Reflexos da pandemia ainda afetam os professores no Litoral de São Paulo

Municípios oferecem apoio a profissionais que tiveram de se afastar por conta de transtornos psicológicos

Por: Régis Querino  -  25/07/22  -  15:10
Professores têm se afastado do trabalho por problemas de depressão e transtornos psicológicos
Professores têm se afastado do trabalho por problemas de depressão e transtornos psicológicos   Foto: Adobe Stock

Um dos reflexos da pandemia de covid-19 é o aumento no número de casos de depressão e transtornos psicológicos, que vem causando o afastamento de profissionais de diversas áreas no mercado de trabalho.


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Na Educação, o cenário não é diferente. O impacto atinge em cheio os professores que, muitas vezes sobrecarregados em suas atividades, precisam se adaptar às novas ferramentas digitais e ao ensino remoto, além de manter a saúde mental em dia para motivar alunos que perderam a sequência dos estudos com a crise sanitária.


Para tentar traçar um panorama sobre a realidade dos profissionais do ensino na Baixada Santista, A Tribuna pediu informações às nove prefeituras da região, além de entrar em contato com os sindicatos da categoria e o Governo do Estado. Das nove cidades, apenas cinco enviaram os dados solicitados: Bertioga, Guarujá, Praia Grande, Santos e São Vicente, que apontam para uma tendência de aumento no número de professores afastados na rede pública municipal. Cubatão, Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe não responderam aos questionamentos da Reportagem.


O Sindicato dos Professores de Santos e Região (Simpro) e o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) informaram não dispor de estatísticas sobre o assunto, apontando as dificuldades para conseguir esses dados junto aos órgãos oficiais. A Secretaria de Educação do Governo do Estado, por sua vez, limitou-se a enviar uma nota sobre o assunto, sem mencionar números.


Dados e apoio aos profissionais

Segundo a Secretaria de Educação de Bertioga, atualmente há oito docentes do sexo feminino, com idades entre 36 e 66 anos, afastadas por transtorno mental ou comportamental. Em 2021, foram 84 afastamentos, sendo 82 do sexo feminino e dois do masculino. Do total de afastados, 12 tinham entre 31 e 40 anos, 27 entre 41 e 50 anos, 38 entre 51 e 60 anos e sete com idades entre 61 e 70 anos.


Em Guarujá, 79 professores estão afastados por diagnóstico de transtorno mental ou de comportamento. Em 2021, 82 docentes foram afastados de suas funções por esses motivos. Nesse contexto, a Prefeitura ampliou neste ano a oferta de terapias disponibilizadas na Casa do Educador, na Avenida Leomil, 164, no Centro.


Entre outras terapias são oferecidos tratamento de frequência haifi, homeopatia, hipnose, acompanhamento psicológico, florais, shiatsu, acupuntura, naturopatia e tratamentos aos funcionários que contraíram a covid-19, como fisioterapia e técnica de liberação emocional. Para ter acesso, é preciso agendar pelo WhastApp (13) 3386-4378, das 8 às 16 horas. Mais informações nas redes sociais @casa.doedu cadoroficial (Instagram) e Casa do Educador de Guarujá (Facebook).


A Prefeitura de Praia Grande informou que 61 docentes estão afastados por transtornos psicológicos, não sendo possível afirmar de qual natureza. No ano passado, 90 professores foram afastados pelos mesmos problemas. Os profissionais encontram apoio na Seção de Assistência Psicológica e Social ao Servidor, da Secretaria de Gestão, e no Programa de Saúde Mental, que auxilia servidores com transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão.


Santos e São Vicente

Em Santos, segundo a Prefeitura, de um total de 2.965 docentes, 180 estão afastados por transtornos psicológicos. De janeiro a julho de 2022, 310 docentes se afastaram de suas atividades. Em 2021, foram 298 docentes.


A Secretaria de Gestão, por meio da Seção de Apoio Comportamental, da Coordenadoria de Medicina do Trabalho, oferece apoio às escolas municipais quando solicitado e oficinas diárias que orientam e acolhem os servidores acerca dos efeitos da ansiedade, estresse, depressão, luto e problemas relacionados à saúde mental. O Programa de Saúde Mental, na Seção de Perícias Médicas, também acompanha os servidores afastados por problemas psicológicos.


De acordo com a Secretaria de Educação de São Vicente, 164 servidores do quadro do magistério público municipal pediram afastamento por licenças psiquiátricas em 2021. Já em 2022, foram 144. Os professores e demais servidores conveniados dispõem de atendimentos psicológicos e psiquiátricos na Caixa de Saúde e Pecúlio dos Servidores Municipais, que fica na Rua Frei Gaspar, 157, no Centro. O telefone é (13) 3569-5357.


Falta de dados oficiais

O presidente do Sindicato dos Professores de Santos e Região (Simpro), Walter Alves, diz que, como os afastamentos não são notificados e a entidade não tem acesso aos dados do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), é impossível ter o número de docentes afastados do trabalho. O sindicato abrange 24 cidades da Baixada Santista e Vale do Ribeira, onde atuam cerca de 7 mil professores, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior.


“Até 15 dias, o professor é afastado sem prejuízo, pois o período é pago pela empresa. Mas, após 15 dias, o trâmite é bem complicado. Muitas vezes, com problemas que afetam psicologicamente o profissional, que dificilmente tem laudos de afastamento e o INSS nem prorroga o prazo. Os professores, temendo demissão após a licença, evitam buscar tratamento, diante da intransigência e da falta de sensibilidade dos patrões”, afirma Alves.


O dirigente acredita que a situação na rede particular de ensino é pior do que na rede pública, onde há estabilidade no trabalho, já que os docentes são concursados. Em reuniões de professores, segundo Alves, é comum ouvir relatos sobre as dificuldades enfrentadas no dia a dia da profissão, principalmente após o retorno às aulas presenciais. “Eles falam sobre as dificuldades com os alunos, que também tiveram que se readaptar à rotina, após a volta às salas de aula. Independentemente da pandemia, os professores já enfrentavam dificuldades que atingem a saúde do profissional”.


Apeoesp

A diretora estadual do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Sônia Maciel, diz que a falta de professores nas escolas da rede estadual é uma realidade por diferentes razões, entre elas problemas de depressão, transtornos psicológicos, assédio moral e excesso de trabalho. Ela também reclama sobre a ausência de dados sobre o número de profissionais afastados do trabalho.


“Solicitamos os dados ao Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), que entrou com o pedido com base na Lei de Acesso à Informação, mas o Governo do Estado não quer dar essas informações”, diz Sônia Maciel. O Dieese deve ir à Justiça para conseguir as informações.


Governo do Estado

A Tribuna pediu à Secretaria de Educação de São Paulo informações sobre o número de professores afastados por depressão e transtornos psicológicos na rede estadual da Baixada Santista em 2021 e 2022, mas o órgão informou que não tinha os dados categorizados pela causa da licença. Foi requisitado, então, o número total de afastamentos de docentes na região, mas o órgão não respondeu, enviando a nota abaixo:



“A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo informa que existe estabilidade entre os números de afastamento do período solicitado, alcançando menos de 1% do total de professores em exercício. Esse levantamento contempla afastamentos independentemente da causa.


A pasta disponibiliza o Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar - Conviva SP para acolhimento de docentes e estudantes da rede. A iniciativa realiza a interlocução local e oferta ações direcionadas aos docentes para auxiliá-los a superar diversas situações, garantindo total amparo e resguardo no seu retorno às atividades”.


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