Rio 40 caos

Quando achamos que o futebol do Estado atingiu o fundo do poço, ele desce ainda mais

Por: Alexandre Fernandes  -  21/02/19  -  02:20
Atualizado em 21/02/19 - 02:34

O espetáculo lamentável que se viu na final da Taça Guanabara, no último domingo (17), serviu para mostrar, mais uma vez, que nunca podemos duvidar do futebol do Rio de Janeiro. Sempre que achamos que ele chegou ao fundo do poço, vem uma nova bizarrice que nos faz dizer "agora sim, desceu de vez".


E para piorar, tudo o que tem acontecido nos últimos anos é um reflexo da falência moral do Estado do Rio de Janeiro. Em outros tempos houve grandes lambanças, como em 1990, quando Vasco e Botafogo deram volta olímpica, cada um se autoproclamando campeão carioca; o WO duplo de Flamengo e Fluminense em 1998; a vitória do tricolor carioca sobre o Vasco, também por WO, no Rio-São Paulo de 1999...


Mas tudo isso se restringia à eterna desorganização da Federação do Rio de Janeiro (Ferj) e dos clubes. Hoje, o caos gira em torno do maior símbolo do futebol carioca: o Maracanã, cuja reforma para a Copa de 2014 e a concessão a um grupo liderado pela construtora Odebrecht foram preponderantes para que se colocasse um governador do Estado na cadeia.


Flamengo e Fluminense não possuem estádio próprio. E nunca precisaram. Mandavam seus jogos no antigo Maracanã, que era administrado pelo governo do Estado por meio da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro, a famosa Suderj. Fla e Flu arcavam com o aluguel e outras despesas e pronto. Dependendo da arrecadação, tinham lucro ou prejuízo, como acontece com qualquer clube.


Quando houve a concessão do Maracanã, os dois clubes tiveram de negociar contratos com o consórcio vencedor da licitação. O problema é que o grupo liderado pela Odebrecht não pôde realizar tudo o que estava planejado no projeto original. Quem vencesse o processo licitatório ficaria também com a pista de atletismo Célio de Barros e o parque aquático Júlio Delamare, que fazem parte do complexo do Maracanã. Mas como estão tombados, não podem ser demolidos. E aí, quem paga por isso? Flamengo e Fluminense.


Hoje a coisa não funciona mais como no tempo da Suderj. Flamengo e Fluminense têm, cada um, seus planos de sócio-torcedor e tentam operar o Maracanã de um jeito que seja comercialmente viável. Mas só tentam. O Flamengo em duas ocasiões só neste ano já levou mais de 40 mil pagantes e teve uma arrecadação líquida que não atingiu R$ 20 mil. 


As partidas do Fluminense, que já atravessa uma gravíssima crise financeira, vêm dando prejuízo direto. O clube não tem conseguido arcar com seus compromissos junto à concessionária, que por sua vez usou a inadimplência a seu favor no caso dos setores destinados a cada torcida na final da Taça Guanabara. Como vislumbra um acordo com o Vasco, ficou do lado deste em vez de defender o clube com o qual tem um contrato.


E no meio disso tudo está a Ferj, que não tem nenhuma intenção em mexer nesse vespeiro. Afinal, em todos os jogos dos clubes cariocas, em qualquer competição, ela morde sempre 10% da renda bruta. Mesmo Vasco e Botafogo, que têm estádio próprio - na verdade, o Botafogo venceu uma licitação que lhe dá o direito de administrar o Engenhão até 2027 -, veem a federação em certeos jogos arrecadar mais dinheiro que eles. Vivendo nessa realidade paralela, é compreensível que a Ferj ainda classifique o Campeonato Carioca como "o mais charmoso do Brasil".


Diante desse cenário, é difícil acreditar que o futebol do Rio de Janeiro não chegou ao fundo do poço. Mas dá para descer ainda mais. É questão de tempo para acontecer mais um episódio vergonhoso.


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