tem que saber que nada fica escondido e é importante que se pesquise muito antes de se passar coisas para frente. Tudo é passível de punição”, alerta.


O advogado que representa a família de Fabiane, Airton Sinto, prepara agora uma ação contra o Facebook por danos morais. “Ele é totalmente responsável pelo ocorrido. Nos depoimentos à Justiça, os acusados falaram ‘se não estivesse no Facebook, eu não teria matado”, afirma o advogado que representa a família.


Lei branda


Apesar da condenação das pessoas que espancaram Fabiane, juridicamente nada aconteceu com quem espalhou a notícia falsa. A página do Facebook Guarujá Alerta, que publicou o retrato-falado e uma foto de uma suposta sequestradora, saiu do ar um tempo depois da ocorrência.


“Temos muita dificuldade em responsabilizar criminalmente as pessoas”, afirma o advogado.
Em 2014, ele foi procurado pelo deputado federal Ricardo Izar (PSD-SP) e do encontro saiu a redação do Projeto de Lei 7.544/2014, a chamada Lei Fabiane, que pede que a incitação virtual ao crime seja incluído no Código Penal Brasileiro.


Em 2017, o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, que tornou o texto mais brando, e desde então aguarda para entrar da pauta de votações da Câmara dos Deputados. Se for aprovado, segue para o Senado.


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