O santista e ex-jogador de futebol André Gaspar está colocando seu nome na história do futebol da Coreia do Sul. Como jogador, ele já foi campeão da K-League, o Campeonato Coreano. Agora, em 2018, Gaspar conquistou o primeiro título da história do Daegu FC, clube em que é treinador desde o ano passado.
Um dos clubes de menor orçamento na Coreia, o Daegu FC foi fundado em 2002 e somente em 2018 participou de sua primeira final de campeonato. Na Copa da Coreia, a equipe enfrentou o Ulsan Hyundai, atual vice-campeão do Campeonato Coreano. Mesmo sendo tachado de zebra, o Daegu venceu os dois jogos com placar agregado em 5 a 1 – 2 a 1 no jogo de ida e 3 a 1 na partida de volta. Após a primeira conquista da carreira de treinador, Gaspar deu méritos aos jogadores pelo feito e não escondeu a felicidade.
"Enfrentamos um time de maior qualidade que a nossa, que terminou em segundo na liga, sabíamos da dificuldade. Mas procurei trabalhar o psicológico dos jogadores, de fazer acreditar que podíamos vencer. Conseguimos um belo resultado no primeiro jogo. Sabíamos que no jogo da volta eles (Ulsan) teriam que se lançar ao ataque. Utilizamos o contra-ataque como arma e acabamos vencendo novamente. Estou muito feliz, muito realizado. Esse título coroa uma grande temporada não só minha mas de todos os jogadores", analisou Gaspar.
O santista foi à Coreia, como assistente, a convite do presidente do clube, que foi seu treinador nos tempos de jogador no mundo asiático. No ano passado, assumiu o comando do time interinamente e conseguiu evitar o rebaixamento no mesmo ano em que a equipe esteve pela primeira vez na divisão principal. Em 2018, teve contrato renovado, mas como técnico efetivo. Após um primeiro semestre ruim, André e o Daegu deram a volta por cima após a parada da Copa do Mundo.
"Não começamos bem o ano. Em 14 jogos antes da parada para a Copa vencemos apenas um. O presidente depositou grande confiança, disse pra eu seguir com o trabalho e que os resultados viriam. Trabalhamos forte o psicológico dos jogadores. Depois da Copa voltamos com uma acensão grande. Terminamos em sétimo, ficamos ainda mais longe do rebaixamento em comparação com 2017 e ainda fomos coroados com o título. Um grande ano", explicou.
Após o sucesso no ano, André Gaspar espera seguir no clube e dar continuidade ao bom trabalho. "O presidente chegou a me procurar, mas entramos em um acordo que iríamos conversar depois da final. Ainda tem alguns detalhes a serem acertados, mas o meu desejo é de permanecer e dar sequência ao trabalho. Recebi alguns contatos de clubes de outros países, nada oficial, apenas mera especulação", revelou.
No Daegu, André Gaspar conta com três brasileiros no elenco: o meia Cesinha, ex-Bragantino e Atlético Mineiro, e os atacantes Zé Roberto, ex- Mirassol e São Bento, e Edgar, ex-Vasco. "Mesmo eu tendo atuado na Coreia como jogador a comunicação ainda é um pouco complicada. Com os brasileiros é tranquilo. A mesma linguagem, nos termos do futebol, então eles entendem bem aquilo que procuro passar. Com os coreanos eu acabo precisando da ajuda de um intérprete, mas eles são muito dedicados e aplicados", contou.
Para 2019, Gaspar e o Daegu contarão com uma bela novidade. A equipe terá uma nova arena para mandar seus jogos. Custeado pela Prefeitura de Daegu, a Daegu Forest Arena terá gramado natural e receberá cerca de 25 mil torcedores. "A arena nova vai ser linda, muito aconchegante. Esperamos que ano que vem o time fique ainda mais estruturado e forte para se consolidar no futebol coreano", disse o treinador brasileiro.
Após o título conquistado no mundo asiático, o santista voltou ao Brasil diretamente para o Rio de Janeiro para terminar o curso Licença PRO, organizado pela CBF que tem como alunos treinadores como Tite, Mano Menezes, Dunga, Emily Lima, entre outros. Após a conclusão do curso, André passa férias e as festas de fim de ano em Santos, no Bairro Gonzaga. Gaspar tem dois filhos e, um deles, segue a carreira do pai no futebol. Lucas Gaspar tem 18 anos, é centroavante, e disputará a Copa São Paulo de Futebol Júnior do ano que vem pelo Mirassol. "Eu era um meia armador, da articulação, enquanto que o meu garoto é o goleador", brincou.
Linha do tempo
André Gaspar teve a primeira oportunidade no futebol nas categorias de base do Santos na década de 1990. No Peixe, não teve oportunidades no time principal e, por essa razão, acabou se transferindo para a Portuguesa Santista. "Eu fui para a Briosa graças ao Vagner Benazzi, treinador na época. Tinha um amigo que conhecia o Benazzi e explicou da minha situação e acabei assinando contrato. Foram quase dois anos na Portuguesa. Um clube muito grande, de muita história", lembrou Gaspar.
Depois dos times da Baixada Santista, Gaspar se aventurou pelo interior paulista no Marília. Já nos anos 2000, ele iniciou sua carreira no exterior atuando no então Anyang LG (hoje, Seoul FC). Em sua primeira temporada no futebol coreano, foi campeão da K-League, sendo líder de assistências do torneio e escolhido entre os 11 melhores da competição. O santista ainda conquistou o vice-campeonato da K-League em 2001 e por lá permaneceu até 2002, quando se transferiu para o futebol chinês.
De volta ao Brasil, em 2005, assinou contrato com o Bragantino. Logo de cara, fez parte da equipe que conseguiu o acesso da série A2 do Estadual para a divisão principal. Em 2007, o Bragantino enfrentou o Santos em dois jogos da semifinal do Campeonato Paulista, onde o Peixe avançou até a final sagrando-se campeão mais tarde após bater o São Caetano. Naquela oportunidade, Gaspar estava com problemas musculares na coxa e por isso não atuou nos dois jogos diante do Santos.
Seu último grande feito como jogador foi no mesmo ano de 2007 ainda com o Bragantino. O clube de Bragança Paulista teve a oportunidade de disputar a Série C do Brasileirão e conquistou o acesso para a série B do Campeonato Nacional. Se aposentou do futebol em maio de 2008, após o término do Paulistão, mas manteve contato com o futebol.
"Recebi o convite do Marcelo Veiga para ser auxiliar dele no Bragantino. Eu até queria continuar a jogar, mas quando veio essa oportunidade eu não hesitei. Era um sonho de poder continuar no futebol depois de encerrar a carreira de jogador", explicou.
Depois de pendurar as chuteiras, Gaspar foi auxiliar técnico do Bragantino, onde assumiu interinamente o comando do time em algumas oportunidades e foi dirigente até surgir a chance de seguir carreira como treinador no Daegu FC a partir de 2015.
Santista roxo
André Gaspar nasceu em Santos e passou boa parte de sua infância no bairro Campo Grande. Foi a muitos jogos do Peixe na Vila Belmiro, ao lado do pai. "Tenho uma grande admiração pelo Santos. É um clube mundialmente conhecido. É o meu time do coração. Meu pai era santista roxo, acabei herdando isso dele", argumentou.
Mesmo distante, André consegue conciliar sua vida de treinador e acompanhar o futebol brasileiro. Torcedor do Peixe, ele deixou sua análise do 2018 do Santos. "Assisto muitos jogos do Brasil na Coreia. O ano do Santos foi bem conturbado. A organização fora de campo foi muito ruim e isso refletiu no time dentro de campo. O Cuca melhorou muito, ajudou demais, mas a classificação pra Libertadores acabou não acontecendo", concluiu.