Setenta toneladas em 15 anos. Esse é o saldo do lixo recolhido em quase duas centenas de ações voluntárias organizadas pelo Instituto EcoFaxina nos manguezais e praias da região. A entidade sem fins lucrativos completa 15 anos em outubro, e tem entre as suas metas combater o descarte irregular de lixo que acaba chegando aos oceanos, especialmente o plástico.
Entre as estratégias da entidade estão a educação ambiental e a conscientização da comunidade sobre o ciclo do lixo e o que é preciso fazer para que não chegue aos ecossistemas naturais.
“Muitas pessoas que vivem na região não conhecem os manguezais ou têm uma ideia equivocada sobre eles. Conhecer e entender sua relevância é ajudar a protegê-los”, diz William Rodriguez Schepis, diretor-presidente do instituto, que largou a vida na Capital, onde trabalhava com tecnologia, para fazer Biologia Marinha em Santos.
Em 2008, criou o EcoFaxina e, desde então, vem desenvolvendo uma série de ações que combinam educação, ações voluntárias com a comunidade e projetos para políticas públicas e geração de renda para as comunidades que vivem nas palafitas.
Ação voluntária
De tempos em tempos, o EcoFaxina abre inscrições para ações voluntárias nos manguezais da região ou na faixa de areia. O objetivo sempre é recolher os detritos, pesá-los e catalogá-los, ações que ajudam a dimensionar a quantidade e também o tipo de material que chega a esses ecossistemas.
Nos manguezais, a origem é das palafitas e comunidades próximas aos rios, onde a coleta domiciliar é mais precária de ser feita e, em geral, o lixo é jogado na maré.
Na última ação realizada no mangue do São Manoel, no Rio São Jorge, em Santos, foram recolhidos 406 quilos de resíduos, a maioria plásticos, mas havia também isopor, madeira, metais, vidros, garrafas PET e até eletroeletrônicos, móveis, brinquedos e tecidos. Esses materiais chegam constantemente aos manguezais trazidos pela maré.
Contenção e renda
William Schepis defende que, além das ações de conscientização, é preciso criar projetos efetivos e mais perenes. “Não podemos apenas ficar recolhendo o lixo dos mangues. É preciso evitar que ele chegue aqui”, diz.
Uma das iniciativas do EcoFaxina é criar uma cooperativa de reciclagem, envolvendo os próprios moradores das palafitas, para que eles tenham renda e façam a gestão desse trabalho.
“Envolver e trazer outros parceiros nessa iniciativa é a melhor maneira de ver o resultado na ponta da linha, ou seja, evitando a presença de lixo nos mangues e nas praias”, defende o biólogo.
A área para a instalação da cooperativa já está definida, assim como os recursos para a compra de maquinários e outras estruturas, mas ainda falta a regularização fundiária do terreno. “O mais difícil nós já temos, que é o caminho aberto com a iniciativa privada para custear as despesas iniciais. Agora, é regularizar a área e começar a trabalhar”.
Para que o lixo jogado na maré não chegue aos manguezais, a proposta do EcoFaxina é instalar quatro ecobarreiras em trechos do canal do estuário. Ali, os materiais seriam represados e recolhidos para a cooperativa periodicamente.
Exemplos
Fábio Nunes, diretor de Educação Ambiental do instituto, diz que o litoral brasileiro tem exemplos de manguezais preservados, que podem servir de modelo para a região.
“A 100 qulômetros estamos na Estação Ecológica da Jureia, com seis unidades de conservação, e no Litoral Sul tem manguezais intactos, preservados. A presença humana no litoral do Brasil determinou quais são as áreas de preservação e quais são as áreas que nos desafiam. Com a ajuda de todos os setores, podemos encontrar os caminhos e as sinergias”.