Alfabeto sociopolítico

Nem mesmo numa crise sanitária políticos se constrangem em querer da vida pública mais benefícios. O País fica em círculos

Por: Da Redação  -  09/03/21  -  10:40

O bê-a-bá da política brasileira ensina que depender da coesão dessa classe, para qualquer coisa, é condenar a Nação ao fracasso. Espasmos de civilidade, como os que se veem entre a maioria dos governadores na corrida paralela por vacinas contra a covid-19, mal disfarçam o desejo dos que já têm poder em assegurá-lo. E não necessariamente pelo voto popular.


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Após a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para presidir a Câmara dos Deputados, com o aluguel do Centrão pelo Governo mediante cargos e dinheiro para emendas parlamentares, os planos para dificultar punições a congressistas infratores vão se avolumando e, em breve, desaguarão no plenário.


Assim deverá ser com medidas que poderão alterar trechos das leis de Improbidade Administrativa, da Ficha Limpa e da lavagem de dinheiro, como destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Sem falar na proposta de emenda à Constituição (PEC) pela qual se pretendem ampliar a imunidade parlamentar e minimizar o risco de prisão de deputados e senadores.


Nem mesmo diante de uma crise sanitária internacional, em que o Brasil é visto como perigo ao mundo, políticos se constrangem em querer da vida pública mais benefícios. O que deveria ser escandaloso soa como natural, e sai, até, da boca do presidente da República, Jair Bolsonaro.


Ainda ontem, Bolsonaro respondia a uma apoiadora, no Palácio da Alvorada, que lhe perguntou como ia o projeto de criar a sigla Aliança pelo Brasil. Disse ele que “estou namorando outro partido, onde seria dono dele, como alternativa se não sair o Aliança”. Caciquismo.


Não se deve imaginar que governos estaduais tentam driblar a esfera federal apenas pela urgência de poupar vidas. É, também, um nicho de capital político, já aproveitado pelo governador João Doria (PSDB) ao se apressar nas negociações com a China e em fazer o Estado produzir vacinas. Bolsonaro custou a notá-lo, mas tem, por ora, público que lhe dá crédito farto.


É a regra do jogo. Que seja pelo bem coletivo. Intenções da classe política à parte, espera-se que parlamentares mais preocupados com a coisa pública, Poder Judiciário e Ministério Público estejam sintonizados com a sociedade civil organizada em transformar o abecê político em histórias melhores.
Porque o mundo civilizado sabe que cada letra tem um significado. Nos Estados Unidos, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, observa que a crise decorrente da pandemia tem formato de “K”: a haste superior mostra os mais ricos avançando em renda, e a perna inferior, a base mais atingida pelos efeitos socioeconômicos do coronavírus.


No Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, há meses prevê uma recuperação econômica nacional em “V”, com uma queda vertiginosa seguida de rápida retomada. Com o prolongamento da doença, o braço direito dessa letra está contido. Ele, agora, percebe que o “V” é de vacinação em massa. Sem ela, ficamos em “O”, circular e infinito.


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