Falta de recursos preocupa empresa que recicla lixo eletrônico em Santos

Supervisor operacional do Projeto Lixo Eletrônico, da Fundação Settaport, diz estar preocupado com quantidade de materiais acumulados

Por: Marcela Ferreira & De A Tribuna On-line &  -  01/04/19  -  17:15
Lixo eletrônico se acumula no galpão da Fundação Settaport, esperando reciclagem
Lixo eletrônico se acumula no galpão da Fundação Settaport, esperando reciclagem   Foto: Marcela Ferreira/AT

Você já se perguntou para onde vão as televisões de tubo, os computadores com telas enormes e os celulares antigos? O recolhimento de materiais eletrônicos como estes deve ser realizado por serviços especializados, uma vez que os componentes de eletrônicos são altamente tóxicos para o meio ambiente, caso descartados junto com o lixo comum. A reciclagem é a principal alternativa para aumentar a vida útil do lixo eletrônico. Peças antigas podem formar novos computadores ou televisões funcionais, por exemplo.


A Secretaria de Meio Ambiente (Semam) de Santos realiza coleta de materiais eletrônicos em Ecopontos espalhados pela cidade. Entretanto, é à Fundação Settaport que a prefeitura delega o título de referência para reciclagem de resíduos eletrônicos. Em 2017, Semam e Fundação fizeram dois mutirões para sensibilizar a população e recolher esse tipo de material. Em 2018, outros dois mutirões, o último deles com duração de quatro semanas, foram realizados ao longo dos meses de novembro e dezembro, em quatro pontos da cidade.


Atualmente, a situação na Fundação Settaport é crítica. O supervisor operacional do projeto lixo eletrônico da Fundação Settaport, Francisco Antonio Nogueira da Silva, conta que a Fundação passa por um momento difícil devido à falta de recursos. Atualmente, as TVs de tubo, peças de computadores, geladeiras e máquinas de lavar roupa se acumulam, representando a maioria dos materiais no galpão onde é feita a reciclagem.


Francisco sonha em criar um museu de artefatos eletrônicos que possa ser aberto para visitação para expor os materiais que estão armazenados no galpão
Francisco sonha em criar um museu de artefatos eletrônicos que possa ser aberto para visitação para expor os materiais que estão armazenados no galpão   Foto: Marcela Ferreira/AT

Na Fundação Settaport, 100% do material coletado é reciclado, nada fica para trás. Segundo Francisco, a reciclagem dos aparelhos eletrônicos é feita após a separação por tipo de material: ferro, plástico, materiais finos, entre outros. “Na triagem, separamos o material que vai ser reciclado e o que vai ser reaproveitado”, diz. Normalmente, a sucata de ferro é transformada e volta para a área produtiva. Já o plástico é destinado a outra instituição, que o recicla.


Técnicos reciclam televisões, computadores, entre outros, e comercializam eletrônicos no bazar
Técnicos reciclam televisões, computadores, entre outros, e comercializam eletrônicos no bazar   Foto: Marcela Ferreira/AT

O Projeto Lixo Eletrônico foi criado em 2011 pela Fundação Settaport e tem como objetivo receber todo tipo de material eletrônico para que o descarte correto seja feito. Os profissionais que executam este trabalho foram capacitados pela USP e hoje são responsáveis pela maior parte da reciclagem deste tipo de material na Baixada Santista.


Colocando em números, a Fundação reciclou, só neste ano, o equivalente a 45 toneladas de lixo eletrônico. “Em 2019, de janeiro a março, já agendamos 800 retiradas. Já no ano de 2018 retiramos 203 toneladas de lixo eletrônico”, conta o supervisor. “O descarte incorreto de lixo eletrônico pode causar danos ambientais e danos à saúde. Como esse lixo é composto por tóxicos, ele pode contaminar o solo e as águas, além de trazer sérios riscos para nós”, completa Francisco, que se preocupa com a conscientização sobre o assunto.


Bazar


Periodicamente, a Fundação Settaport realiza bazares para revenda de eletro-eletrônicos reformados em seu galpão com preços mais acessíveis. O supervisor do Projeto Lixo Eletrônico conta que o lucro obtido com esse bazar é o que tem ajudado a dar continuidade ao projeto.


Computadores feitos a partir de material reciclado são doados a instituições de ensino de Santos
Computadores feitos a partir de material reciclado são doados a instituições de ensino de Santos   Foto: Fotos: Marcela Ferreira/AT

Além de irem para o bazar, os computadores são doados a escolas da região. Funcionando perfeitamente, os computadores são montados a partir de peças de outras máquinas que foram coletadas. Depois de montados, recebem programação de um sistema operacional, softwares, e são entregues às crianças.


Recursos


Segundo a Fundação Settaport, o Centro de Reciclagem de Lixo Eletrônico é mantido com recursos vindo de origens diferentes. Por meio de nota da assessoria, foi esclarecido como o projeto é financiado:


O Centro de Reciclagem de Lixo Eletrônico é mantido com recursos vindos de origens diferentes: Do nosso mantenedor principal, o Sindicato Settaport. Temos dois patrocinadores, a Praticagem do Estado de São Paulo e a Zenith Consultores Marítimos. Da renda proveniente do Bazar Mensal de Eletrônicos; e da venda de sucata coletada.


Até 2017, uma grande empresa patrocinava o programa, mas agora, por decisão da diretoria, só investe em projetos e programas que possuem incentivos fiscais. Hoje, no Brasil, apenas os relativos ao esporte e cultura possuem esse benefício (Lei Rouanet, Leis Federal do Esporte, Proac, Promifae).


O Sindicato Settaport arca com grande parte do custo desse programa e, por estar enfrentando dificuldades devido a nova legislação trabalhista, precisamos, urgentemente, de novos parceiros para que não tenhamos de diminuir nosso potencial de trabalho ou, até mesmo, encerrar essa prestação de serviço essencial para nossa cidade e toda a região.


Neste ano, pela primeira vez, fomos contemplados com uma emenda parlamentar, através da Câmara de Santos, que nos apoiará por cinco meses, com previsão de desembolso para o segundo semestre, que nos dará um fôlego maior até o final do ano.


No site da Fundação, temos o nosso "Portal da Transparência". Lá constam nossos últimos balancetes financeiros a disposição para consulta, lembrando que somos fiscalizados e prestamos contas, anualmente, (financeira e de atividades) ao Ministério Público Estadual, nosso órgão fiscalizador. Para 2020, continuamos nessa imensa luta.


Baixada Santista


Na cidade de Praia Grande, a coleta de lixo eletrônico é realizada pela Secretaria de Serviços Urbanos (Sesurb), que realiza a coleta de materiais recicláveis em 15 ecopontos pela cidade. No entanto, a prefeitura informa que, no momento, não há um programa específico voltado para esse tipo de resíduo.


Após o resíduo eletrônico ser coletado nos ecopontos de Praia Grande, o material é encaminhado para a Associação ACAMAR e para a Cooperativa COOPERVIDA. Nesses lugares, os materiais são devidamente triados e comercializados pelas instituições.


Bazar de eletrônicos reciclados atrai público pelos preços mais acessíveis
Bazar de eletrônicos reciclados atrai público pelos preços mais acessíveis   Foto: Rogério Bomfim/Prefeitura de Santos

Procuradas pela redação de A Tribuna Online, as cidades de Guarujá e São Vicente não se manifestaram sobre a coleta e reciclagem de lixo eletrônico nos municípios.


A Fundação Settaport realiza o bazar periodicamente na sede do projeto, que fica na Av. Conselheiro Nébias, 85, no Paquetá, em Santos. Além disso, também realiza coleta de lixo eletrônico à domicílio, com agendamento feito pelo telefone (13) 3221-2546.


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