Idosa de 80 anos se torna uma colecionadora de viagens pelo mundo

Leda Gontow já desembarcou em 44 países diferentes

Por: Leda Gontow  -  19/08/19  -  21:11
  Foto: Acervo Pessoal

Tenho 80 anos de idade e comecei a viajar pelo Brasil e o mundo aos 42. Até essa idade, eu nunca tinha viajado para fora do país. Criei meus filhos sozinha. Então, eu tinha uma vida meio tolhida em termos de dinheiro. Sou professora aposentada, dei aulas de português durante 41 anos – no Rio Grande do Sul, minha terra natal, e depois em São Paulo. E tive de trabalhar muito para criar meus filhos. E quando eles ficaram adolescentes e tinham algum trabalho ou foram morar sozinhos, eu disse: está na hora de eu começar a aproveitar a vida. E como sou professora, eu só podia viajar em período escolar. Sempre era um pouco mais caro, porque era alta estação.


Eu tinha 42 anos quando fiz minha primeira viagem grande. Hoje, aos 80 anos, já viajei para 44 países, fora alguns lugares que repeti, como Nova Iorque, Paris, Canadá... Conheço também 17 estados do Brasil.


Levo uma vida muito simples. Moro num apartamento pequeno, não tenho empregada... Procuro não ir a restaurantes caros, vou nas cantinas da vida. E quando ainda dava aulas, economizava nas conduções, voltando a pé da escola. E eram vários quilômetros! Depois que aposentei, também fui guardando o dinheiro em poupança. Tudo para viajar, que é a coisa que mais amo na vida, além da leitura e da minha família.


A primeira vez que fiz uma viagem grande foi para os Estados Unidos. Fui para a Disney, era uma excursão. Eu disse: eu vou para Nova Iorque porque não sei se minhas possibilidades vão me fazer voltar... Se eu soubesse que depois eu conseguiria viajar muito (risos)... Daí fui sozinha para Nova Iorque.


Eu não acho bom viajar sozinha, porque é muito bom compartilhar as experiências. Alguém dá alguma ideia melhor de passeio... Mas como sou muito comunicativa, acabei conhecendo um vizinho em Nova Iorque, que estava no mesmo hotel que eu. Nos encontramos casualmente no lobby, eu não o conhecia, e fomos à Broadway juntos.


Meu inglês é trôpego, mas não passo fome. Talvez algumas vezes coma o que não quero... (risos). Mas nessa época da viagem eu não falava quase nada de inglês.


Eu trabalhava em escola, no Rio Grande do Sul, e em São Paulo fui para uma escola privada. Quando comecei a viajar, já estava em São Paulo. Tenho dois filhos homens e uma menina, mais nova. E há cinco anos ela mora na Inglaterra e aproveito que ela está lá e faço alguns tours pela Europa. Mas eu já tinha viajado antes para lá...


Daí eu vi como é bom viajar e que não precisa de muito dinheiro para viajar, principalmente hoje em dia, porque você pode pagar em várias vezes. Fico em hotéis mais simples. Gosto de andar, bater perna, para conhecer tudo. Não gosto de pegar táxi.


Um dos meus filhos também morou em Israel e fui visitá-lo. Foi minha segunda viagem. Mas como houve um problema na turbina do avião no Rio de Janeiro, quando nós chegamos na Espanha, dois dias depois, o avião já estava para decolar para Eilat. Daí saímos correndo para pegar o avião e a mala não foi. Demorou mais de uma semana para chegar em Eilat. Tive até de usar uma bermuda meio rasgada do meu filho (risos). Tudo faz parte do folclore da viagem...


Mas eu já viajei muito. Uma vez peguei uma tia e viajamos por oito países da Europa. Fomos à França, Inglaterra, Espanha, Portugal, com guia em espanhol. Foi muito bom. Todos os anos eu viajo.


Às vezes, há oferta de tour mais barato. Ou uma oportunidade, como uma vez, quando conheci um senhor dinamarquês. Ele tinha uma agência no Rio de Janeiro. E havia uma promoção para a Escandinávia. Daí fui pra lá. Aliás, um dos meus lugares favoritos no mundo.


Uma vez, quando viajei pela primeira vez à Espanha, estudei sobre Velasquez. Para quando chegar no lugar, já conhecer a sua história. Aliás, sempre procuro estudar o destino para onde vou, para depois ver, in loco, o que vi nos livros. É uma experiência incrível.


Costumo reservar as viagens pela internet, mas às vezes vou com agência. Ou viajo com meus filhos ou com algum parceiro eventual. Aliás, eu estive há dois anos com meu filho nos Estados Unidos. Fomos para Salem (capital das bruxas), em Massachusetts, no Dia das Bruxas. Ficamos vários dias lá, parando em hotéis tipo motel, porque lá tem outro conceito.


Eu tenho vários passaportes, nem ponho fora... Antigamente, eu tinha um álbum para cada viagem. Hoje, que se tem rede social, guardo lá as imagens. Tenho também um caderno que tem o país e o ano que eu fui, para ter uma ideia de quantos países eu conheci.


Porque acontece também de eu repetir algum destino. Por exemplo: já fui oito vezes para os Estados Unidos, três para o Canadá, nove para Israel. Paris eu fui cinco. Fora outras cidades da França, como a zona dos vinhedos.


A melhor coisa que se tem é viajar, porque conhecer in loco é muito melhor do que ver os lugares em livros. É muita cultura.


Os fiordes da Escandinávia. por exemplo. Eu achava que era uma coisinha pequena nos livros. Quando cheguei lá, me surpreendi. Dinamarca é belíssima também. Gostei muito da Finlândia, embora seja tão pequenina. Uma curiosidade de lá é que eles lavam os tapetes e os espremem que nem macarrão. Depois deixam estendidos na rua e ninguém mexe. É um nível de honestidade incrível.


Gostei muito também de São Petersburgo, na Rússia, porque parece uma Veneza. É muito bonito. Também me encantei, sobretudo, com a educação do povo no Japão. Nunca fui tão reverenciada como lá. Fique num hotel chique e quando uma moça carregou minha mala e fui dar-lhe uma gorjeta, ela falou: ‘Não, a senhora já me recompensou vindo para o Japão’.


Já no México, me encantei com a amabilidade e a alegria do povo, super afável. Para mim, não tem coisa ruim numa viagem. Tem países que têm mais coisa natural, outros mais tecnologia.


Eu amo Nova Iorque, porque amo ver pessoas, é cosmopolita. Israel também está no meu coração, porque sou judia. As praias e a história antiga local. Em Israel você sorve história.


Cada um escolhe a vida que quer. Eu gosto de viajar. Sou pragmática. Pé no chão. Tudo o que posso fazer eu faço. Eu curto a vida! Aliás, meu próximo destino, em 2020, é a Austrália, onde moram uns sobrinhos meus.


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