DJs da Baixada Santista se destacam no cenário nacional e internacional

Popularidade faz com que até cursos sejam elaborados para ensinar técnicas de mixagem

Por: Pedro Porto*  -  15/03/22  -  18:26
DJ Head Garcia, de Guarujá, um dos principais da cena eletrônica regional
DJ Head Garcia, de Guarujá, um dos principais da cena eletrônica regional   Foto: Francisco Ribeiro Filho/Arquivo pessoal

A Baixada Santista sempre exportou talentos musicais. Nos últimos anos, não tem sido diferente. Uma das principais provas desse sucesso tem a ver com os DJs. Os profissionais locais da área têm o que comemorar. Além de brilharem nas pistas, eles chegam a disputar campeonatos, não só de âmbito nacional, mas também em outros países.


Atualmente, um dos grandes DJs do litoral é Francisco Pereira Ribeiro Filho, 47 anos, de Guarujá. Mais conhecido como Head Garcia, ele atua na área desde 1999, e é competidor desde 2016, com mais de 130 participações nos maiores campeonatos do Brasil, da América Latina e até mesmo de outros continentes.


Head Garcia diz que, para ser DJ, é necessário ter “o dom”. “Se você gosta muito de música, basicamente terá o dom. A partir daí, basta desenvolver ferramentas para explorar essa característica”.


Na Baixada Santista, há vários cursos para DJ. Neles, o iniciante precisa ter ritmo, tempo e conhecimentos musicais para criar sets e começar a tocar. “A tecnologia ajuda muito e, hoje, existem equipamentos com os quais você pode tocar sozinho, basta apertar um botão”, explica Head Garcia.


O DJ de Guarujá é responsável por um desses cursos. “Ainda ensino da forma antiga, com toca-discos, fone em um dos ouvidos e o outro no ar. Isso é para juntar as duas músicas usando realmente o ouvido, e não necessariamente a tecnologia em si, como sempre foi feito”.


Garcia admite que, no início, “é bem complicado” fazer carreira como DJ. “Você tem que tocar em festas por R$ 200 ou R$ 300 por apresentação e achar alguém que trabalhe com buffets, porque ele sempre precisará de um DJ”, argumenta.


De acordo com Garcia, a cena eletrônica mudou muito. “Antes, o DJ tocava muito a música dos produtores. Hoje, o próprio produtor toca a música dele. A lógica se inverteu. Tanto que você vê DJs ruins, péssimos, tocando em festas, enquanto os DJS que realmente são bons não tocam nesses lugares. Eu diria que a situação apenas mudou, não necessariamente melhorou”.


Para Edmilson Melo de Jesus, mais conhecido como DJ Nenê, de 54 anos, também de Guarujá, há uma linhagem de DJs dos anos 90, “quando se aprendia na raça”, sem curso. Nessa época, as pessoas tocavam em festas com toca-fitas e toca-discos, que vinham sem o pitch (um mecanismo que controla a velocidade da rotação para que se obtenha melhor transição entre as músicas).


Como acontece com outros DJs, Nenê tomou gosto pela profissão vendo outros tocarem. Ele afirma, assim como Head Garcia, que um DJ em início de carreira não fatura muito, por não ser conhecido, mas começa fazendo festas e é contratado pela equipe de som, ganhando entre R$ 100 e R$ 300.


Só agora, com a volta à normalidade, os DJs voltaram a tocar em público. Nenê lembra que ainda é necessário ter o básico para se apresentar. “É preciso ter equipamento próprio, que hoje em dia está muito caro. O normal seria ter dois aparelhos de CD com recursos para DJ e um mixer, mas se opta por um notebook e uma controladora para DJ, que às vezes também sai por um preço alto. Não temos DJs saindo do forno todos os dias por questões financeiras”.


Robson Xavier, de 44 anos, atua em São Vicente e disputa apenas campeonatos. Não trabalha mais com festas ou eventos noturnos. Ele conta que, ao contrário de muitos colegas, é autodidata. “Estou na profissão desde os anos 90. Aprendi vendo meus amigos tocarem e a habilidade se desenvolveu naturalmente”, conta.


Xavier acredita que, no começo, é sempre bom o DJ construir relações para ver como as coisas funcionam, frequentar casas noturnas e eventos, e ir se ambientando. “Todo início de carreira é difícil”, diz o DJ. “ainda mais em uma área que tem muito profissional”.


No começo, explica Robson Xavier, o profissional precisa fazer seu nome sem cobrar muito caro, porque as pessoas vão contratar outros profissionais, que já são conhecidos. “Uns amigos meus atuam no segmento de flashback, em bailes da Baixada, e cobram por volta de R$ 500 ou R$ 600 por noite, mas vão só para tocar, não levam todo o equipamento para o local”.


Quanto à pandemia, o DJ diz que a situação está melhorando, e as casas noturnas estão voltando, mas gradualmente. “Tem muita casa que ainda está fechada, mas os eventos corporativos estão em alta”, conclui.


*Reportagem feita como parte do projeto Laboratório de Notícias A Tribuna - UniSantos sob supervisão do professor Eduardo Cavalcanti e do diretor de Conteúdo do Grupo Tribuna, Alexandre Lopes.


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