Vexame do Real Madrid serve para valorizar a Copa do Rei

Com jogos únicos desde 2019, competição espanhola se torna armadilha a gigantes que não a valorizam

Por: Bruno Rios  -  22/01/21  -  09:45
  Foto: Divulgação/Alcoyano

A Real Federação Espanhola de Futebol tem em seu histórico recente uma série de erros - o maior deles, vocês devem se lembrar, foi a absurda demissão do técnico Julen Lopetegui na véspera da estreia da Espanha na Copa do Mundo de 2018, por ele ter assinado com o Real Madrid sem avisar. Mas outra decisão do órgão, tomada em 2019, merece elogios: a mudança no regulamento da Copa do Rei, que trouxe emoção ao torneio, muitas vezes modorrento para torcedores e clubes.


Até duas edições atrás, todas as fases da competição tinham jogos de ida e volta, o que diminuía as surpresas e irritava os grandes times, por inchar o calendário com compromissos desinteressantes. De 2019 para cá, os compromissos se tornaram únicos. Por um lado, a medida reduziu a quantidade de partidas, mas por outro aumentou a possibilidade de vexames como o protagonizado na última quarta-feira (20) pelo Real Madrid, eliminado na prorrogação pelo Alcoyano, time que disputa a terceira divisão da Espanha.


Por mais que pareça incoerente, tombos precoces como o do time de Zidane servem para valorizar a competição e abrir os olhos de todos para a próxima temporada, quando certamente a equipe merengue pensará duas vezes antes de escalar quase que exclusivamente reservas num duelo eliminatório único. E não será só Real a recalcular a rota, pois ele não foi o único da elite a passar vexame nesta Copa do Rei: o Celta caiu contra o Ibiza e o Atlético de Madrid perdeu para o Cornellà.


O pior é que o Real já deveria ter aprendido a lição, mas parece não se emendar. Tanto que esta foi a quarta vez em 13 anos que caiu na Copa do Rei para uma equipe do terceiro escalação local. Além do Alcoyano, os outros protagonistas desse lado B da história merengue foram Real Unión, em 2008, Alcorcón, em 2010, e Cádiz, em 2016. Após o mico, o técnico Zidane tentou colocar panos quentes, mas o fato é que a derrota de dois dias atrás criou feridas que tão cedo não serão cicatrizadas.


Aliás, sobre o mau momento do Real Madrid, é fato que a equipe não tem jogado bem, só venceu um dos últimos cinco jogos disputados e em outra competição nacional, a Supercopa da Espanha, foi eliminada pelo Athletic Bilbao. Mas cogitar a troca de técnico a esta altura é uma aberração. Até porque na última vez que o Real demitiu treinadores a esmo, há dois anos, não houve melhora e a eliminação na Champions veio com um histórico 4 a 1 para o Ajax, com Solari fazendo o papel de comandante.


Voltando à Copa do Rei, vocês querem mais uma prova de valorização? Na quinta-feira (21), o Barcelona mandou alguns atletas titulares ao campo sintético do Cornellà, também da terceirona, e deixou outros de sobreaviso no banco. A intenção era clara: não repetir o vexame do maior rival.


Torço para que esse exemplo espanhol sirva de inspiração para os dirigentes brasileiros, pois a Copa do Brasil até possui jogos únicos nas primeiras fases, mas com uma ridícula vantagem de empate para a equipe visitante, o que tira o estímulo da competitividade e serve mais para proteger os grandes times do que qualquer outra coisa. A Copa do Rei mostra que a maior proteção é valorizar o torneio desde o início.


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