
O dilema de Roberto Fakhoure começou durante um plantão em um internato (Arquivo pessoal/ Roberto Farkhoure)
Roberto Fakhoure, de 43 anos, estudante de Medicina na Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) - Campus de Guarujá, no litoral de São Paulo, acusa a instituição de ensino de ter falsificado sua assinatura em uma ata de reunião que justificaria sua reprovação em uma disciplina em 2023. A denúncia, segundo ele, é sustentada por uma perícia grafotécnica feita por um especialista particular, que atestou que a assinatura presente no documento não foi feita por ele.
Tudo começou durante um plantão em um internato. Roberto foi reprovado com nota 4,7, abaixo da média mínima de 5, sob a alegação de abandono de posto. Ele contesta a justificativa, afirmando que estava exausto, com sintomas físicos como varizes, após quase 24 horas de atividade, e que usou um leito que a própria faculdade disponibiliza para descanso. “Mesmo com atestado médico cobrindo o período, me reprovaram”, disse.
Após a reprovação, tentou recorrer, mas foi informado de que havia uma ata registrada, assinada por ele, na qual supostamente teria concordado com a decisão. Estranhando a informação, pediu o documento via e-mail, sem resposta. Apenas em 2024 a ata foi enviada — segundo ele, “por engano”. O conteúdo o surpreendeu: incluía pontos que não foram discutidos em uma reunião e trazia uma assinatura supostamente sua. Ele afirma nunca ter assinado tal documento.
Com o documento em mãos, Roberto contratou uma perícia grafotécnica, que concluiu que a assinatura não era de sua autoria. Em fevereiro deste ano, tentou entregar o laudo à coordenação, mas relata que foi desacreditado.
Seu advogado, Michael de Jesus, analisa a situação: “Reprovaram o Roberto não só por ele ter contestado, mas para dar exemplo. A universidade rompeu toda comunicação com ele, nega entrega de documentos originais e ignora qualquer solicitação”.
As condições no internato, segundo o aluno, são precárias. Dormir no chão ou em leitos com lâmpadas penduradas, jornadas de até 24 horas sem local adequado para repouso e sobrecarga de tarefas são comuns.
Agora, às vésperas da formatura da turma, Roberto está impossibilitado de colar grau. Calcula um prejuízo de cerca de R$ 100 mil, entre custos de mais um semestre e o tempo sem poder atuar profissionalmente. “Foi uma injustiça. Tenho uma filha, uma família. Estou parado, sem poder trabalhar, sem entender por que fizeram isso comigo”, desabafa. Ao lado do advogado Michael de Jesus, o aluno pretende denunciar o caso na Justiça.
O que diz a Unoeste?
A Unoeste informou que está apurando as informações apresentadas e, desde já, destaca que não compactua com qualquer prática que viole a ética acadêmica.
Sobre as condições do internato, esclarece que as informações não refletem a realidade do curso e do dia a dia dos estudantes. O curso de Medicina do campus Guarujá possui nota máxima (5) na avaliação do MEC, destaca a instituição de ensino. Ainda segundo ela, o internato é realizado em hospital e unidades de referência na região, e a universidade "preza pelo bem-estar dos estudantes e pela excelência do atendimento à comunidade".