Família faz manifestação para lembrar morte de bebê após tomar injeção no Hospital Guarujá

A mãe, Natália, lembra quando a pequena Alícia passou mal em seus braços dentro da unidade de saúde

Por: Nathália de Alcantara  -  29/09/20  -  19:05
Alícia chegou no hospital com febre e ficou internada por quatro dias. Família pede respostas
Alícia chegou no hospital com febre e ficou internada por quatro dias. Família pede respostas

Há um ano, a pequena Alícia Kahali de Oliveira Prieto, então com nove meses, passou mal nos braços da mãe, a autônoma Natália Souza de Oliveira, de 36 anos, após tomar uma injeção na sala de espera do Hospital Guarujá. Minutos depois, a bebê morreu. Desde então, a rotina de amamentação, cuidado, brincadeiras e trabalho em casa com a companhia da menina deu lugar a altas doses de antidepressivos e uma vida incompleta.


Ainda em busca de respostas para entender o que houve naquele dia, a mãe Natália organizou uma manifestação pacífica em frente ao hospital onde tudo aconteceu, no começo da tarde desta segunda-feira (29).


“Eu não consigo viver, estou sobrevivendo em busca de justiça. Sofro com crises de ansiedade e depressão. Não consigo trabalhar. Ela era grudada comigo 24h, desde quando acordava até a hora de dormir. Minha filha era muito esperta, uma bebezona saudável”, lembra a mãe, com saudade.


O caso


Em 24 de setembro de 2019, a menina começou com febre. Natália medicou com dipirona e, na madrugada, a febre retornou. Como a bebê não tomou uma mamadeira de leite inteira e vomitou na sequência, os pais saíram do Jardim Alvorada, em Vicente de Carvalho, e a levaram para o Hospital Guarujá.


Segundo o pai, o autônomo Fernando Paes Prieto, de 36 anos, na madrugada do dia 25 foi dada dipirona e colhidos sangue e urina. No retorno ao hospital para pegar os resultados dos exames, a médica informou que havia uma infecção e pediu novo exame de sangue, a ser coletado apenas quando Alícia não tivesse mais febre.


“Isso não aconteceu. Ela tomou a medicação para a temperatura e o sangue foi colhido na sequência. Ainda avisei a médica. No resultado, deu uma alteração ainda maior. Por isso, foi feito exame para meningite, que deu negativo”.


Então veio a internação de Alícia, para que fossem feitos hemocultura (detecta a presença de bactérias ou fungos no sangue) e urocultura (detecta bactérias na urina).


“Minha filha seguiu os quatro dias de internação bem sem febre ou vômito, se alimentando bem e muito ativa. Estávamos apenas cumprindo o protocolo médico que era aguardar esses resultados e os cinco dias de antibiótico”, explica Natália.


Poucos dias antes de ser internada, Alícia brincando em casa, no Jardim Alvorada, em Vicente de Carvalho, no Guarujá
Poucos dias antes de ser internada, Alícia brincando em casa, no Jardim Alvorada, em Vicente de Carvalho, no Guarujá   Foto: Arquivo Pessoal

Animados com a expectativa de alta por conta da melhora. os pais de Alícia passaram o quarto dia de internação andando com ela pelo corredor, brincando na cadeira de rodas.


“Nós fomos para a sala de espera, onde tem um sofá branco. Lembro como se fosse hoje. Sentei ali e meu marido ficou brincando com ela. Estavam rindo, felizes. Então, uma enfermeira veio com uma bandeja com medicações e falou que uma delas seria aplicada na minha filha ali mesmo, com ela no meu colo”, lembra a mãe.


“Ela pegou a mão esquerda da minha filha e aplicou o remédio em dois segundos. Foi tão rápido. Ela começou a passar mal na hora. Parecia que queria vomitar, ficou pálida, com os lábios roxos, me olhando com os olhos arregalados, como se estivesse pedindo socorro, para eu protegê-la. Foi a última vez que a vi com vida”, conta Natália.


A menina foi levada pelos pais às pressas para a sala de emergência, de onde Alícia só saiu morta. “Disseram que ela tinha tomado Decadron. Perguntamos sobre a seringa dessa medicação, mas em nenhum lixo foi encontrada. Todos se calaram, ninguém soube explicar o que aconteceu. Todos os exames deram negativo para fungos, bactérias ou outros problemas. Ela nunca teve uma gripe antes e agora está morta”.


Resposta


Segundo o advogado do Hospital Guarujá, Bruno Alvarenga, a unidade se colocou à disposição para ajudar a família antes do primeiro laudo do Insituto Médido Legal (IML) a respeito da causa da morte. No entanto, os advogados concordaram em não ajudar sem assumir a culpa. "Uma ação para obter pensão foi tentada no judiciário, mas sem sucesso. Também foram emitidos laudos em que não se concluiu erro médico. O hospital reforça, ainda, que não pratica atos para tentar alterar os resultados dos exames".


Com o pai Fernando e a mãe Natália, a pequena ficava grudada 24h por dia
Com o pai Fernando e a mãe Natália, a pequena ficava grudada 24h por dia

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