Nova ordem no comércio

Eventual formação de dois blocos comerciais tende a complicar acordos multilaterais, estimulando tratados bilaterais

Por: Redação  -  14/06/22  -  07:29
O Brasil por sua posição geopolítica, deveria negociar com os dois lados
O Brasil por sua posição geopolítica, deveria negociar com os dois lados   Foto: Imagem ilustrativa/Unsplash

Em meio às incertezas causadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia, há um consenso geopolítico de uma nova ordem mundial, da oposição do Ocidente ao Kremlin, que poderá contar com o apoio firme ou dúbio da China. Entretanto, a Organização Mundial do Comércio (OMC) alerta para as consequências dessa mudança para as transações econômicas entre os países, conforme reportagem do jornal Valor. Segundo a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-lweala, é esperada a formação de pelo menos dois blocos e o desenvolvimento por eles de regulamentações diferentes para o comércio mundial. O resultado poderá ser o de um lado não reconhecer as regras do outro e se fechar, o que seria até estímulo ao protecionismo.


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De acordo com a OMC, esses blocos econômicos opostos teriam impacto negativo no crescimento das principais economias, resultando em uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) global de 5%. Os maiores reflexos seriam sentidos pela Rússia (-10%), Índia (-9%) e China (-7%). Do outro lado, os Estados Unidos sofreriam em menor intensidade, com -1%, mas seus aliados recuariam mais, com -4% na União Europeia e o mesmo percentual no Japão. O texto não menciona os países da África e da América Latina, mas fica difícil acreditar que a produção de commodities do Brasil não seria atingida, até porque a China é o principal cliente. O Brasil por sua posição geopolítica, deveria negociar com os dois lados, porém, enfrentaria consequências por uma redução das transações mundiais. Um dos principais efeitos negativos apontados pela OMC é o bloqueio à troca de tecnologias e especialização da produção, o que poderia incluir a transferência de conhecimento para capacitação de mão de obra. Os países pobres sofreriam muito, pois teriam acesso dificultado aos novos conhecimentos.


Apesar dos tropeços diplomáticos da atual gestão, a atuação do Itamaraty nas negociações comerciais internacionais é reconhecida e o País tem um papel importante perante as nações mais pobres contra o protecionismo. Nos últimos anos, a polarização política no País gerou ruídos com parceiros comerciais como a França, que freou um desfecho para o acordo do Brasil com a União Europeia. O gigantismo da produção de carne e alimentos brasileira é vista com desconfiança lá fora e, por isso, o Brasil cedeu com cotas (limites de quantidades que poderão ser exportadas) para destravar uma negociação de duas décadas. Agora, uma eventual formação de dois blocos comerciais tende a complicar acordos multilaterais (várias nações envolvidas), estimulando tratados bilaterais e enfraquecendo o papel da OMC, que bem ou mal é para onde os países recorrerem para discutir suas diferenças. A dúvida com a guerra da Ucrânia, além do tempo que ela vai durar, é qual será seu impacto no grau de distanciamento entre as potências, sem as ilusões de que o Brasil irá escapar das consequências.


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