Corrida por nova vacina contra a Covid-19 mobiliza institutos

Brasil integra luta contra a pandemia do novo coronavírus

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  06/04/20  -  00:08

Em meio à corrida da comunidade científica mundial em busca de vacinas contra a Covid-19, institutos brasileiros avançam nas pesquisas para tentar reduzir a curva da pandemia. A Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lideram os trabalhos nacionais e estão perto de realizar os primeiros testes de uma medicação que possa ser eficaz contra o novo coronavírus. 


Os resultados iniciais animam os pesquisadores, já que a estratégia tem mostrado resposta imunológica aos casos de síndrome respiratória aguda grave. Ainda assim, as previsões mais otimistas dos especialistas para a fabricação em larga escala de vacinas do tipo não são inferiores a 18 meses.


Rigor nos testes


O infectologista do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP e diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, Evaldo Stanislau, explica que o desenvolvimento de um novo medicamento obedece a rigorosas fases de testes – de animais a pequenos grupos de humanos e amostragens mais amplas.


Ele afirma que o rigor é para verificar se as medicações não apresentam riscos, efeitos colaterais e se são eficazes no combate da doença. “São etapas lentas, que exigem segurança e, claro, custam muito dinheiro”, aponta.


As duas instituições brasileiras fazem parte de uma aliança global de laboratórios para encontrar uma vacina contra a doença. Os pesquisadores do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) e da Faculdade de Medicina da USP utilizam a tecnologia de mensageiro do ácido ribonucleico (mRNA). 


A técnica consiste na inserção de moléculas sintéticas no mRNA, que transfere um código genético “limpo” ao DNA do vírus. A intenção é que o sistema imunológico reconheça as proteínas artificiais para combater o coronavírus. 


Ensaio clínico


Na semana passada, a Fiocruz anunciou coordenar, no Brasil, o ensaio clínico Solidariedade (Solidarity), da Organização Mundial da Saúde (OMS). A iniciativa científica tem como objetivo investigar a eficácia de quatro tratamentos à pandemia.


“Atuamos junto ao Ministério da Saúde e à OMS para fazer parte dessa pesquisa multicêntrica de estudos clínicos voltados para definição das melhores terapêuticas”, resume a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.


Segundo ela, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Manguinhos/Fiocruz) será capaz de produzir rapidamente os medicamentos “que o estudo clínico apontar como os mais adequados” ao tratamento da pandemia. A pesquisa será apenas com pacientes hospitalizados e com quadro grave.


Estudo adiantado


O Instituto René Rachou, unidade da Fiocruz em Minas Gerais, está com estudo adiantado em busca de uma possível vacina contra a Covid-19. À frente do projeto, o pesquisador Alexandre Machado explica que a medicação parte dos estudos para uma droga de combate à influenza (H1N1) e à pneumonia bacteriana.


“Os resultados em camundongos mostram um aumento da sobrevida e redução das bactérias. O que nos leva a crer que possa ser eficiente ao novo conoravírus”. O trabalho dos mineiros é realizado em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.


Largo alcance


Segundo a OMS, mais de 200 medicamentos antivirais estão sendo testados para o enfrentamento da pandemia. Propagada por presidentes como o brasileiro Jair Bolsonaro e o norte-americano Donald Trump, a cloroquina (usada no tratamento de malária) é o mais conhecido de todos.


Organizações de saúde, contudo, criticam conclusões prematuras sobre a eficácia da substância. “Não se recomenda o uso para todos. Esse remédio é reservado para casos mais graves e em um contexto de ensaio clínico”, diz o infectologista Evaldo Stanislau.


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