Que se faça justiça

Eles pagaram com suas vidas pelo idealismo em suas almas e a responsabilidade com suas profissões

Por: Redação  -  18/06/22  -  07:48
  Foto: Reprodução/TV Globo

Os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips exigem mudanças profundas e políticas de gestão mais claras do governo voltadas às regiões pouco habitadas e fronteiriças do País, incluindo principalmente uma atenção que os povos da floresta merecem. No caso específico do Vale do Javari, que tem tamanho parecido ao de Santa Catarina, é preciso exercer de fato a soberania brasileira na região, como o Palácio do Planalto tanto defende. O extremo oeste do Amazonas se tornou um paraíso para uma série de atividades ilegais, da retirada da madeira e pesca à mais preocupante de todas, o narcotráfico com conexões de facções colombianas.


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É fundamental aumentar a presença do Estado naquela área, apoiada em forças policiais especializadas no combate a tais práticas ilegais e, principalmente, na reestruturação da Funai. Isso porque o Javari abriga a segunda maior reserva indígena do País e é a maior concentração de povos isolados do mundo, pequenas comunidades despreparadas para resistir à invasão de suas terras e à mercê do avanço das quadrilhas. O próprio destino de Pereira é reflexo da fragilidade da Funai. Ele entrou em choque com a gestão federal ao combater invasões e afundar barcos das atividades ilegais. Licenciado da fundação, persistiu na defesa dos indígenas, trabalhando para a entidade das comunidades do Javari. Foi a partir do profundo conhecimento do indigenista sobre a Amazônia que Phillips preparava um livro sobre a floresta e o meio ambiente. Os dois não eram irresponsáveis. Pelo idealismo em suas almas, a responsabilidade com suas profissões e o desapego ao conforto dos escritórios nas grandes cidades, eles pagaram com suas vidas.


Ontem, a Polícia Federal divulgou que os dois irmãos suspeitos do duplo assassinato (um deles, Amarildo da Costa Oliveira, confessou o crime) agiram por conta própria, sem haver mandante, apesar de existirem outras pessoas sob investigação. Mas falta ainda apontar a motivação, fundamental para descartar realmente que havia uma ordem superior para consumarem o assassinato. Por outro lado, a rápida conclusão indica que o governo quer resolver o caso logo, pois sua repercussão foi devastadora, o que se entende pela gravidade do caso.


O desfecho foi o pior possível, agora com os restos mortais encontrados na região sendo confirmados como de Phillips (quanto aos de Pereira, ainda não há confirmação). Mas essa barbaridade não pode ser tratada como mais um caso de violência, aliás tão banalizada no País. É preciso observar as suas mortes no contexto do Vale do Javari para que o reparo por meio da Justiça também inclua um melhor cuidado do governo com as regiões amazônicas.


O risco é que Pereira e Phillips entrem apenas para a lista de vítimas dos criminosos da Amazônia, que também já mataram Chico Mendes e Dorothy Stang, entre outros defensores da mata, dos indígenas e dos ribeirinhos.


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