Rota do Café, em Santos, pode ser transformada em 'patrimônio mundial'

Para o superintendente do Iphan, Danilo Nunes, o roteiro histórico da Cidade está em um patamar além do nacional

Por: Nathalya Dubugras (*)  -  12/09/23  -  07:17
A Bolsa Oficial de Café e a antiga Estação Ferroviária do Valongo, a primeira do Estado, são parte das atrações do roteiro, que rememora a força do comércio do chamado ouro verde em Santos e o desenvolvimento da Cidade
A Bolsa Oficial de Café e a antiga Estação Ferroviária do Valongo, a primeira do Estado, são parte das atrações do roteiro, que rememora a força do comércio do chamado ouro verde em Santos e o desenvolvimento da Cidade   Foto: Raimundo Rosa

Patrimônios culturais são importantes por contarem a história do País. Mas, para o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Danilo Nunes, alguns valem muito para a história e têm dimensão superior à nacional. É o caso, segundo ele, da Rota do Café. “Deveria ser, e eu lutarei para que seja, patrimônio mundial”, afirma. “O ciclo do café foi um dos maiores ciclos do País. É uma vontade minha para esta gestão, e estou articulando com Brasília para isso.”


A Rota do Café é todo o percurso histórico do produto no Brasil, o que inclui sua ligação com a cultura de Santos. Ela abrange, por exemplo, a construção da primeira ferrovia na Cidade e a movimentação recorde de cargas no Porto, passando pela arquitetura, pelos negócios da praça cafeeira e o consumo da bebida como parte da identidade santista.


A valorização e a preservação de patrimônios culturais brasileiros, tanto materiais quanto imateriais, são responsabilidade do Iphan, uma autarquia federal. Juntamente com o Bordallo, grupo de produções culturais da Cidade, foi proposto e iniciado no último domingo, no Museu do Café, o projeto Educação Patrimonial em Ação, que tem como objetivo propagar a importância histórica e cultural desses marcos históricos com atividades lúdicas, como música e teatro.


“Educação patrimonial é a gente entender a nossa identidade, a nossa origem”, diz o superintendente do Iphan. O projeto será realizado, em seguida, em outras regiões do Estado, como Vale do Paraíba, Vale do Ribeira e Capital.


A abertura em Santos contou com uma apresentação da companhia teatral Burucutu sobre lendas, cultura e fandango caiçara. Também houve um bate-papo com Danilo Nunes sobre a preservação dos patrimônios culturais. “A nossa identidade caiçara é feita dos saberes, do Centro Histórico de Santos, da Bolsa de Café, da Casa Martim Afonso e de todos os outros patrimônios que fizeram nossa história”, afirma.


“O maior objetivo é que a valorização e a preservação da história regional e do País sejam orgânicas para crianças e jovens”, diz a produtora cultural Juliana Bordallo. O projeto Educação Patrimonial em Ação passará também por escolas públicas para levar o conhecimento cultural para alunos do Ensino Fundamental 2, de 10 a 15 anos. “É importante para o futuro que os jovens conheçam a nossa identidade, para que não percamos a nossa história e os nossos patrimônios.”


“Existe a passagem do tempo e existe a transformação”, comenta o ator e músico da companhia Burucutu, Daniel Trevo, que levou ao bate-papo a valorização da mão de obra histórica dos locais que hoje são tombados e reconhecidos como patrimônios. “Precisamos olhar criticamente para o passado para decidir como olhar para o futuro”, considera o ator.


Para Trevo, é preciso lembrar as lutas dos povos indígenas e tradicionais, dos descendentes de africanos, quilombolas e caiçaras, “que perdem suas terras para a especulação imobiliária”. “É necessária essa contradição para lembrar que esses patrimônios são sinônimo de opressão no passado, mas também, de superação no presente e no futuro”.


Edificações e ciclos
Rota do Café - o Ouro Verde de Santos: é como se denomina um roteiro desenvolvido pela Prefeitura de Santos, que reúne vias e edificações fundamentais para o comércio cafeeiro na Cidade e inclui os ciclos históricos aos quais está ligado. “Desde o século 19, Santos é o maior exportador de café do mundo”, salienta um texto de apresentação no link bit.ly/3sS7D2H.


Entre os ciclos mencionados, estão a construção do Engenho de São Jorge dos Erasmos, em 1534; a inauguração da Estação do Valongo e da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, em 1867; a inauguração do porto organizado, em 1892, e o chamado ciclo dos contêineres, datado a partir de 1970.


Alguns dos pontos de interesse destacados na Rota do Café são o busto de Irineu Evangelista de Sousa — o Barão de Mauá, que bancou a construção da ferrovia Santos-Jundiaí —, na Praça Mauá, no Centro; a Bolsa Oficial de Café; a Rua XV de Novembro, onde há uma estátua alusiva aos corretores de café e a Associação Comercial de Santos, e a Rua do Comércio, onde persistem casarões que pertenceram a comerciantes cafeeiros.


A antiga Estação do Valongo, que foi a primeira do Estado, a linha turística Bonde Café e a Pinacoteca Benedicto Calixto, no Boqueirão, instalada em um casarão onde viveu um exportador de café, também integram o circuito.


(*) Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes


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