Crônica: William Shakespeare na era do WhatsApp

Vanessa Campos é jornalista e escritora

Por: Vanessa Campos  -  30/05/23  -  12:11
A leitura de Romieta e Julieu é leve
A leitura de Romieta e Julieu é leve   Foto: Divulgação

O grande escritor infantil Pedro Bandeira, aos 80 anos, fala da importância de atualizarmos os clássicos. Não é para menos: o santista chegou a estudar Pedagogia para conhecer melhor o seu público. Com a autoridade de quem marcou diversas gerações com suas obras, ele afirma: “O salto que a humanidade deu com as novas tecnologias modificou a forma de comunicação entre os seres humanos, não há como negar isso, mas que isso não interfira na Literatura”.


Tão pouco acreditamos que obras maravilhosas, de outros séculos, falem ao coração de jovens que vivem uma realidade completamente diferente. O que fazer? Ainda mais quando se tem consciência de que o que torna uma obra clássica é a sua capacidade de ser eterna?


As obras de Shakespeare, o dramaturgo inglês mais conhecido em todo o mundo, continuam sendo clássicos. Afinal, falam de amor, ódio, cobiça, inveja, ambição... Temas que ainda atormentam os seres humanos. Apesar das rápidas mudanças tecnológicas, a nossa evolução ainda caminha bem devagar. E, às vezes, com retrocessos.


No entanto, apesar do tema ser instigante, a apresentação da obra, para chegar ao público jovem, precisa mudar. E foi o que fez Ana Elisa Ribeiro na obra Romieta e Julieu, tecnotragédia amorosa. O livro tem Ilustrações dos irmãos Drummond, Marcelo e Marconi, designers que realizaram um projeto gráfico que lembra o grafitti. A publicação é da editora mineira RHJ livros.


A leitura de Romieta e Julieu é leve. Mesmo mantendo a questão da intolerância, tão atual nos dias de hoje, do amor e do ódio, da polarização, a autora consegue deixar a história cativar o leitor na linguagem coloquial e repleta de gírias do WhatsApp. Mas mantém o gênero da dramaturgia, explicando brevemente o que são atos e cenas. E com as famosas rubricas que dão a intenção do personagem ou revelam o que acontece em cena, passam a ser a voz do narrador.


Pronto! Os jovens conseguem ler e entender Shakespeare. A adaptação da obra ganhou o prêmio mais disputado da Literatura brasileira: o Jabuti, no ano passado.


Convido os leitores a conhecerem o trabalho, no mínimo, atrevido. É muito interessante pensarmos que, apaixonados pela obra, um dia, mais velhos, irão procurar conhecer mais sobre Shakespeare e até ler um original por vontade própria, e não por obrigação da escola ou da família. É isso! Leitura é arte e deve ser prazer. Nunca um conteúdo de prova ou castigo para quem faz bagunça. Boa leitura!


Serviço: Romieta e Julieu . Adaptação de Ana Elisa Ribeiro. Ilustrações: Marcelo e Marconi Drummond. Editora: RHJ Livros. Páginas: 144. R$ 45,00


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