População idosa da Baixada Santista crescerá 87% até 2050

Dados da Fundação Seade indicam que faixa etária maior de 60 anos saltará de 296 mil para 555 mil pessoas

Por: Arminda Augusto  -  27/06/21  -  11:54
Atualizado em 27/06/21 - 12:59
     Dados da Fundação Seade indicam que, até 2050, faixa etária maior de 60 anos saltará de 296 mil para 555 mil pessoas na região.
Dados da Fundação Seade indicam que, até 2050, faixa etária maior de 60 anos saltará de 296 mil para 555 mil pessoas na região.   Foto: Matheus Tagé

Nos próximos 30 anos, a Baixada Santista viverá um processo gradual de envelhecimento de sua população, com crescimento acentuado das faixas etárias a partir dos 60 anos, e decréscimo do público mais jovem, a partir dos 18.


Atualmente, os nove municípios da região somam 1.831.884 pessoas, das quais 296.765 com mais de 60 anos (16,25%). Pelas projeções demográficas, em 2050 a população será de 2.035.090 pessoas, sendo 555.579 acima de 60 anos (27,3%). Em outras palavras: a população total vai crescer 11%, e a de idosos maiores de 60 anos, 87%.


Os dados são da Fundação Seade, um portal de estatísticas do Estado de São Paulo, que se debruça sobre tendências demográficas, sociais e econômicas para projetar o perfil das regiões do Estado década por década. Se forem consideradas as mulheres e homens com mais de 55 anos, o índice salta para 34,1% da população em 2050. Atualmente, essa faixa representa 21,9%.


Jovens a menos


A análise dos dados disponibilizados pela Fundação Seade em seu sitetambém permite observar a curva descendente das faixas etárias mais jovens (veja gráfico).


Atualmente, jovens entre 20 e 34 anos representam 35% da população, ou seja, 641.159 pessoas. Em 2050, essa mesma faixa etária ocupará 18,5% do total de habitantes, ou 376.491 homens e mulheres. Ao contrário da faixa etária mais velha, entre os jovens o decréscimo será de 41,2%.


Análise mais detalhada dos gráficos fornecidos pela Fundação Seade permite observar um decréscimo acentuado das faixas etárias mais novas, a partir do nascimento. Hoje, crianças de 0 a 4 anos representam 6,7% do total de habitantes. Em 2050, os bebês ocuparão apenas 4,9%. Em números absolutos, sairá de 122.736 para 99.719 (queda de 18,7%).


  Foto: Mônica Sobral/AT

Fatores


Para o economista Luiz Gustavo de Araújo, a mudança demográfica é reflexo de vários fatores. “Por um lado, os avanços da medicina diagnóstica e o acesso aos tratamentos; por outro, a opção das famílias em ter menos filhos, ou mesmo não os ter, como já vem acontecendo com vários casais”, diz. Gustavo pondera que a disponibilidade de dados permite aos municípios fazer seus planejamentos. “E também dá indicativos de novos serviços e produtos a serem criados”.


Desafios


Marcia Novelli, professora de Terapia Ocupacional da Unifesp-Baixada Santista e especialista em Geriatria e Gerontologia, descreve Santos como uma cidade adequada para os idosos, por ser plana e dispor de vários serviços focados nessa faixa etária. Para ela, o desafio maior está na convivência urbana, no preconceito que ainda existe contra o idoso.


“Ainda existe uma espécie de bullying, de olhar preconceituoso para eles, e isso precisa mudar”.


Marcia Novelli critica a inclusão da “velhice” como doença pela Organização Mundial de Saúde. O termo foi incluído na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), e vem provocando forte reação de setores ligados ao envelhecimento. “É a demonstração maior de preconceito e retrocesso”, diz Marcia.


Cidade para todos


Nelson Lima, arquiteto e professor universitário, pondera que os dados demográficos “cutucam os urbanista” a pensar nas cidades adaptadas para os mais velhos. “Estamos falando de edifícios e espaços de convivência onde eles se sintam acolhidos”.


Outra preocupação de Nelson Lima é quanto aos idosos que vivem na periferia e em cortiços. “Se vai aumentar a população mais velha, também haverá mais gente vivendo em locais inadequados e insalubres. Se esses lugares já são impróprios para os mais novos, para os idosos é ainda pior. É preciso ter um olhar especial para essa questão”.


Medicina preventiva


O biomédico Carlos Eduardo Pires de Campos, doutorando em Saúde Pública e CEO da Clínica Cellula Mater, diz que a medicina preventiva tem sido adotada pelos idosos e, por isso, a longevidade pode ser constatada.


“Hoje não enxergamos essa faixa etária como antes. Em minha atividade diária, percebo que meus pacientes são os que mais se cuidam, que mais praticam a medicina preventiva. Além de se cuidarem, incentivam toda família a fazer o mesmo”.


‘Diálogos da Maturidade’, novo ciclo de A Tribuna


As questões do envelhecimento, da saúde ao mercado de trabalho, passando pela vida sexual e afetiva, estarão no centro dos debates em mais um ciclo preparado pelo Grupo Tribuna, todos feitos de forma virtual em razão das restrições que ainda existem para eventos presenciais.


O primeiro encontro será realizado na próxima quarta-feira, dia 30, a partir das 18 horas, e o tema será A revolução da longevidade, com o médico, consultor e referência em envelhecimento Alexandre Kalache.


Dia 7 de julho, o tema será o mercado de trabalho para pessoas 50+, com Morris Litvak, CEO e fundador da Maturi, uma plataforma de empregos para as faixas etárias mais altas, e Priscilla Araújo, gerente de RH da Neo, consultoria focada na transformação digital das empresas.


Moda, beleza e autoestima é o tema do encontro do dia 14, com a blogueira Cláudia Grande, criadora do Projeto 60Mais. Dia 28 de julho, os médicos Alberto Macedo Soares, geriatra, e Marcos Vasconcelos Pais, psiquiatra, falam sobre saúde mental, demências e transtornos de humor em idosos. Vida sexual e sentimental é o foco do debate do dia 4 de agosto, com Ana Carolina Costa, psicoterapeuta, e Dorli Kamkhagi, doutora em psicologia clínica. Ambas são do Hospital das Clínicas/FMUSP.


Diálogos da Maturidade termina dia 10 de agosto, com bate-papo e show virtual do cantor Zé Alexandre, vencedor do The Voice Mais deste ano, da Rede Globo.


Os encontros não precisam de inscrição prévia e podem ser acompanhados pelo site do jornal. A iniciativa tem o apoio do Instituto Educacional, Artístico e Científico (Ideac), e do Divertidosos, plataforma de entretenimento focada no público mais velho.


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