“Santos tem no seu DNA o protagonismo”, diz Rogério Santos

Prefeito fala, em entrevista exclusiva, sobre obras, mudanças climáticas, turismo, moradias e mais

Por: Redação  -  26/01/22  -  20:28
Rogério Santos, prefeito de Santos
Rogério Santos, prefeito de Santos   Foto: Acervo/AT

O senhor disse para A Tribuna, mês passado, que a sustentabilidade está entre os principais desafios dos gestores. Santos foi a primeira cidade do País a ter um plano municipal de mudanças climáticas. Quais são os resultados práticos dessa ação?


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Em 2016, Santos saiu na frente nessa questão. Neste ano, também de forma pioneira, fizemos a revisão desse plano. A partir de 2016, começamos a fazer várias intervenções com base nas diretrizes traçadas, como as obras de macrodrenagem na Zona Noroeste e o projeto inédito na Ponta da Praia, onde foram instalados bags (sacos de areia submersos), e estudos urbanísticos sobre o aumento das marés, que está interferindo na configuração das praias, e a parte de contenção dos morros. Não podemos esquecer das fortes chuvas que atingiram a Baixada Santista em março de 2020, causando mortes. As chuvas torrenciais por si só mudaram a configuração das áreas de risco dos morros. Esse plano é orientativo. As áreas de mais risco nos morros já sofreram intervenções. O Município investiu R$ 50 milhões em obras de contenção, instalação de escadarias hidráulicas, reconstrução de viários e desocupação de casas em áreas de riscos. Assinamos com a Caixa Econômica Federal um convênio de R$ 78 milhões. A maioria dos recursos será para obras nos morros e outras menores de zeladoria. Na Zona Noroeste, esse dinheiro será usado para complementar os recursos para a instalação de comportas e estações elevatórias. Parte desses recursos - R$ 5 milhões - também será usada na recuperação do pontilhão do Canal 1 (Av. Pinheiro Machado) com a praia (Av. Presidente Wilson).


Além desses investimentos, como a Prefeitura pode avançar nas ações para mostrar à população a necessidade de mudar hábitos por causa das mudanças climáticas?


Estamos fazendo um inventário de carbono no nosso Município. O ideal é que isso fosse feito de forma regional. Essa medida passa pelo uso do transporte público, uma reversão para que os veículos utilizem energia elétrica, a solução para os aterros sanitários e a destinação final dos resíduos sólidos. Além disso, a gente já trabalha nessa conscientização junto à população. Santos é a primeira cidade do mundo a incluir a conscientização da preservação dos oceanos nas escolas. Isso já foi reconhecido por instituições internacionais. Nossas obras públicas já vêm sendo desenvolvidas com captação de energia solar e captação de água pluvial. O Município também está fazendo a sua parte. A conscientização vem de campanhas e exemplos que a Cidade vem dando na área do Meio Ambiente. Também estamos investindo na área de habitação. Só no último ano, assinamos convênios para a construção de mais 1.200 novas moradias em parceria com o Governo do Estado. A habitação digna é um bom exemplo de sustentabilidade e recuperação ambiental necessárias para a nossa região.


Um dos projetos importantes anunciados pelo senhor, no ano passado, foi o Parque Palafitas. Como está o andamento dessa iniciativa?


O maior desafio de assentamento de palafitas é justamente a questão jurídica do nosso país, que é restrito a esse tipo de situação, ou seja, de moradias em áreas de preservação. A Prefeitura vê, com base na realidade atual do Dique da Vila Gilda, que é muito melhor você trabalhar com essa convivência nessas áreas, já que a Baixada Santista é uma região que possui poucas áreas para habitação. Queremos executar tecnologias de engenharia em prol da melhor convivência. Hoje, a realidade local é de mangues degradados. Com o Parque Palafitas, teremos pulmões de recuperação dos mangues e uma boa convivência de moradias com o ecossistema. Sabemos ainda da grande dificuldade de os municípios fazerem a fiscalização e impedir as invasões. O projeto prevê a retiradas as palafitas e a transferência das famílias para outros pontos e o reassentamento de outras famílias no local com saneamento. Além disso, criamos um programa para capacitar 600 jovens como monitores ambientais e estamos pagando R$ 400,00. São jovens do Dique da Vila Gilda que serão orientados para conscientizar as pessoas da comunidade.


Outro desafio são os empregos e Santos aposta na tecnologia. Como o senhor vê o potencial local para esse segmento?


Santos já possui essa capacidade latente. Ainda não existe o ecossistema completo para que haja o impulsionamento. Essa cadeia ainda precisa ser organizada. Daí vem a importância do Parque Tecnológico. Santos é uma cidade universitária, que tem no Porto a sua maior vocação e faz parte de uma região que está entre dois ecossistemas importantes, a Serra do Mar e Oceano Atlântico. Santos já possui várias empresas no ramo da tecnologia, mas precisamos organizar todas essas pontas. Isso não depende apenas da Prefeitura, mas também da iniciativa privada, incluindo os grandes terminais portuários, que precisam investir em diferentes tecnologias e participar de forma ativa no Parque Tecnológico. Sabemos que o Brasil não cultiva a cultura do investimento tecnológico. As empresas acabam optando por soluções de prateleira e não desenvolvendo as próprias soluções. Na parte de novos empregos, temos de destacar o Turismo focado na sustentabilidade.


O Turismo em Santos não se resume às praias?


Não. Além das praias, a Área Continental de Santos possui grandes atrativos para o turismo ecológico, como as fazendas, o mangue, a pesca esportiva e a gastronomia. Temos na Zona Noroeste o nosso Jardim Botânico Chico Mendes, que tem o observatório de pássaros e várias espécies da Mata Atlântica. Os morros possuem diversas trilhas e cachoeiras. Na área social, o Turismo vem sendo desenvolvido por meio das Vilas Criativas, onde são ofertados diversos cursos de capacitação nas áreas de gastronomia e DJs. Vamos ampliar o número de cursos no segundo semestre, com foco no Turismo. Estamos investindo na Economia Criativa, como foi reconhecido pela Unesco. Os turistas querem viver experiências culturais. Temos ainda os turismos de negócio e histórico. Esse é o futuro de uma economia sustentável, baseada em tecnologia, turismo e Porto.


Muitos idosos escolhem Santos para viver. Como a Prefeitura pode atuar para deixar a Cidade mais atrativa para esse público?


Estamos falando de um público que também mudou o seu perfil, inclusive econômico. São pessoas que consomem e que estão ativas economicamente, mesmo estando aposentados. Muitas delas preferem desenvolver suas atividades e projetos aqui por causa da qualidade de vida, da sensação de segurança, do saneamento básico e disponibilidade de lazer sem custo. Temos cinco cinemas públicos e seis teatros. O Município tem um leque de atrações públicas. A gente enaltece os grandes festivais que ocorrem no Centro, como o Festival do Café, o Festival dos Imigrantes e o Natal Criativo. Santos é uma cidade atrativa a pessoas de todas as faixas etárias, mas traz em especial aqueles que buscam o equilíbrio entre o trabalho e a qualidade de vida.


Como a Prefeitura pode atuar para amenizar a desigualdade social no Município?


Essa situação está baseada na falta de oportunidades. Destaco as Vilas Criativas como locais de oportunidades, onde são abertos grandes campos para as pessoas terem oportunidades na vida, seja para empreender ou se qualificar no mercado. Outra questão marcante na Cidade é a habitação. Faremos mais de 1.100 moradias específicas para famílias que vivem no Dique da Vila Gilda, além das outras 1.200 em andamento no Conjunto Tancredo Neves 3, em São Vicente. No Centro, fechamos uma parceria com o Estado para construir 50 unidades focadas para famílias que vivem em cortiços. No fim do ano passado, assinamos o convênio com o Estado para viabilizar o projeto habitacional na Vila Sapo. Nos morros, buscamos áreas para o desenvolvimento de projetos habitacionais e a regularização fundiária, que garantirá a escritura para o proprietário do imóvel.


Como o senhor enxerga Santos nos próximos 10 anos? Seguirá como uma cidade protagonista no cenário estadual e nacional?


Santos tem no seu DNA o protagonismo. Há mais de 200 anos, o santista José Bonifácio, o Patriarca da Independência, já tinha preocupação com o desrespeito ao meio ambiente. Um de seus textos mais conhecidos é o seguinte: “Destruir matas virgens, como até agora se tem praticado no Brasil, é crime horrendo e grande insulto feito à mesma natureza. Que defesa produziremos no tribunal da Razão, quando os nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?”. Esse texto se aplica até hoje. José Bonifácio era uma pessoa de vanguarda não somente na área política, mas também na área ambiental. Vejo que Santos é uma cidade que tem em suas preocupações a manutenção da qualidade de vida, um local pioneiro no desenvolvimento de projetos urbanos e um município renovado, à frente do seu tempo nas áreas de mobilidade urbana, tecnologia e meio ambiente.


Para o cidadão Rogério Santos, ser santista é...


É ser um cidadão crítico, no sentido positivo. Santos é uma cidade muito bem constituída dentro de suas instituições. É um município com estabilidade político e há um equilíbrio entre Executivo e Legislativo. O santista é muito crítico. Tem uma cultura própria, muito bairrista, mas aberto à renovação. Ser santista é um orgulho e ser morador de uma das melhores cidades para se viver.


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