Custo do tratamento do coronavírus varia até 450% nas cidades da Baixada Santista

Levantamento do TCE-SP indica Mongaguá como a cidade local com maior valor por caso confirmado; Cubatão tem menor valor entre as nove cidades

Por: Eduardo Brandão  -  03/09/20  -  11:00
Santos já conta com 518 leitos para tratamento de Covid-19
Santos já conta com 518 leitos para tratamento de Covid-19   Foto: Marcelo Martins/PMS

Otratamentodepacientes com teste confirmadode Covid-19tem uma variação de até450% entre as cidades da Baixada Santista.Mongaguá é a cidade com mais elevado custoper capita(por pessoa) da região: cada um dos 331 casos confirmados no município teve empenho deR$ 16.103,92. Já Cubatão aparece como a localidade com mais baixo valorregional: R$ 2.982,11 porinfectado.


Osnúmerosforam apuradospor ATribuna.com.br, a partir de cruzamentos de informações do‘Painel COVID-19’, doTribunal de Contas do Estado de São Paulo(TCE-SP). Os dados são relativosaos balanços realizados até o dia 31 de julho(o período mais atual e fechado pelo órgão do legislativo paulista), com os municípios paulistas (exceto a Capital).


Conforme os dados do TCE-SP, as cidades do litoral Sul têm o maior custo per capita da região. A liderança de Mongaguáé seguida de perto porItanhaém (R$ 15.523,86) e Peruíbe (R$ 11.892,46). Bertiogaocupa a quinta colocação regional, com custo médio de R$ 7.852,03 por cada pessoa com teste positivo para a doença. Os quatro municípios têm menos de 100 mil habitantes.


Entre as cidades mais populosas da Baixada Santista, Guarujá é a que tem o custo mais elevado. Segundo dados do TCE-SP, cada um dos 6.150 pacientes com o novocoronavírus, naquele recorte, custou R$ 9.900,27.


Santos aparece na sequência, tendo custo per capita de R$ 7.205,24. Trata-se deum desvio de 141% em relação à marca mais baixa da região. Conforme economistas e especialistas em gestão pública ouvidos pela reportagem, os dados santistas podem estar subdimensionados, já que a cidade abriga a maioria dos serviços médicos de referências na regiçao e absorver parte dos pacientes das demais cidades da Baixada Santista.


São Vicente (R$ 5.265,08)e Praia Grande (R$ 5.223,69) encerram a lista regional. Os números locais, contudo, estão acima do aferido em Campinas, que é a cidade mais populosa do Interior. Naquela cidade, por exemplo, o custo per capita foi de R$ 4.311,22. Em Registro, no Vale do Ribeiro, esse cálculo era de R$ 2.291,80 por cada pacientes de Covid-19.


Contudo, a média do custo de tratamento nas cidades centrais da Baixada Santista está abaixo do verificado em Franca, no Norte do Estado, no qual cada paciente custou R$ 9.032,94 dos cofres públicos.


Conforme o levantamento do TCE-SP, juntos, os municípios paulistas empenharam em julho R$ 2,21 bilhões em recursos para o enfrentamento da Covid-19. O valor é 29,62% superior ao montante registrado no mês anterior.


Prefeituras


Em nota, Mongaguá destaca que “entende que não mediu esforços para ofertarà população equipamentos de qualidade e funcionais, como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que foi especialmente remodelada para receber os pacientes com suspeitas deCovid, além de ter estrutura para internação dos casos que necessitem”.


Peruíbediz que o número “reflete a realidade dos números das demais cidades do litoral sul”, que registram valores semelhantes. Contudo, osecretário municipal de Administração, Fábio Marques, avalia que não há qualidade analítica neste indicador. “Ele reflete apenas uma dimensão quantitativa de valor gasto. Não mede, por exemplo, o custo do tratamento, nem quanto foi investido em bens de capital, EPI (equipamentos de proteção individual) ou em ativos perenes”.


Itanhaémafirma ter optado "por austeridade nos gastos públicos (3,37% da receita municipal) e investiu com transparência as contratações emergenciais”. Diz ainda intensificar aplicação de testes na população, “o que reduzirá o valor gasto por casos confirmados”.


Praia Grande afirmausar “planejamento e muita responsabilidade na hora de destinar os recursos necessários do orçamento para minimizar os efeitos da pandemia na Cidade e salvar vidas”. Informa que a administração tem “otimizado os investimentos, gastando rigorosamente o necessário para o enfrentamento do problema e esse trabalho tem garantido que o índice de cura de pacientes com covid-19 na Cidade chegue a mais de 92%, o melhor indicador da região”.


Guarujá informa ser “uma das cidades do Estado que mais tem investido em testagens e em ações e serviços de enfrentamento ao novocoronavírus, inclusive com medidas instaladas antes mesmo do início da pandemia no Município, como a criação, em fevereiro deste ano, do Plano de Assistência ao Paciente com Sintomatologia Respiratória”.


Santos destaca que "os comparativos de investimentos entre as diferentes cidades do estado de São Paulo devem levar em conta mais aspectos além dos valores financeiros". Em nota, a administração informa que a cidade é "pólo regional na área da Saúde e realiza atendimentos para seus munícipes e também para moradores das outras oito cidades da Baixada Santista"


Atualmente, 55% das internações nos leitos sob gestão municipal são para santistas e 45% para moradores das demais cidades, destaca o poder público santista. "Desta forma, a divisão de gastos por caso confirmado da doença não reflete a realidade local, porque os recursos aplicados pelo município também são destinados para pacientes que não estão entre os casos confirmados, os quais se referem apenas a moradores de Santos"


No painel do TCE, é indicado que Santos realizou no mês de julho 90.202 testes, quatro vezes mais do que a segunda cidade da região com mais testes: Guarujá (22.750 testes).


Cubatão afirma seguir aas recomendações do TCE-SPna realização de gastos. São Vicente destaca que o custo por paciente no período foi obtido pelo de cálculo do valor investido na contratação dos Hospitais de Campanha e paciente em internação. As demais cidades não se posicionaram até o fechamento dessa reportagem.


Levantamento do TCE-SP


Bertioga


Gastos com COVID-19 -R$ 9,25 mi


Receita total arrecadada -R$ 267,80 mi


R$ 7.852,03 por caso confirmado


As despesas representam 3,45% da receita do município*


Cubatão


Gastos com COVID-19 -R$ 17,21 mi


Receita total arrecadada -R$ 604,00 mi


R$ 2.982,11 por caso confirmado


As despesas representam 2,85% da receita do município*


Guarujá


Gastos com COVID-19 -R$ 60,89 mi


Receita total arrecadada -R$ 909,87 mi


R$ 9.900,27 por caso confirmado


As despesas representam 6,69% da receita do município*


Itanhaém


Gastos com COVID-19 -R$ 8,41 mi


Receita total arrecadada -R$ 249,87 mi


R$ 15.523,86 por caso confirmado


As despesas representam 3,37% da receita do município*


Mongaguá


Gastos com COVID-19 -R$ 5,33 mi


Receita total arrecadada -R$ 147,17 mi


R$ 16.103,92 por caso confirmado


As despesas representam 3,62% da receita do município*


Peruíbe


Gastos com COVID-19-R$ 5,36 mi


Receita total arrecadada-R$ 166,14 mi


R$ 11.892,46 por caso confirmado


As despesas representam 3,23% da receita do município*


Praia Grande


Gastos com COVID-19-R$ 30,59 mi


Receita total arrecadada-R$ 927,05 mi


R$ 5.233,69 por caso confirmado


As despesas representam 3,3% da receita do município*


Santos


Gastos com COVID-19-R$ 109,27 mi


Receita total arrecadada-R$ 1,83 bi


R$ 7.205,24 por caso confirmado


As despesas representam 5,97% da receita do município*


São Vicente


Gastos com COVID-19-R$ 23,73 mi


Receita total arrecadada-R$ 564,72 mi


R$ 5.265,08 por caso confirmado


As despesas representam 4,2% da receita do município*


* Em relação à margem de investimentos das prefeituras, já retirando verbas carimbadas (25% na Educação e 15% na Saúde) e folha de pagamento do funcionalismo público.


Fonte: Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP)


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