Retorno à escola na Baixada Santista exibe efeitos graves da pandemia

Levantamento nas nove secretarias de Educação mostra que o período de isolamento social ainda afeta o aprendizado

Por: Régis Querino  -  03/07/22  -  15:11
O isolamento social, marcado por aulas e atividades virtuais, continua afetando o aprendizado, mesmo após a retomada do sistema presencial
O isolamento social, marcado por aulas e atividades virtuais, continua afetando o aprendizado, mesmo após a retomada do sistema presencial   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A educação continua sofrendo os impactos causados pela pandemia: é o terceiro ano letivo seguido após a notificação dos primeiros casos de covid-19 no Brasil. Levantamento feito por A Tribuna nas nove secretarias de Educação da Baixada Santista mostra que o período de isolamento social, marcado por aulas e atividades virtuais, continua afetando o aprendizado dos alunos, mesmo após a volta às aulas presenciais no início deste ano.


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Em Bertioga, o cenário se reflete no recesso entre os dias 11 e 18, o menor da Baixada. A Secretaria de Educação informou que o curto período de férias será “em função da necessidade da recomposição das aprendizagens”. A demanda foi constatada após “avaliações diagnósticas para detectar as lacunas curriculares apresentadas pelos alunos no período pós-pandemia”. Além das defasagens cognitivas, a pasta destacou “problemas socioemocionais advindos das perdas e outras situações familiares durante o período pandêmico, que afetaram alunos e professores”.


Na maioria das cidades da região, o recesso escolar acontecerá entre os dias 11 e 22, com as atividades curriculares sendo retomadas após o final de semana seguinte, no dia 25 ou 26.


O secretário interino de Educação de Guarujá, Márcio Reis, diz que um dos maiores desafios do primeiro semestre foi dar novo significado à participação presencial nas atividades escolares. “Com as avaliações diagnósticas, realizadas no início do ano letivo e os periódicos procedimentos de sondagem, feitos bimestralmente, cada unidade escolar identificou as principais dificuldades de aprendizagem dos alunos. São iniciativas que vêm norteando ações de recuperação das aprendizagens, bem como a recomposição delas”.


A importância do acolhimento dos alunos na volta às escolas foi destacada, em nota, pela Secretaria de Educação de Praia Grande. “O retorno às aulas presenciais gerou expectativas, ansiedade e insegurança de como seria esse novo panorama educacional. A prioridade foi estabelecer uma relação de confiança, afetividade e autonomia com os alunos na rotina escolar, promovendo desenvolvimento de habilidades e competências”.


Em Santos
O panorama não é diferente em Santos, onde as férias escolares na rede municipal ocorrerão entre os dias 8 e 19. Episódios de estresse, irritabilidade e tristeza, causados pelo isolamento social, foram relatados pela secretária de Educação, Cristina Barletta.


“O estudante precisa se readaptar ao convívio com os pares, e temos que ter um olhar para isso, para esse cuidar. Não podemos falar em pós-pandemia, ainda estamos em pandemia. Estamos nos empenhando na intenção de mitigar o impacto do ensino remoto no aprendizado dos alunos”, comenta a secretária.


Motivação
Cada cidade lança mão de estratégias para reduzir a defasagem no aprendizado dos alunos na pandemia. Recuperar a motivação — desgastada pelo isolamento social, em que aulas remotas e a falta de convívio com colegas e professores fizeram muitos estudantes estagnar — é um dos desafios das equipes de Educação.


Em Santos, a secretária Cristina Barletta ressalta iniciativas como a presença de um segundo professor nas classes dos ensinos Fundamental 1 e 2. A alfabetização também está entre os principais focos, pois os estudantes praticamente não frequentaram as escolas pessoalmente em 2020 e 2021: o conteúdo foi quase todo ministrado em aulas remotas e materiais on-line e impressos.


“Do primeiro ao terceiro ano, fase de alfabetização, eles perderam o período preparatório, e aluno que não foi alfabetizado vai ter muitos problemas”, aponta a secretária.


Outro obstáculo no primeiro semestre foi o afastamento de professores e alunos, pois os casos de covid-19 voltaram a subir na região.


Outras iniciativas
Em Cubatão, de acordo com o secretário adjunto de Educação, Guilherme Amaral, tem havido recuperação paralela e contínua para alunos com dificuldades na aprendizagem.


Com materiais de apoio pedagógico e um projeto específico, Guarujá mantém, por exemplo, assistentes pedagógicos para alunos do Ensino Fundamental e o uso de jogos de raciocínio lógico. Itanhaém destacou ações como a construção de um currículo com a perspectiva do Município (com as culturas oceânica e caiçara), alfabetização e promoção do diálogo nas escolas.


O programa Decolar, para alunos dos 1º e 2º anos, começará neste semestre em Mongaguá, após avaliações diagnósticas da Diretoria de Educação. O Município também cita um programa estadual de alfabetização e o auxílio na educação financeira, que trabalha habilidades matemáticas.


Em Peruíbe, um ciclo emergencial flexibiliza o currículo escolar até 2023. As escolas estão trabalhando com atendimento personalizado, recuperação contínua e paralela (essa última, com maior procura), acompanhamento e monitoramento do aprendizado.


Conforme a Secretaria de Educação de Praia Grande, “os gestores das unidades escolares têm se esforçado para manter o vínculo com as famílias”. Entre outras iniciativas, os alunos do Infantil I e II com dificuldade de aprendizagem têm reforço escolar duas vezes por semana, e “projetos de leitura trabalhados de forma contextualizada têm sido utilizados para superação dos desafios apresentados”.


Em São Vicente, distribuíram-se 43 mil kits na Educação Infantil, nos ensinos Fundamental I e II e na Educação de Jovens e Adultos (EJA), e os 1,8 mil professores da rede municipal ganharam notebooks.


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