De Série em Série: 'Eu Nunca' exalta protagonismo feminino e relacionamentos saudáveis

Favorita na Netflix, a série combate com bom humor a competitividade feminina e estereótipos de gênero frequentes na TV

Por: Bia Viana  -  31/07/21  -  07:49
 Devi, Eleonor e Fabiola fortalecem a narrativa de amizades femininas saudáveis em meio aos conflitos da adolescência
Devi, Eleonor e Fabiola fortalecem a narrativa de amizades femininas saudáveis em meio aos conflitos da adolescência   Foto: Divulgação

Diante de tantas histórias adolescentes carregando mais do mesmo, Eu Nunca é uma opção refrescante sobre amadurecimento e família de um ponto de vista autenticamente feminino. Com escrita afiada e elenco representativo, a produção tem um charme natural que emerge em sua narrativa, destacando-se facilmente no catálogo de originais Netflix.


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Lançada em 2020, a comédia de duas temporadas conta a história de Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan), uma adolescente com ascendência indiana criada nos Estados Unidos junto à mãe, a severa Nalini (Poorna Jagannathan), e sua prima, a bela e inocente Kamala (Richa Moorjani). Após um primeiro ano terrível na escola, Devi conta com suas duas melhores amigas, Eleanor (Ramona Young) e Fabiola (Lee Rodriguez) para mudar radicalmente — da nerd “esquisitona”, ela planeja alcançar status social, incluindo as primeiras bebedeiras, festas escondidas e um relacionamento escondido com o garanhão Paxton (Darren Barnet) —, tudo isso enquanto tenta escapar do tradicionalismo cultural imposto pela mãe.


A clássica rebeldia adolescente pode parecer igual a muito do que já vimos, exceto por um detalhe muito importante: Devi enfrenta a perda do pai, Mohan (Sendhil Ramamurthy), seu melhor amigo no mundo, e por conta do trauma, perde os movimentos das pernas por três meses. A partir dessa premissa, somos convidados a ver o mundo pela perspectiva de Devi, munidos de todo drama e confusão típicos da personagem em uma fase de mudanças naturais e impostas.


A narrativa é intercalada em primeira pessoa e na presença de um narrador improvável, o tenista profissional e campeão mundial John McEnroe. Munido de um carisma fundamental para o bom funcionamento de várias piadas mais adultas (lembrando, por experiência na própria Netflix, a narrativa essencial de Anthony Mendez na igualmente cômica Jane The Virgin), o narrador se torna um elemento chave para entendermos os pensamentos de Devi e familiarizarmos com sua personalidade.


Os dilemas clássicos do gênero estão presentes, mas são desenvolvidos com maior naturalidade, sem a intenção de estereotipar suas personagens. Sexo, atração, amizade e traição entram em pauta das maneiras mais desajeitadas possíveis, com humor e leveza próprios de Mindy Kaling, criadora e produtora executiva da série, que baseou a comédia em sua própria vida.


 A relação entre Devi e sua mãe passa por conflitos, mas reflete importância do diálogo entre mães e filhas
A relação entre Devi e sua mãe passa por conflitos, mas reflete importância do diálogo entre mães e filhas   Foto: Divulgação

Os conflitos amorosos centrais comuns às séries adolescentes dão espaço para questões mais existencialistas, como identidade, autodescoberta, luto, perdão, trauma e ancestralidade. As relações com sua mãe, prima e amigas, que permeiam sentimentos como raiva, inveja e ciúmes, tem um cuidado em não estereotipar relacionamentos, evidenciando justamente o machismo estrutural que direciona muitas narrativas sobre meninas e mulheres.


Com bom humor e inteligência, Eu Nunca supera os clichês do gênero e cria um novo espaço de comédia, orientado pelo protagonismo feminino e pela escuta ativa dos problemas sociais latentes em nossa sociedade. Elucidando várias questões importantes enquanto diverte e entretém, é uma ótima opção para maratonar, sem moderação, com toda a família.


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