A lisura das urnas. Ainda

Essa não é, sequer, uma pauta que fale de Brasil e seus problemas, seus desafios e bandeiras econômicas e sociais

Por: Redação  -  15/06/22  -  07:25
  Foto: Divulgação

A menos de quatro meses para as eleições gerais, parece inacreditável que na pauta política do País ainda esteja incluído o debate em torno da legitimidade das urnas, da lisura da apuração, da possibilidade de aferição de seus resultados. A mais recente polêmica envolve o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.


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Na última sexta-feira, Nogueira rebateu análise do TSE que apontou erros de cálculo e confusões de conceitos ao rejeitar, em maio, sete propostas dos militares de mudanças nos procedimentos das eleições. Disse, ainda, que os militares “não se sentem devidamente prestigiados na discussão com o TSE. Pelo sistema atual, porém, podem atuar na auditoria das eleições Forças Armadas, partidos políticos, federações, coligações, OAB, Ministério Público, Congresso, STF, CGU, Polícia Federal, TCU, universidades, entre outras entidades.


O questionamento das Forças Armadas sobre o processo eleitoral de votação nas urnas eletrônicas só começou no ano passado, e foi desencadeado por parte do presidente Jair Bolsonaro, que inclusive defendia a volta do voto impresso em paralelo ao sistema atual. Instados por Bolsonaro, os militares já apresentaram 88 questionamentos ao sistema, incluindo sugestões de mudanças nas regras do pleito. Ora, antes de levantar essa bandeira da falta de lisura das urnas eletrônicas e colocar em dúvida eventual resultado negativo em outubro próximo, o presidente jamais havia duvidado da assertividade do sistema em todos os 28 anos em que foi eleito. Além disso, com tantas entidades e partidos políticos no acompanhamento das apurações, jamais se teve notícia de fraude ou desvio de números.


Ao fazer insinuações infundadas e não apresentar qualquer prova que justifique mudanças no sistema, o presidente Jair Bolsonaro ocupa a pauta política com um tema sem relevância neste momento. E acaba desencadeando ações e reações que tomam o tempo e a energia das entidades que deveriam estar se ocupando de outras questões, como TSE, Forças Armadas e o próprio Congresso. O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, deveria estar mais preocupado em intensificar as buscas na Amazônia pelos dois desaparecidos ou, então, ajudando a combater grileiros que se apossam de terras indígenas.


Esse é um debate esvaziado de propósito, sem conexão com fatos reais, que só serve para acirrar ainda mais a turbulenta relação entre grupos políticos radicais, especialmente nas redes sociais. Não é, sequer, uma pauta que fale de Brasil e seus problemas, seus desafios e bandeiras econômicas e sociais. Mantê-la na agenda só interessa aos que querem tirar foco do que realmente importa. Lamentável que se perca tempo e energia discutindo uma questão que há muito já deveria ter sido superada.


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