Pessoas com mais de 60 anos representam 76,46% do total de mortos na Baixada Santista

Na prática, dos 2.753 mortos na região desde o começo da pandemia, 2.105 tinham acima de 60 anos

Por: Nathália de Alcantara  -  19/01/21  -  20:29
A maioria dos que morreram por coronavírus na Baixada tinha mais de 60 anos
A maioria dos que morreram por coronavírus na Baixada tinha mais de 60 anos   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Naná tinha 67 anos, criou três filhos e dois netos sozinha. Como Maria dos Santos quase ninguém conhecia, mas os vizinhos sabiam quem era a dona da casa de muro laranja no Guilhermina, em Praia Grande. Era lá que muitos sentiam-se acolhidos para uma conversa com café e bolo quentinhos ou até mesmo para deixar os filhos e trabalhar. Mas, nas estatísticas da Prefeitura, ela faz parte dos 71,23% dos mortos, todos acima de 60 anos, por covid-19. “Ela foi uma vítima entre tantas, mas, para nós, o adeus doi até hoje”, diz a filha, Tereza dos Santos, de 37 anos.


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A maioria dos que morreram por coronavírus na Baixada tinha mais de 60 anos, assim como Naná. Na prática, dos 2.753 mortos na região desde o começo da pandemia, 2.105 tinham mais de 60 anos. Isso representa 76,46% do total de óbitos por covid-19.


>> Confira mais dados sobre o levantamento das mortes na Baixada Santista por covid-19


O levantamento foi feito por ATribuna.com.br. A Prefeitura de Itanhaém não enviou os dados pedidos. Os números usados para a comparação foram encaminhados em dias diferentes pelas prefeituras.


Para secretários de saúde e infectologistas, a idade é um importante fator de risco para quem pega coronavírus. Isso porque a chances do paciente ter mais comorbidades, como diabetes e cardiopatia, aumenta com o passar dos anos.


Segundo a chefe do Departamento de Vigilância em Saúde de Santos, Ana Paula Valeiras, esse perfil de mais mortos acima dos 60 anos não mudou na Cidade desde o começo da pandemia. E isso aconteceu em todas as outras cidades da Baixada.


“Prova desse risco é que a vacinação começará por essas pessoas, mas a covid-19 não escolhe sexo, idade ou padrões econômico, cultural e educacional. Ela é democrática e vem com todo mundo. É traiçoeira, pois nunca se sabe como cada um vai responder a ela”.


Por isso, Ana Paula recomenda evitar aglomerações, manter distanciamento até da família, usar máscara e passar álcool em gel nas mãos e nas superfícies.


“Outra saída é a vacinação. Quando a pessoa leva um filho para vacinar, ninguém pergunta origem, laboratório, eficácia. Essa relutância tem a ver com o fato da doença ser nova”.


O secretário de Saúde Pública de Praia Grande, Cleber Suckow Nogueira, concorda com Ana Paula. “A faixa etária mais atingida também é acima de 60 anos e isso se deve ao fato de a maioria ter comorbidades”.


Especialistas


A Baixada Santista tem o segundo pior índice de óbitos por 100 mil habitantes do Estado: 8,9. Está atrás apenas de Araçatuba, que tem 9,4. Para o infectologista Marcos Caseiro, é preciso analisar, além dos dados divulgados pelas prefeituras da região, a proporção de população idosa em cada cidade.


“Santos tem mais mortes, mas tem também muito mais velhos, que é a população mais vulnerável a covid-19. Os jovens estão se contaminando mais, mas são os idosos que seguem morrendo mais”.


Para Caseiro, a situação ainda vai piorar muito na região. “Basta vermos a realidade em Manaus (AM) e no Rio de Janeiro. Estamos perdendo tempo, pois deveríamos estar vacinando para evitar o caos na saúde”.


O assistente doutor da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas de São Paulo, Evaldo Stanislau, explica que o vírus é igual, mas as pessoas não. E isso faz toda a diferença. “Por isso algumas pessoas pegam e têm forma leve e outras morrem”.


Com relação às doenças crônicas, é como se estivéssemos numa escada, explica Stanislau, que também é diretor da Sociedade Paulista de Infectologia.


“Quem tem doença crônica já parte do meio da escada. Mesmo assim, tem jovem que morre e idoso com complicadores que sobrevive. Ainda estamos estudando a covid-19 para conseguir entender o motivo disso acontecer”.


Números


Em oito cidades da Baixada, a faixa etária acima de 60 anos é a mais atingida pela covid-19.
O infectologista Evaldo Stanislau pede que as pessoas não se sintam totalmente seguras mesmo após a vacinação. “É preciso seguir se cuidando, usando máscara. Deve-se aguardar o efeito da vacina e lembrar que serão duas doses”.


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