Especialistas dão dicas de como manter a saúde do bolso durante a pandemia

Com demissões, cortes salariais e outras consequências do coronavírus, será preciso frear compras por impulso e valorizar cada centavo

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  18/05/20  -  16:01
A lei que criou o auxílio emergencial veda o recebimento por quem já ganha o seguro-desemprego
A lei que criou o auxílio emergencial veda o recebimento por quem já ganha o seguro-desemprego   Foto: Imagem ilustrativa/Agência Brasil

A saúde do bolso também vem sofrendo com a pandemia do novo coronavírus. Para muitos especialistas, o brasileiro terá um comportamento diferente ao lidar com suas finanças daqui para frente. A tendência será valorizar cada centavo, reduzindo compras por impulso e o amor por crediário e financiamentos.


“Um dos ensinamentos é a imprevisibilidade. O brasileiro percebeu que, de um momento para outro, a renda pode ser reduzida drasticamente. Por isso, acredito que dará mais valor ao dinheiro, porque a sobrevivência depende de gastar menos do que se tem de renda”, avalia o economista Hamilton Marques.


Ver a economia parar por meses diante de um inimigo invisível devido à necessidade de isolamento social era algo impensável para qualquer um. Evidentemente, haverá consequências para o setor produtivo, emprego, renda e consumo, afirma o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro Oliveira.


“Quando você tem uma crise, as pessoas são obrigadas a mudar. É a velha história do aprender na dor. No primeiro momento, há esse choque, e a crise é tão violenta que deixará marcas. Não há como não mudar. É questão de sobrevivência”.


Perspectiva


A expectativa é de queda no Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 5% neste ano, avalia Oliveira. Com empresas de diversos segmentos fechadas, sem ideia de quanto poderão reabrir as portas e revisar faturamento, e trabalhadores vendo renda e empregos indo ladeira abaixo, o cenário levará ao desemprego e a uma profunda recessão por um período de tempo ainda difícil de estimar. 


“É certo que as famílias terão que adequar a forma como administram seus rendimentos e suas despesas”, diz o coordenador de Ciências Contábeis e Administração da Universidade Anhanguera de Jacareí, Diogo Rosa.


Essa mudança vai levá-las a repensar gastos e valorizar o dinheiro que têm na carteira, fazendo emergir consumidores mais conscientes, aposta o especialista. “As pessoas irão rever se alguns gastos supérfluos realmente são necessários, mesmo após o fim da crise”.


Planejamento


Reinventar gastos e replanejar o orçamento são prioridades em tempos de isolamento social. Para o administrador financeiro Márcio Colmenero, essa cartilha deve ser mantida assim que a pandemia der trégua, para sair do caos.


“Tem que fazer anotações, uma planilha. Saber onde gasta o dinheiro. O momento é de repensar. Sempre há algo a cortar. O sacrifício será a base de tudo. Nunca enfrentamos uma situação parecida e, infelizmente, teremos que atravessar essa tormenta nos próximos meses”.


Mudar a chave também será uma tendência, analisa o consultor financeiro e professor da Fiap, Marcos Crivelaro. Afinal, juntar dinheiro primeiro para depois partir ao consumo nunca foi o perfil do brasileiro – um fiel usuário de todas as formas de financiamento inventadas pelo mercado. 


“Primeiro, se adquire um bem para depois pagá-lo: sempre foi essa a maneira de o brasileiro comprar, mostrando que não tem o hábito de poupar. Agora, pego de calças curtas e da noite para o dia, foi obrigado a fazer mais com menos”.


Crise econômica pode ter efeito devastador


Os efeitos da pandemia sobre a economia global devem ser devastadores, avalia o economista Hamilton Marques. Essa já é considerada a crise mais grave da história, depois da recessão da década de 1930 e do choque do petróleo em 1973.


O Brasil passou por outros solavancos, como na década de 1980, com a hiperinflação e a dívida externa, e o confisco da poupança no Governo Collor, em 1990. 


“O País ainda não saiu da crise que se arrasta desde 2014, cujo ápice da redução do PIB aconteceu no segundo trimestre de 2016, em que a contração foi de 4,6%, e já enfrenta um novo drama”.


Tudo isso acentua o quadro, diz o especialista. “Teremos mais recessão devido à conjunção com os efeitos de uma economia com um crescimento anêmico em 2019, de apenas 1,1%”. 


Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, divulgado no início deste mês, a queda no PIB deve ser de 3,76%. Para 2021, há sinalização de crescimento de 3,2%. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetam retração em torno de 5% no PIB.


“Para se ter uma noção da gravidade da situação, a Cepal, que é um órgão técnico da ONU para a América Latina, informa que, na Primeira Guerra Mundial, a contração do PIB foi de 4,9%. Na depressão de 1930, ficou em 5%. Neste ano, pode ser de 5,3%. É a maior crise da história”.


Rota de Planejamento


O ideal é que cada pessoa, dentro da sua realidade financeira, crie três fundos:


1) Emergência: O recomendado é juntar oito meses da renda líquida e aplicar em algo como poupança, onde o dinheiro pode ser resgatado de forma rápida.


2) Realização de sonho: Neste caso, há várias alternativas em renda fixa. “Eu prefiro um prazo de até cinco anos, investindo pouco dinheiro. O Tesouro Selic 2025 pode ser uma opção”, afirma o economista Hamilton Marques. Por exemplo, uma pessoa que planeje viajar daqui a uns cinco anos e, hoje, tenha para investir uma entrada de R$ 2 mil e R$ 200,00 por mês. De acordo com projeções feitas com parâmetros atuais do Tesouro Direto, em 1º de março de 2025, o montante será de R$ 15.067,56. Na poupança, ficaria em R$ 14.851,77. A simulação pode ser feita no site do Tesouro Direto.


3) Aposentadoria: Manter um investimento para o futuro é outro item apontado pelos especialistas. A tendência, no momento, é apostar em segurança, com investimentos em renda fixa. A Bolsa de Valores pode ser uma opção avaliada. Mas, claro, é necessária muita cautela para não perder todo o dinheiro, ainda mais nesse momento. Se tiver interesse, invista pequena parte de suas reservas. É preciso, ainda, diferenciar especulação de investimento, avisa Hamilton Marques. Tenha um pedacinho de uma boa empresa. Compre, aos poucos, papéis de boas pagadoras de dividendos, e reinvista na aquisição de mais papéis, formando uma carteira diversificada e rentável para a aposentadoria.


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