População de rua em Santos será recenseada ainda este ano

Trabalho em Santos está previsto para outubro; Prefeitura e Unifesp firmam parceria para a coleta de dados

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  18/09/19  -  15:40
Jaime está sem emprego há quatro anos, não conseguiu bancar um quarto e perdeu contato com parentes
Jaime está sem emprego há quatro anos, não conseguiu bancar um quarto e perdeu contato com parentes   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

A Prefeitura de Santos colocará pesquisadores nos bairros em outubro para saber quantos e quem são as pessoas que vivem nas ruas do Município. O trabalho ocorrerá em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).  


O objetivo é desenvolver e ampliar políticas públicas que atendam pessoas como Alfredo Marcos de Souza, de 44 anos e que nesta terça-feira (17) fazia de um trecho da calçada da Avenida Senador Feijó, perto da Rua Torres Homem, a sua casa. 


Com ele, apenas uma mochila velha, roupas sujas, um pacote de bolha e cadernos escritos ao longo do tempo que vive perambulando por ruas e cidades. Do que recorda, conta que nasceu no Rio de Janeiro, estudou até o 1º ano do Ensino Médio. Sofria bullying na escola, apanhava de colegas e foi abandonado pela família.  


Escrever passou a ser sua companhia desde então. Nas anotações, há frases desenvolvidas para serem utilizadas em comerciais de TV ou internet. “Sou autodidata. Gostaria de voltar a estudar. Ter um emprego e trabalhar com tecnologia. Também gosto de marketing”. 


Outro que busca um recomeço é Jaime Henrique de Oliveira, 49 anos, há quatro desempregado. Sem salário, não teve como pagar mais os R$ 350,00 por um quarto alugado no Centro.  


Ele também perdeu contato com a família e sobrevive com a ajuda da comunidade. Atualmente dorme em uma área de um comércio fechado na Rua Oswaldo Cochrane. Já passou por abrigos municipais, porém, diz que não consegue emprego por preconceito. 


“Tenho psoríase. As pessoas acham que é contagioso e não me dão emprego. No último, fazia parte do setor de limpeza. Depois, não consegui mais nada”. 


O sonho dele é conseguir um tratamento para a doença e voltar a trabalhar. “A minha situação me deixou com depressão. O problema é que as pessoas não entendem. A psoríase piorou muito por conta disso e tomou conta do corpo todo. Queria ficar bem para conseguir um trabalho”.  


Detalhes 


O último levantamento feito em Santos foi em 2013, quando verificou-se que 797 pessoas estavam em situação de rua. A gestora do programa municipal Novo Olhar, Juliana Laffront, diz que ainda não há data fechada pra a coleta dos dados. Nesta semana, será montado o mapa dos locais a serem visitados. A partir daí, haverá a definição do número de pesquisadores.  


“O censo é feito em uma noite porque os dados são sigilosos e como essas pessoas se movimentam muito pelo território, não há como fazê-lo de outra forma. Por isso, a preparação é complexa. A data também depende do clima”.  


Segundo ela, o IBGE não contabiliza o público que não tem residência fixa. “Isso fica a cargo dos municípios. Devemos ter um resultado parcial entre final de outubro e começo de novembro. O relatório final deve sair no final do ano”. 


A gestora afirma que, com o levantamento em mãos, haverá condições de definir políticas públicas para o setor. “A partir do resultado, é possível entender como redimensionar os serviços existentes. Às vezes, são apenas detalhes que necessitam de revisão ou verificar ainda se há serviços que precisam ser criados”. 


Equipes de abordagem monitoram casos 


A Prefeitura informou, em nota, que foram enviadas equipes de abordagem social para verificar a situação dos moradores em situação de rua citados pela Reportagem. No caso do Alfredo, ele não foi localizado. 


Porém, foi informado que ele esteve no Centro Pop em 2018 e não retornou ao serviço municipal desde então.  


A equipe também esteve com Jaime. Nesse caso, foi informado que ele recusou o acesso aos serviços disponíveis pelo Município. Jaime, no entanto, já participou de programas em momento anterior.  


Questionado sobre o tratamento de saúde pleiteado pelo morador, a Cidade explicou que será enviada ao local equipe do Consultório de Rua para analisar a situação. 


Ajuda 


Quem encontrar um morador em situação de rua e quiser ajudá-lo pode avisar o Município ligando para a Central de Monitoramento, que atende no número 0800-177766. O serviço funciona 24 horas 


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