Ambulante tem produtos e marmita jogados no chão por guardas no litoral de SP: 'Humilhante'; VÍDEO

Jovem de 19 anos calcula prejuízo de R$ 800,00

Por: Bruno Almeida  -  26/10/21  -  07:23
 Mandiocas e outros produtos de André foram parar no chão durante abordagem
Mandiocas e outros produtos de André foram parar no chão durante abordagem   Foto: Arquivo pessoal

Um jovem de 19 anos relata ter sido humilhado por guardas civis municipais (GCM) de Bertioga durante uma abordagem e calcula um prejuízo de R$ 800,00 após os agentes jogarem no chão as mercadorias que ele venderia nas ruas. No carrinho do ambulante André Luiz Campos Ferraz havia mandiocas, quiabos, milho, e outros produtos que foram apreendidos pelos GCMs. O jovem admite não ter licença para atuar, mas reclama de falta de diálogo e se diz "humilhado".


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Em entrevista para A Tribuna nesta segunda-feira (25), Ferraz conta que a máquina de cartão, uma balança e uma faca utilizada nas vendas foram parar no asfalto. A cadeira usada pelo ambulante também foi virada no episódio ocorrido no sábado (23), por volta das 11h. De acordo com o jovem, cinco ou seis agentes participaram da ação na Avenida Anchieta, no bairro Vista Linda.


"Os fiscais estavam me observando do outro lado da rua. Eu entrei na padaria para comprar um marmitex e almoçar. Eu saí e sentei na cadeira. Estava começando a comer e apareceram duas viaturas da Guarda Municipal. Desceram já colocando a mão na mercadoria, falando que eu 'perdi'. Jogaram o marmitex, viraram a cadeira, e minha comida ficou no chão. Muito constrangedor passar por essa situação".


O jovem alega não saber que trabalhava irregularmente. No entanto, ele diz que os agentes poderiam mandá-lo embora ou explicar como é o processo para se obter uma licença, o que segundo ele não ocorreu. "Foi muito humilhante a situação, eu estava trabalhando. A gente discutiu, eles saíram e o lixo ficou no chão. Me deixaram lá de mãos abanando".


Segundo André, ele havia vendido o equivalente a R$ 50,00 naquele dia. "Do total que eu tinha vendido, eu separei um pouco para almoçar. Vendi R$ 50,00 e paguei R$ 25,00 no marmitex e no refrigerante". De acordo com o ambulante, o prejuízo com o episódio é de R$ 800,00, já que os produtos foram apreendidos.


Morador de Mogi das Cruzes (SP), o jovem havia ido até Bertioga para trabalhar. "Saí de casa às 6h da manhã. Até arrumar tudo, comecei a vender umas 10h. Em Bertioga, há uma oportunidade muito boa, porque não consegui emprego em Mogi. Eu trabalho para ajudar em casa, e como está muito difícil conseguir emprego, achei esse trabalho. Assim, não fico em casa parado".


 Antes de ter produtos jogados no chão, jovem vendia em avenida de Bertioga
Antes de ter produtos jogados no chão, jovem vendia em avenida de Bertioga   Foto: Arquivo pessoal

Sem ter como voltar para a residência e com fome, ele percorreu as ruas de Bertioga pedindo dinheiro para comprar uma passagem para retornar à cidade onde vive com o pai e a mãe, e almoçar. Com o que sobrou, ele comprou outra marmita.


"Hoje (segunda-feira), estou em Mogi tentando arrumar dinheiro para pagar parte da mercadoria que perdi e conseguir recuperar meu crédito com o rapaz que repassa os produtos", diz André, que obtém as mercadorias com um atravessador. "Eu pego as mercadorias no meu nome e fico de pagar depois que eu subir a Serra, vendendo ou não".


Amigo de André, o também ambulante José Vitor Francisco Ferreira presenciou e registrou em vídeo a cena em Bertioga. "Não é fácil. Só para chegar lá é um gasto, pois pagamos frete. Aí vamos na esperança de voltar com nosso lucro. Porém, para quem vende nas ruas, às vezes é 'um dia pelo outro'. Passar por isso é horrível. É humilhante ser tratado como lixo. Em um feriado, no mesmo lugar que meu amigo estava, me tomaram tudo e tive R$ 900,00 de prejuízo. Falei para eles irem atrás de ladrão, mas não adiantou".



Outro lado
A Tribuna questionou a Prefeitura de Bertioga, responsável pela fiscalização. A Diretoria de Abastecimento e Comércio confirmou a abordagem ao vendedor e classificou a atividade do ambulante como clandestina, já que ele não possuía licença específica.


Segundo a nota, ele já havia sido orientado em outra ocasião sobre a necessidade do documento para exercer a atividade e que, caso haja reincidência ou não atendimento à solicitação, seria efetuada a apreensão das mercadorias. A Guarda Civil Municipal foi acionada para garantir a integridade física dos profissionais que atuavam na abordagem, já que, segundo a Administração Municipal, o ambulante estaria exaltado.


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