Adiamento das eleições municipais interfere em estratégias, dizem especialistas

Para especialistas, não se trata apenas de simples mudança de datas, isso mexe com as estratégias e chances de candidatos

Por: Matheus Müller  -  04/07/20  -  00:19
Eleições municipais e poder econômico, uma equação que não fecha
Eleições municipais e poder econômico, uma equação que não fecha   Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil

As eleições municipais foram oficialmente adiadas na manhã desta quinta-feira (2), após promulgação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), na Câmara dos Deputados. O pleito passou de 4 e 25 de outubro para 15 e 29 de novembro. Para especialistas, não se trata apenas de simples mudança de datas, isso mexe com as estratégias e chances de candidatos. 


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A complexidade das análises sobre o cenário eleitoral em ano de pandemia do coronavírus, que implica na maior exposição dos atuais governantes e na dificuldade das campanhas corpo a corpo devido ao isolamento, são observadas nas diferentes opiniões dos especialistas ouvidos pela Reportagem. 


Para o advogado e professor universitário, Leandro Matsumota, a prorrogação do prazo das eleições beneficia candidatos novos, de oposição. Segundo eles, os atuais governantes estão voltados às questões da pandemia, em como enfrentar os problemas de saúde e econômicos com a retomada do comércio. 


"Para quem está no governo ficaria mais simples se a eleição fosse em outubro, pois as pessoas não vão sair muito à rua (nesse período), ainda nessa quarentena. Isso facilita para quem está na administração", diz. 


Matsumota ressalta que os candidatos de oposição ganharam tempo para reuniões, planejamentos e campanhas junto à população. 


Contraponto


Apesar de concordar que mais tempo é positivo para que a oposição se apresente aos eleitores, o cientista político Marcelo Di Giuseppe aponta que, ainda assim, estes terão pouco tempo para o processo de terem o nome conhecido e reconhecido pelo público. Afora o fato do isolamento e cuidados com o contato prejudicarem a campanha corpo a corpo. 


"A minha teoria é que devemos voltar ao mesmo patamar de 8 anos atrás, sobre candidaturas de reeleição terem mais vantagens. Chegamos a ter em média 70% dos candidatos em reeleição ou da situação vencendo. Acontece que isso (índices) vinham caindo, chegando a 50%". 


Di Giuseppe justifica sua posição com base em avaliações dos atuais governos junto aos eleitores. O resultado, segundo ele, foi positivo para a situação, muito por conta das ações e exposição durante a pandemia. 


"Acredito que juntou a histeria da população com medo (da doença) que, de repente, vê aquele gestor público querendo resolver a situação dele, ajudar em relação a saúde. (O eleitor) começou a ter bons olhos para o prefeito, que também passou a fazer muita live".


PEC


Durante a manhã de ontem, na promulgação da PEC, os comemoram a rápida ação para o adiamento e ressaltaram que a nova data vai permitir maior participação popular em todas as fases do calendário eleitoral sem descuidar do avanço coronavírus.


De acordo com o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Roberto Barroso, que participou da cerimônia, o adiamento das eleições é uma medida emergencial. "Só estamos precisando adiar as eleições em razão de uma pandemia que, só no Brasil, já levou mais de 60 mil vidas", disse. 


Barroso reforçou que a medida levou em consideração a opinião de médicos e destacou a atuação de deputados e senadores. "Celebro o diálogo institucional que nós podemos estabelecer, o que significa a demonstração de que com boa fé e com o interesse público em primeiro plano quase tudo é possível", avaliou.


Prefeitos avaliam mudança


“A decisão foi coerente. O adiamento vai ao encontro de recomendações de médicos e especialistas na pandemia. O País atravessa um período crítico que requer cautela e responsabilidade para preservar vidas”.
Caio Matheus (PSDB), Prefeito de Bertioga


“Sou favorável à decisão de adiar as eleições, pois é uma recomendação dos profissionais da saúde. Neste momento, a visão profissional supera qualquer conveniência política. A vida é o bem maior”.
Ademário Oliveira (PSDB), Prefeito de Cubatão


“O período de pandemia exige cautela, principalmente porque nosso desafio é preservar o maior número de vidas. Considerando as recomendações do TSE e dos órgãos de saúde, a medida foi assertiva”.
Marco Aurélio Gomes (PSDB), Prefeito de Itanhaém


“Foi uma decisão prudente. Os partidos terão mais tempo para planejar as ações que antecedem as eleições municipais e espero que a situação esteja controlada antes do início da campanha eleitoral”.
Márcio Melo Gomes (Republicanos), Prefeito de Mongaguá


“Sempre fui contrário à extensão de mandatos. Essa prorrogação satisfaz as recomendações sanitárias para maior segurança da população e oportuniza um melhor debate sobre a cidade no período eleitoral”.
Luiz Maurício (PSDB), Prefeito de Peruíbe


“Vejo a mudança com normalidade. Importante também para que a campanha transcorra de forma normal, não só no dia da votação, mas naqueles 45 dias que a antecedem, num momento de debate”.
Alberto Mourão (PSDB), Prefeito de Praia Grande 


“Foi uma decisão acertada, em vista do que estamos vivendo. Ter uma eleição em condições mais apropriadas para os candidatos terem contato com o eleitor é saudável para a democracia”.
Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), Prefeito de Santos


“O adiamento foi acertado para continuarmos a luta contra o coronavírus. A esperança é que, até a nova data, tenhamos controlado a contaminação e o processo eleitoral não coloque em risco a população”.
Pedro Gouvêa (MDB), Prefeito de São Vicente


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