Guarás retomam ninhadas na Baixada Santista

Pássaros de plumagem vermelha chegaram a ser considerados extintos na região

Por: Júnior Batista & Da Redação &  -  08/12/19  -  10:00
  Foto: ( Carlos Nogueira/AT)

De plumagem vermelha, os guarás, que chegaram a ser considerados extintos na Baixada Santista, retomam suas ninhadas na região, após dez anos de ausência. O ponto escolhido por eles foi a Ilha Pompeba, em São Vicente, às margens do Rio Santana e o Mar Pequeno.


O retorno é um indicativo de que as condições de vegetação estão melhores nos mangues, de acordo com Robson Silva e Silva, biólogo que estuda há mais de 25 anos a espécie. Ele é autor do livro Guarás Vermelhos no Brasil: As Cores Vibrantes da Preservação, que é o resultado de suas pesquisas na área.


“Isso tudo significa que as condições estão preservadas. Os guarás se reproduzem em nossa região e, além disso, notamos que eles estão ficando mais tempo em Santos, Cubatão e São Vicente”, explica o biólogo, ressaltando que, mesmo após os últimos avanços, a ave segue ameaçada de extinção no Litoral Paulista.


Antes da descoberta na Ilha Pompeba, o último local de reprodução e ninhada observado no Litoral Paulista foi Ilha Comprida, no Vale do Ribeira. Os pássaros – também conhecidos como íbis-escarlate, guará-rubro e guará-pitanga – só eram vistos por aqui para se alimentar nos mangues, reduto dos caranguejos, sua principal fonte de alimentação.


Eles voavam mais de 200 km para se alimentar e reproduzir, segundo o biólogo. E é nessa época do ano que eles podem ser mais vistos pela região, já que é época de reprodução. O período vai até março, quando a sanilidade diminui e os caranguejos se tornam mais “atrativos” ao paladar da ave.


É também agora que sua coloração fica mais viva, já que o vermelho das penas tem relação direta com a alimentação. Caranguejos e também camarões, que são a base da dieta da ave, têm no corpo um caratnóide (substância química) chamada cantaxantina, um pigmento vermelho. Ao comer os crustáceos, suas cores ficam mais vibrantes.


Sua coloração vai mudando conforme seu crescimento
Sua coloração vai mudando conforme seu crescimento   Foto: ( Carlos Nogueira/AT)

Evolução


Os guarás-vermelhos eram alvo, principalmente, dos índios por conta de suas penas, que eram retiradas para fazer mantos. Somente as penas retas é que serviam para este fim. Estima-se que eram necessárias mais de 100 penas para a criação de um único manto.


Presentes no litoral brasileiro também no Piauí e em Santa Catarina, elas quase ficaram extintas na década de 1970 em terras catarinenses. Só que, em paralelo a isso, o crescimento de Cubatão ajudou a tornar a Baixada Santista uma espécie de viveiro natural dessa e de outras aves, com destaque até na América do Sul.


A maior prova disso é que, em 1996, Silva e outro pesquisador, Fábio Olmos, catalogaram 146 espécies de aves em 50 km2 de manguezais cubatenses. Na época, o número foi bem superior às 50 espécies encontradas no Pantanal mato-grossense, que possui uma área 2,8 mil vezes maior que aqui.


A descaracterização dos mangues por conta do processo de industrialização de Cubatão, na década de 1950, fez com que os manguezais tivessem um boom de moluscos e crustáceos. Eles foram empurrados para bancos de lama na Cidade. A farta alimentação trouxe as aves de outros pontos do País para cá.


“No entanto, logo depois, em 1998, houve muitos atiradores em ninhais, fazendo que as aves se dispersassem”, conta Silva.


Em 2013, as aves voltaram a ser vistas na região da Usiminas, em Cubatão, mas os ninhos só eram feitos em Ilha Comprida. “Além disso, as fezes do animal acabam prejudicando a vegetação do manguezal e fazendo eles mudarem seu local de reprodução”.


Ninho em manguezal é feito com outras aves, como a garça
Ninho em manguezal é feito com outras aves, como a garça   Foto: ( Carlos Nogueira/AT)

Em grupo


Os ninhados dos guarás também são importantes para ajudar a preservar outras espécies de aves. Isso porque elas fazem seus ninhos em grupo, diferentemente da maioria das outras espécies. Na Ilha Pompeba, também estão se reproduzindo socós-caranguejeiros, savacus e as garças azuis e brancas.


Vida dos Guarás


Os pássaros vivem, em média, 30 anos. Alguns catalogados pelo biólogo já completaram 25 anos de vida. Em cada ciclo de reprodução, eles colocam cerca de três ovos, que chocam em cerca de 23 dias.


Quando nascem, eles possuem coloração escura. Quando jovens, ficam mesclados e, adultos, tornam-se mais rubros. Na fase de reprodução, ficam mais vermelhos. Se criados em cativeiro, os guarás não se tornam tão avermelhados, ficam com uma coloração mais rosada, devido à alimentação.


Há passeios para o público, que podem ser feitos a partir de marinas às margens do Rio. Eles custam, em média, R$ 30,00 por pessoa e duram cerca de uma hora. Os barcos vão até os locais para serem observados. para agendar, o telefone é (13) 99122-6407. falar com daniel ravanelli.


Guará-vermelho, socó-caranguejeiro e garça azul
Guará-vermelho, socó-caranguejeiro e garça azul   Foto: ( Carlos Nogueira/AT)

Logo A Tribuna
Newsletter