Os impactos dos juros

De pouco adiantará esse esforço do Banco Central se o Governo Federal ingressar em uma escalada gastadora

Por: Redação  -  07/05/21  -  06:36
  Há ainda uma corrente contrária ao Tesouro Prefixado
Há ainda uma corrente contrária ao Tesouro Prefixado   Foto: Agência Brasil

A retomada das altas da taxa Selic pelo Banco Central é necessária para conter o aumento dos preços dos supermercados e dos combustíveis, mas a medida precisa ser acompanhada de austeridade nas contas do Governo Federal. Com a aproximação das eleições de 2022, as pressões por gastos vão crescer e também a tentação do Palácio do Planalto por programas populistas de alto custo, mas com impacto considerável nas urnas. Por isso, as próximas decisões do BC devem ser bem dosadas para não impactar negativamente na retomada da economia, aliás ainda nebulosa e sob circunstâncias frágeis.


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Na reunião de quarta-feira, o BC decidiu elevar a taxa de 2,75% ao ano para 3,5%, sinalizando que na próxima, dentro de 45 dias, deverá haver nova elevação para 4,25%. Para o cidadão comum, esses percentuais parecem pouco importar, mas no contexto econômico são de grande peso no custo do crédito, fundamental para fazer deslanchar os negócios e o emprego. Por outro lado, a alta da Selic também terá reflexos sobre a aplicação mais popular do País, a caderneta de poupança, que há poucos meses atrás pagava apenas 1,4% de rendimento ao ano. Se a Selic subir para 4,25%, a rentabilidade vai para 2,975% ao ano. Se durante a pandemia, com um retorno tão baixo o investimento atraiu muitos recursos, agora o impacto poderá ser considerável. É importante que a população poupe para momentos difíceis, mas o BC já alertava em 2020 sobre a poupança precaucional, quando o conjunto do País guarda muito dinheiro por temer o desemprego e freia o consumo, com efeitos negativos na economia.


Essa reação se dá basicamente por desconfiança no futuro, que é o que o BC tenta exatamente combater ao subir os juros para derrotar a inflação. Mas, de pouco adiantará esse esforço se o governo ingressar em uma escalada gastadora, quando de um lado o BC temporariamente enxuga a economia e o Executivo federal despeja recursos de outro. É o que se viu no Governo Dilma Rousseff – o BC subiu os juros acima dos 14% ao ano e ao mesmo tempo o Executivo continuou com os gastos em larga escala, com um mecanismo anulando o outro.


Há uma situação em particular que é praticamente nova e que não se sabe que impacto terá sobre a economia, que é a injeção de recursos excepcionalmente contra os efeitos econômicos da pandemia.Porém, esse estímulo se dá em um momento de forte aperto nas famílias e nas empresas e de baixa pressão no consumo. Como o auxílio emergencial e a dimensão das medidas de crédito e proteção do emprego são mais modestas desta vez, é possível que o impacto na demanda não terá o efeito inflacionário tal como no ano passado. A valorização das commodities (produtos minerais e agropecuários) também poderá aquecer a inflação, mas pouco poderá ser feito sob esse aspecto, lembrando que essa tendência vai ter o lado benéfico de estimular as exportações e reduzir o peso do dólar nos preços ao consumidor.


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