“Há algo de ameaçador num silêncio muito prolongado”.Proferida pelo dramaturgo grego Sófocles no século 4 antes de Cristo, a expressão indica que a crise nacional do PSL, um misto de disputa por poder político e dinheiro, já reflete nos diretórios locais do partido.
Nem todos os altos representantes regionais da sigla do presidente Jair Bolsonaro falam sobre a instabilidade na cúpula da agremiação – que pode atrapalhar planos para a corrida às prefeituras no próximo ano.
O racha na legenda ganhou capítulos na terça-feira, com a operação da Polícia Federal em endereços ligados ao presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE). Apura-se um suposto esquema de candidaturas femininas fictícias (laranjas) no ano passado, com o fim de desviar dinheiro do fundo eleitoral. Bivar nega.
A ação aumentou o desgaste entre os aliados do pernambucano e os de Bolsonaro. “Parte desse cenário tenso foi gerado pela ala mais radical, xiita, do PSL. A maioria (da legenda) continuará atuando no sentido de auxiliar no desenvolvimento do Brasil”, afirma o deputado federal Júnior Bozzella, pré-candidato do PSL a prefeito de Santos.
“As questões internas entre o PSL e o presidente Jair Bolsonaro serão resolvidas da melhor forma possível”, diz, por nota, o coordenador regional da sigla, deputado estadual Matheus Coimbra Martins de Aguiar, o Tenente Coimbra, segundo o qual o partido pretende lançar nomes ao Executivo nas nove cidades. A presidente do PSL em Santos, Cláudia Sartori, e o vice, William Claudio Oliveira dos Santos, não se manifestaram.
Corrida eleitoral
Os problemas, porém, se agravaram entre quarta e ontem: Bolsonaro trabalhou pela destituição do deputado federal Waldir Soares de Oliveira, o Delegado Waldir (GO), da liderança do PSL na Câmara, pois este apoia Bivar. Indicou o filho, o parlamentar Eduardo Bolsonaro (SP). Mas, após um vaivém de listas e assinaturas, Waldir foi mantido (veja destaque).
Como consequência, o presidente retirou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do Governo no Congresso – ela assinou uma lista de apoio à manutenção do goiano na liderança do partido.
Ao canal Globo News, Joice declarou que “minha alforria chegou. Estava cansada de fazer discursos para consertar as trapalhadas desse governo”. O novo líder é o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).
Nas cidades
Tudo isso e o risco de que Jair Bolsonaro deixe o PSL são vistos, nos bastidores, como elementos ruins à imagem da sigla, que pregava honestidade e “nova política”.
“Mesmo que uma eleição municipal tenha outra dinâmica, a indicação de um presidente da República (a um candidato) tem peso”, comenta o cientista político Alcindo Gonçalves. Ele também avalia que o desgaste do presidente perante a opinião pública tende a interferir.
Ao menos seis partidos, existentes ou em formação, querem Bolsonaro. Mas ficaria no PSL o dinheiro dos fundos Partidário e Eleitoral – mais de R$ 730 milhões previstos para 2020.