Problemas e soluções

Contar com o poder central consiste em uma aventura na qual embarcar vale cada dia menos. Hoje, o mundo teme o Brasil

Por: Da Redação  -  07/03/21  -  14:30

As cores da semana que passou foram quentes. De domingo até ontem, houve recorde de mortes por covid-19 desde o início da pandemia. Também se ouviu, do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que o Brasil precisa levar o avanço da doença “muito a sério”, para não prejudicar também países vizinhos. Mas veio o contraste, numa pincelada de tons frios dada, na quinta-feira, pelo presidente Jair Bolsonaro: “Nós temos que enfrentar os nossos problemas. Chega de frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.


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É curioso o estímulo à reflexão feito pelo mandatário. Nunca tantos morreram de coronavírus no Brasil. Leitos de UTI estão nas últimas, a ponto de pacientes terem de ser levados para outros estados. A doença ganha velocidade e, tanto por razões médicas quanto de desespero, governos estaduais restringem a circulação de pessoas e mandam fechar o comércio. Observando-se tal cenário, nada confortador nem alvissareiro, quais serão “os nossos problemas”?


A julgar por uma entrevista coletiva concedida na sexta-feira pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, as dificuldades nacionais estariam na má comunicação. “Nós não podemos deixar a economia se desorganizar, é muito importante isso. (É) Essa mensagem que o tempo inteiro o presidente tem tentado passar também que, talvez, por infelicidade, não deixou claro o problema da saúde, da vacinação em massa”, declarou, ao comentar o andamento da proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela qual se deverá autorizar a retomada do auxílio emergencial.


A “infelicidade”, tomando emprestada a expressão utilizada pelo ministro, é que contar com o poder central consiste em uma aventura na qual embarcar vale cada dia menos. Quase um terço dos municípios brasileiros, que representam cerca de 60% da população nacional, formalizou interesse em participar de um consórcio para compra direta de vacinas contra covid-19. 


Por princípio, seria algo equivocado — como se cidades e União disputassem o mesmo terreno. Porém, dados os óbices impostos pelo Planalto, com exigências que nem em países desenvolvidos se fizeram a laboratórios, e a busca por panaceias no exterior em vez de vacinas, Brasília pouco ajuda.


Outra reflexão, não incentivada de modo direto pelo presidente, surgiu num vídeo que circula pela internet. Tem cerca de um minuto e meio, é de autoria não admitida abertamente e, nele, se pergunta: “Você sabe o que é o custo Bolsonaro?”. Entre as respostas, “a fuga dos investidores internacionais”.


De fato, o mundo teme o Brasil, transformado em um dos maiores riscos sanitários ao planeta. Lembra a Santos do final do século retrasado, anterior à canalização das águas por Saturnino de Brito, na qual marinheiros de fora temiam pisar por medo das diversas infecções que se poderiam contrair no Porto. O combate aos “nossos problemas” requer saneamento.


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