Com brasileiros, Emirados Árabes naturaliza estrangeiros para ir à Copa do Mundo

O país conhecido pela riqueza das cidades de Dubai e Abu Dabi conta agora na seleção com nomes bem brasileiros

Por: Do Estadão Conteúdo  -  17/01/21  -  10:30
Atualizado em 17/01/21 - 11:22
O atacante Caio Canedo é um dos brasileiros naturalizados
O atacante Caio Canedo é um dos brasileiros naturalizados   Foto: Divulgação/Al Ain

A ida da próxima Copa do Mundo para uma nação do Oriente Médio, o Catar, fez outro país da região preparar um plano ousado para reforçar a seleção. Os Emirados Árabes Unidos iniciaram nos meses finais de 2020 um mutirão inédito para naturalizar estrangeiros que há tempos estão na liga local. O objetivo é melhorar o nível da equipe. E os brasileiros são a mão de obra preferida.


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O país conhecido pela riqueza das cidades de Dubai e Abu Dabi conta agora na seleção com nomes bem brasileiros. Neste ano, passou a contar com o meia Fábio Lima e o atacante Caio Canedo. Já em 2020, o primeiro reforço internacional foi o argentino Sebastián Tagliabúe, que até já disputou competições oficiais. A lista deve aumentar pelos próximos anos, assim que outros jogadores conseguirem a documentação necessária.


A Fifa determina que um atleta só possa defender outra seleção se tiver no mínimo cinco anos de residência no país. Essa atitude foi tomada há cerca de dez anos justamente para frear o processo desenfreado de "importação" de talentos.


Porém, logo depois de um jogador atingir esse prazo mínimo, dirigentes já tentam resolver logo a burocracia. Conseguir naturalizar um brasileiro significa ao clube ter uma vaga a mais para acomodar outros estrangeiros no elenco.


O atacante Caio Canedo, de 30 anos, foi revelado pelo Volta Redonda, teve passagens por Botafogo e Internacional e está nos Emirados Árabes desde 2014, quando chegou ao Al-Wasl. A oportunidade para jogar pela seleção veio na última terça-feira. A equipe realizou um amistoso contra o Iraque e ele já foi titular. O jogo terminou 0 a 0.


"Logo depois que completei cinco anos no país, os dirigentes já começaram a lidar com os trâmites burocráticos para me naturalizar. Eu aceitei na hora, porque é uma forma de retribuir ao país tudo o que foi feito por mim", disse ao Estadão o jogador, que agora defende o Al-Ain. "Toda a minha documentação para me naturalizar foi organizada pela própria federação de futebol do país. Foi tudo rápido", contou.


É a primeira vez na história que a seleção dos Emirados Árabes Unidos passa a contar com estrangeiros. A equipe não vai para uma Copa do Mundo desde 1990, quando disputou o torneio e foi dirigida por Carlos Alberto Parreira. O plano da seleção é aproveitar que, pelo fato de o Catar já estar automaticamente classificado à Copa por ser a sede, as Eliminatórias Asiáticas estarão menos concorridas.


Na primeira divisão do futebol local atuam pouco mais de cem estrangeiros, dos quais cerca de 40 são brasileiros. Os times locais costumam pagar bem, oferecem estrutura de adaptação aos estrangeiros e até distribuem alguns agrados especiais a quem se destaca. Carros de luxo e casas estão entre os presentes mais comuns.


Por ser um elenco formado totalmente por quem atua na liga local, a seleção não tem grandes estrelas. Mas há uma vantagem. Todos os atletas se conhecem bem. "Os jogadores da seleção me receberam muito bem. Eu já conhecia todos ou porque são do meu time ou por jogar contra. Estou confiante de que a equipe pode almejar algo melhor, como uma disputa da Copa", comentou Caio.


A possível oportunidade de ser naturalizado e defender a seleção já virou um atrativo para jovens brasileiros. O atacante Erick, de 20 anos, trocou o Vila Nova, de Goiás, pelo Al-Bataeh, da segunda divisão. Entre os motivos da transferência estão o projeto de uma carreira voltada a servir a seleção árabe.


"Quando eu recebi a proposta do Emirados, foi me apresentado um plano de carreira, um plano futuro em que eles têm para formar atletas aqui, se naturalizar pelo país, disputar uma Copa do Mundo futuramente. Claro que isso é um sonho de todo garoto", contou o atacante. Erick está para completar a primeira temporada no país. Portanto, terá de esperar pelo menos mais quatro anos para se naturalizar.


Para fortalecer o sonho de jogar a Copa, os Emirados Árabes Unidos têm feito uma preparação diferenciada. A equipe busca se reunir mesmo fora de Datas Fifa para realizar treinos e amistosos. O foco está voltado para março, no retorno das Eliminatórias. A seleção tem mais quatro compromissos para se classificar à fase seguinte. Porém, jogará três vezes como mandante e tem boas chances de conseguir.


O técnico do país é o experiente holandês Bert van Marwijk, de 68 anos. O treinador foi vice-campeão mundial com o seu país na Copa de 2010 e ganhou fama no Oriente Médio depois de levar a Arábia Saudita para a última Copa. O treinador pediu demissão do cargo pouco depois das Eliminatórias de 2018 e acertou contrato na sequência para dirigir a Austrália na Rússia. Agora, tem novo desafio. "É um treinador que gosta de ver o time com posse de bola e com os jogadores bem próximos. É um estilo holandês de trabalhar", resumiu Caio.

OUTROS PAÍSES


Antes de a seleção dos Emirados Árabes Unidos se mobilizar em busca de naturalizar jogadores, quem fez movimento parecido foi a China, ainda em 2019. O governo incentivou o trabalho da federação local para buscar atletas que estão há tempo no país ou vasculhar quem possa ser descendente de chineses.


O processo fez com quem os brasileiros Aloísio, Ricardo Goulart, Elkeson, Alan e Fernandinho aceitassem se naturalizar. Todos tiveram de adotar nomes em mandarim e renunciar à cidadania brasileira, já que a China não admite dupla nacionalidade.


Elkeson, agora chamado de Ai Kesen, até fez gols pelo país pelas Eliminatórias da Copa. O ex-são-paulino Aloísio agora é Luo Guofu e aguarda mais oportunidades. Todos estão há pelo menos cinco anos no país.


A seleção se empenhou tanto em vasculhar jogadores que encontrou, por exemplo, um inglês filho de chineses. Nico Yennaris jogava na segunda divisão da Inglaterra quando aceitou a proposta para se chamar Li Ke, defender outra seleção e se transferir ao Beijing Guoan.


A globalização do futebol deve fazer com que na próxima Copa outras seleções tenham brasileiros nos elencos. A Itália, por exemplo, conta como meia Jorginho e o lateral Emerson Palmieri. A Ucrânia tem o meia Marlos e o atacante Júnior Moraes. A Rússia vem convocando o goleiro Guilherme Marinato e o lateral Mário Fernandes.


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