Exclusivo: Andres Rueda fala sobre risco de rebaixamento do Santos, Marcos Leonardo, Doyen...

Em meio a turbulências dentro e fora de campo, presidente mantém a confiança na permanência do Santos na Série A

Por: Régis Querino  -  16/08/23  -  07:11
Apesar das turbulências, Rueda diz que deixará o clube numa situação melhor do que encontrou
Apesar das turbulências, Rueda diz que deixará o clube numa situação melhor do que encontrou   Foto: Silvio Luiz/AT

A pouco mais de quatro meses de terminar o mandato, marcado por constantes trocas de técnicos e dirigentes, insucessos no campo e brigas para fugir do rebaixamento, o presidente Andres Rueda vê a pressão aumentar com o time na zona de descenso do Brasileirão.


Extracampo, conselheiros já ensaiaram pedidos de impeachment e, na segunda-feira (14), um relatório apresentado na reunião do Conselho Deliberativo acusou o dirigente de “omissão deliberada” sobre supostos casos de dolo ao Santos, que teriam sido cometidos em gestões passadas.


A questão será encaminhada à Comissão de Inquérito e Sindicância (CIS), que pode abrir investigação. Creditando a ação a fatores políticos, Rueda diz estar focado nos “resultados dentro de campo”. E, apesar do delicado momento do time na tabela, ele mostrou confiança na recuperação do Peixe no Brasileirão e afirmou que deixará “o clube muito melhor do que encontrou”.


Um relatório do Grupo de Avaliação de Perdas e Riscos, criado em sua gestão, apontou “omissão deliberada” do senhor, em relação a possíveis dolos ao clube em gestões passadas. E encaminhou o assunto para a Comissão de Inquérito e Sindicância. Houve omissão?

Um documento que supostamente tem que ser técnico e acaba misturando com parte política perde um pouco o sentido. O documento, numa parte, narra o que efetivamente aconteceu com o Santos nesses últimos dez anos. O Santos foi pilhado por erros grosseiros que representaram um prejuízo incalculável, a ponto de o clube estar praticamente em insolvência. O caso Doyen, a maioria do que se cita são coisas de 2013, já é sabido os desmandos que ocorreram e isso gerou ações na Justiça lá atrás, onde o clube perdeu e, por decisão judicial, foi obrigado a pagar. Não pagou, teve as contas bloqueadas e a gente entrou. A maioria já tinha sido prescrita antes de a gente assumir.

Aí você tem uma série de denúncias que não existem provas reais pra entrar com um processo. Existem fatos que aconteceram que podemos achar imorais, incompetentes, mas não há provas de dolo. Você contratar um jogador por 13 milhões de euros (Leandro Damião) é um ato de gestão que o executivo tem o direito de fazer, não é uma prova que foi feito dolo em cima disso. Agora, naquilo que a gente tinha provas, entrou com tudo. O que tem hoje são cinco processos contra ex-presidentes. Alguns a gente está ganhando, outros perdendo.

Vou citar um exemplo, onde houve prova real de dolo. Foi paga uma comissão para uma empresa, com valor relativamente alto, quase R$ 5 milhões, uma intermediação do Gabigol através de um contrato verbal, na época do José Carlos Peres. A gente entrou e ganhou, mas eles ainda podem entrar com recursos.


O senhor vê motivação política, mas o Marcelo Milani, que apresentou o relatório, não era partidário de sua candidatura?

O que acontece é inerente da democracia. A nossa chapa foi montada com a união de vários grupos distintos. Agora, uma vez empossado, cada grupo tem uma ideia do que fazer ou não fazer. Quando alguém pede alguma coisa ou dá sugestões e a gestão tem uma opinião diferente, a partir desse momento, vira oposição. Isso é normal acontecer, o pessoal critica dizendo que essa gestão não ouve, o que mais a gente faz é escutar todo mundo, mas a decisão final é da gestão. A gente ficou muito decepcionado no primeiro relatório apresentado pro Conselho, onde na verdade nos foi prometido provas contundentes. Se você for puxar o primeiro relatório, narra os fatos de uma maneira não 100% correta e que não gerou nada de produtivo. Agora, mesmo assim, todas as informações que a comissão de risco pediu foram entregues ou por nós ou pelo Conselho Fiscal. Lembrando que todos esses fatos foram analisados nas épocas, lá atrás pelos conselhos fiscais. Agora, o que ele quer? Quer entrasse com ações contra o Modesto (Roma) e contra o (José Carlos) Peres, independente de ter provas ou não? Seria uma irresponsabilidade total.


O relatório também apontou como suspeitos os pagamentos fracionados feitos pelo Real Madrid ao Santos na compra do atacante Rodrygo...

Qualquer empresa que recebe um valor de fora (do País) não é obrigada a fazer o câmbio de uma vez só. Você recebe, por exemplo, R$ 1 milhão, e com a oscilação do dólar, se acha que o dólar vai subir, faz o câmbio só do dinheiro que o seu fluxo de caixa vai precisar naquela semana. Não tem ilegalidade, você pode gostar ou não gostar, é um procedimento normal em qualquer empresa e no clube, dificilmente uma operação com esses valores, o pessoal traz todo o dinheiro de uma vez só.


O relatório demonstrou que o Santos pagou R$ 384 milhões à Doyen de 2013 a 2019. Quanto o Santos ainda deve para a empresa?

Tudo que a gente paga está nos balanços. Eu fiz um acordo (com a Doyen) na Câmara Arbitral de Juízo. Se eu não faço acordo, nossas contas estariam bloqueadas até hoje. A gente fez um acordo e pagou mais de R$ 48 milhões. E uma notícia boa: paguei a última parcela da Doyen na semana passada, 1,5 milhão de euros (cerca de R$ 8 milhões). O Santos não deve nada para a Doyen.


Falando agora de futebol, como está a situação do Marcos Leonardo?

Nesse momento que o clube atravessa, a gente precisa muito do jogador. O pré-requisito número um é contar com o jogador até o final do ano. Teve uma proposta apresentada muito aquém do que a gente esperava e nossa posição foi não aceitar. Estamos conversando e vamos chegar numa decisão boa, tanto pro Santos quanto pro jogador. Ele volta a treinar hoje (terça, 15), se colocou à disposição, está tudo normal.


A Roma melhorou a proposta, de 12 milhões de euros (R$ 64 milhões) mais 6 milhões de euros (R$ 32 milhões) por metas?

Quando se fala em 18 milhões, tem que ser uma meta factível, se não o clube fica com todo o risco. Eu diria que dessas metas, duas são factíveis. A convocação pra seleção e que ele jogue 75 jogos pela Roma. Agora, o risco é do Santos, porque se a Roma resolver emprestar ele pra outro clube, não vale (jogo por outro time). Ou seja, as metas estavam muito difíceis de acontecer e o risco de não vir esse valor total pro Santos.


A forma de pagamento, parcelado, também não atendeu aos interesses do clube?

A Roma ofereceu em quatro vezes, pagamento em dois anos, mas tudo isso poderia ser negociado. A proposta para o Santos, no nosso entendimento, não atendia o valor do jogador, não tinha sentido.


Se a proposta da Roma pelo Marcos Leonardo fosse como a feita pelo Chelsea pelo Ângelo e pelo David Washington, de 15 milhões de euros à vista, o Santos poderia ter negociado o atacante?

Antes do encerramento da janela poderia. depois ficou mais complicado porque demorou pra chegar a proposta do Marcos (Leonardo). E porque eu teria que ter uma peça de reposição a nível do Leonardo.


O senhor foi muito criticado por vender o Deivid Washington, mais novo e também com grande potencial, ao invés de negociar o Marcos Leonardo, a “bola da vez”.

Já era sabido, estava no planejamento, que a gente precisaria vender no mínimo dois jogadores pra equilibrar as contas do clube. Isso não aconteceria se tivesse resolvido a venda do Marcos Leonardo, aí o Deivid não seria vendido, mas demorou pra chegar a proposta do Marcos. Chegou no finalzinho, quando a janela já estava na porta de fechar. Então a gente teve que tomar uma atitude e optou por vender o Deivid. O futebol tem uma receita menor que a despesa. Se você começar hoje com compromissos zero, daqui a um ano, está com déficit de R$ 80, R$ 100 milhões. Como você cobre? Vendendo jogadores, não tem como.

Nós passamos dois anos e oito meses sem venda significativa de jogadores. Houve a venda do Ângelo, com as condições que a gente acredita boas para o clube. Hoje em dia ninguém mais compra jogador pagando à vista, qualquer jogador é pra pagar em três, quatro anos. Isso não resolveria o problema de fluxo de caixa do clube, a gente conseguiu uma boa venda por um valor significativo à vista (15 milhões de euros, cerca de R$ 80 milhões). O valor do Deivid é um valor praticamente à vista.


O Deivid está sendo vendido por 16 milhões de euros à vista mais 4 milhões de euros por metas?

É um pouco mais, 17 milhões de euros (cerca de R$ 90 milhões) à vista e 3 milhões de euros (R$ 16 milhões) por metas, só que metas que a gente pode chamar de obrigatórias, porque são todas factíveis de acontecer.


Rueda garantiu mais uma vez que não será candidato à reeleição, em dezembro
Rueda garantiu mais uma vez que não será candidato à reeleição, em dezembro   Foto: Silvio Luiz/AT

Muito se fala, principalmente nas redes sociais, que o senhor estaria preocupado em vender jogadores para pagar o dinheiro que foi emprestado através do funding, de cerca de R$ 50 milhões, avalizado por empresários...

O funding é um empréstimo que o Santos tem no banco. O Santos na verdade não deve para empresários, ele deve para o banco. Temos um empréstimo de aproximadamente isso, que uma parte está sendo paga mensalmente. Nossa ideia é uma parte dela terminar até o final da nossa gestão. E o que não conseguir, tem que ser pago com o decorrer do tempo.


Qual o valor desse funding que deve ser pago na sua gestão?

Tendo caixa, nossa prioridade é eliminar empréstimos. Imagino deixar uns R$ 20 milhões (para a próxima gestão).


A venda dos jogadores vai ajudar o caixa do clube, mas a ameaça de rebaixamento no Brasileirão é concreta e mandaria à lona os seus planos de reerguer o Santos.

Eu não vejo essa possibilidade. Agora, com os reforços que a gente está trazendo, com o trabalho do novo treinador, desde coordenação técnica e jogadores, eu diria quase com certeza que é impossível a gente fazer uma campanha tão ruim como foi essa (do primeiro turno). A gente não tem elenco para estar nessa situação, se você analisar jogador por jogador do Santos, pode estar em má fase, pode não estar entregando, nosso elenco é de razoável pra frente. Então, eu tenho certeza de que com essas contratações, a gente volta mais forte e vai transformar essa situação que a gente está.


Além do volante venezuelano Rincón, anunciado terça (15), o Santos está negociando com os atacantes Alexis Sánchez e Alfredo Morelos?

A gente tá conversando com alguns jogadores, está atento ao mercado e vamos ver se consegue trazer mais uma ou duas peças pra fortalecer o time.


O Santos vai receber cerca de R$ 20 milhões pela venda do Neymar, do Paris Saint-Germain ao Al Hilal, da Arábia Saudita. Mas parte desse valor será destinada a quem comprou o token Meninos da Vila. Quanto o clube vai lucrar com a negociação?

Uma parte vai para o token da solidariedade, tá dentro daquela cesta. O Santos tem mais da metade dos tokens, mais da metade dos R$ 20 milhões.


Muita gente critica a sua gestão, que não estaria reduzindo as dívidas do Santos. As críticas procedem?

Está tudo em balanço, o pessoal pega o passivo e esquece do ativo. A gente pagou, isso vai ser demonstrado na prestação de contas. Só de dívidas anteriores que bloqueavam o dia a dia do clube foram mais de R$ 250 milhões. Não esqueça, é como uma caixa d’água, você paga e entra coisa nova. O clube é deficitário, se a gente não tivesse pago esse valor, o clube estava fechado.


Resumindo esse ativo e passivo, qual é a dívida real do Santos hoje?

É muito mutável, deixa sair o balanço que aí é o número real.


E o novo CT da base, que era uma promessa de campanha?

Infelizmente teve muita dificuldade em encontrar terreno, isso fica pra próxima gestão cuidar.


Alguma novidade sobre a compra do CT Rei Pelé junto a Secretaria de Patrimônio da União?

Continua, a SPU aceitou a nossa avaliação, agora está em Brasília pra ser despachado e poder assinar, a gente está comprando. Houve mudança de governo, sempre demora um pouco mais. Agora, a grande vitória, independente disso, é que a gente estava em vias de fato de ser despejado. A gente já conseguiu o comprometimento de, se tudo der errado e não sancionar essa opção de compra, fica renovada por mais 30 anos a cessão do terreno ao Santos.


O Santos vai assinar o contrato da nova Vila Belmiro com a WTorre em sua gestão?

Vamos, sem dúvida. O memorando de intenções já está em vias de fato. Demorou um pouco mais do que o imaginado, por causa das questões da WTorre com o Palmeiras. Eu já falei tanto e depois não se cumpriu o prazo, mas se não acontecer nada, ainda dentro de agosto.


E aquela proposta de parceria com a Qatar Sports Investiments (QSI), que foi ventilada meses atrás?

O projeto que a gente montou não está atrelado à QSI. O projeto que a gente imaginou, de médio e longo prazo, para o clube se capitalizar melhor, ter uma tranquilidade maior na parte financeira, é bom para ser tocado na próxima gestão.


Por falar em eleições, o senhor mantém a posição de não concorrer à reeleição em dezembro?

Total. De novo, faz parte da nossa campanha lá atrás, está lá escrito, estou repetindo isso há um ano e meio. Não vou pra reeleição, é uma posição líquida e certa.


O seu grupo terá algum candidato?

Aí é uma questão do grupo indicar. Eu tô focado mais na gestão do dia a dia do clube, trabalhando, incansável. A gente vai deixar o clube muito melhor do que encontrou, com uma situação financeira melhor. Agora é correr dentro do campo pra materializar e conseguir o que precisa, e trazer resultado, agora é resultado dentro de campo.


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