As máscaras caem, inevitavelmente

As festas de carnaval de Veneza remontam ao século XI e são famosas por suas máscaras elaboradas e festividades

Por: Paulo de Jesus  -  06/04/24  -  06:41
As máscaras que nelas são usadas oferecem um reflexo intrigante das máscaras que muitos usam no dia a dia.
As máscaras que nelas são usadas oferecem um reflexo intrigante das máscaras que muitos usam no dia a dia.   Foto: Reprodução/Civitatis

Desde tempos imemoriais, as máscaras têm sido uma parte integral da expressão humana. Desde as elaboradas criações usadas nas festas de carnaval até as "máscaras" mais sutis usadas no dia a dia, elas servem como veículos para ocultar ou revelar partes das pessoas, conforme a conveniência. Pensando a respeito desse tema, me dei conta que essa situação faz parte do nosso cotidiano e, sendo assim, resolvi explorar neste texto a conexão entre a tradição das máscaras nas festas de carnaval, com seu início em Veneza, e as máscaras mais abstratas que muitos vestem diariamente.


As festas de carnaval de Veneza remontam ao século XI e são famosas por suas máscaras elaboradas e festividades extravagantes. O uso desses “disfarces” nesse contexto permite uma liberdade extraordinária. Por trás da proteção proporcionada, os participantes sentem-se livres para expressar seus desejos mais profundos e até mesmo comportamentos que, em outras circunstâncias, seriam considerados socialmente inaceitáveis. É uma encenação teatral em que a identidade se dissolve em favor da liberdade e da imaginação.


No entanto, essa liberdade muitas vezes se estende para além das festas de carnaval. Assim como os foliões de Veneza, muitas pessoas usam "máscaras" em suas vidas diárias para manipular situações e obter vantagens pessoais. Como os arlequins e colombinas das festas venezianas, elas podem assumir diferentes papéis conforme a conveniência, ocultando suas verdadeiras intenções por trás de um véu de cortesia e amabilidade.


Um exemplo claro dessa dualidade pode ser encontrado na dicotomia entre gentileza e rudeza nas interações humanas. Muitos de nós já nos deparamos com pessoas que são extremamente cordiais em certos contextos, mas revelam uma faceta totalmente diferente quando confrontadas com aqueles que não podem oferecer nada em troca. Assim como os foliões de carnaval que escondem sua identidade por trás de máscaras, essas pessoas escondem sua verdadeira natureza sob um disfarce de cortesia, revelando sua verdadeira face somente quando a máscara é retirada.


No mundo moderno, onde as interações pessoais muitas vezes são substituídas por interações virtuais, essa dualidade se torna ainda mais pronunciada. Nas redes sociais e nos ambientes digitais, é fácil criar uma persona que não reflete nossa verdadeira essência. As máscaras que são usadas on-line, muitas vezes permitem apresentar versões idealizadas da própria pessoa, ocultando inseguranças e falhas por trás de uma fachada de perfeição.


Todavia, em meio a essa multiplicidade de máscaras, é crucial permanecer autêntico. Assim como os foliões de Veneza que eventualmente retiram suas máscaras e retornam à sua verdadeira identidade, devemos nos esforçar para agir em conformidade com nossos verdadeiros sentimentos e valores, mesmo que isso signifique desagradar alguns. A autenticidade é a chave para relacionamentos genuínos e uma vida significativa. Apenas quando abandonamos as máscaras nos conectamos com os outros e com nós mesmos.


As festas de carnaval de Veneza e as máscaras que nelas são usadas oferecem um reflexo intrigante das máscaras que muitos usam no dia a dia. Assim como os foliões que se deleitam na liberdade temporária proporcionada pelas máscaras, devemos lembrar que a verdadeira liberdade só é encontrada quando somos autênticos e nos recusamos a nos esconder por trás de fachadas. Somente então poderemos descartar as máscaras que nos prendem e abraçar plenamente quem somos. As máscaras caem, inevitavelmente.


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