Viver de fenômenos: a bola da vez é Beatriz Haddad Maia ou simplesmente Bia Haddad

A jovem brasileira, no último domingo, definitivamente entrou para a história do tênis do Brasil

Por: Marcio Calves  -  19/06/22  -  14:29
Bia Haddad  conquistou o WTA 250 de Nottingham, na Inglaterra, nas simples e nas duplas
Bia Haddad conquistou o WTA 250 de Nottingham, na Inglaterra, nas simples e nas duplas   Foto: Divulgação

Desde o fenômeno Gustavo Kuerten, que chegou a número 1 do mundo, há muito o tênis brasileiro não comemorava uma grande conquista. E o melhor, no feminino, na categoria de simples. E mais: na quadra de grama, um adversário sempre muito forte para os que têm no saibro o piso preferido. A diferença entre as duas superfícies é muito grande, notadamente em termos de velocidade de bola e estratégia. O chamado base line, acostumado a jogar no fundo, sofre muito e dificilmente tem sucesso completo.


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A nova “heroína” chama-se Beatriz Haddad Maia, ou simplesmente Bia Haddad. A jovem brasileira, no último domingo, definitivamente entrou para a história do tênis do Brasil. Ela conquistou o WTA 250 de Nottingham, na Inglaterra, nas simples e nas duplas. E o mais incrível, na quadra de grama, num dos muitos torneios preparatórios para Wimbledon, que começa no próximo dia 27 e vai até 10 de julho.


Para se ter uma exata dimensão do feito de Bia Haddad, vale lembrar que a última vitória de uma brasileira na grama ocorreu em 1968, quando outro fenômeno, a lendária Maria Esther Bueno, venceu em Manchester. E mais: foi o primeiro titulo de WTA da jovem brasileira. A campanha foi incrível, com cinco vitórias, superando até a grega Maria Sakkari, número 5 do mundo. Nas duplas, ganhou ao lado da chinesa Shuai Zhang.


Bia Haddad, é verdade, faz história desde o juvenil, quando chegou ao 15º lugar do ranking da ITF. Por duas vezes, em 2012 e 2013, foi vice-campeã de duplas de Roland Garros, além de semifinalista em Wimbledon. Para confirmar seu grande momento, a tenista brasileira fez grande campanha essa semana em Birmingham, cidade localizada no centro-oeste da Inglaterra. Na sexta, venceu a italiana Camila Georgi, número 26 do mundo, por 2 sets a 0, se credenciando para enfrentar na semifinal a romena Simona Halep, 20º do ranking mundial.


Será o terceiro confronto entre elas, os dois primeiros foram vencidos para romena. O quadro, agora, é diferente, pelo nível de confiança de Bia Haddad, agora número 32 do mundo, conforme o ranking atualizado no início da semana. Na partida de sexta-feira, contra a jovem italiana, a tenista brasileira mostrou incrível maturidade, além de um nível alto de tênis. Depois de um placar adverso de 0/3, conquistou sete games seguidos e venceu o jogo em dois sets.


Bia Haddad, sem dúvida, poderia estar hoje num patamar superior, não fosse a punição, por doping, em 2019, por uso dos anabolizantes Ostarina e Ligandrol. A pena branda, de 10 meses de suspensão, para os padrões do esporte foi considerada uma vitória, principalmente pelo advogado, que conseguiu comprovar que a atleta ingeriu as substâncias a partir de um suplemento alimentar contaminado.


O afastamento prejudicou a carreira por completo, porém, as recentes conquistas comprovam que Bia Haddad está efetivamente de volta e com boas perspectivas. Na prática, trata-se de mais um grande impulso para o tênis feminino brasileiro, que sempre viveu da glória de Maria Esther Bueno.


Outra grande notícia para o tênis feminino do Brasil é o retorno de Luiza Stefani aos treinamentos, após cerca de oito meses longe das quadras em razão de uma séria contusão no joelho, na semifinal do US Open de 2021. Especialista em duplas, a tenista chegou ao nono lugar do ranking, acumulando grandes campanhas, como a medalha de bronze na Olimpíada de Tóquio. Sua volta em alto nível deve ocorrer entre agosto e setembro, sonhando em chegar ao posto de número 1, a exemplo Guga e Marcelo Melo.


O ideal seria que o sucesso das duas brasileiras servisse para criação de uma política esportiva de incentivo ao tênis. Hoje, infelizmente, as escolas existem apenas nos clubes, limitando o acesso de jovens interessados em praticar o esporte. O primeiro passo, a exemplo de países como Estados Unidos, Argentina e Espanha, dentre outros, seria a construção de quadras públicas, eliminando a máxima de que se trata de uma modalidade restrita à elite.


Sem isso, o Brasil está fadado a viver de fenômenos como Guga e agora Bia Haddad e Luiza Stefani.


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