Obra de escravo e arquiteto santista é resgatada por professor universitário

Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas, é considerado Ícone da arquitetura na Capital paulista no século 18

Por: Por ATribuna.com.br  -  25/01/21  -  12:20
Reconhecimento arquiteto santista veio com 200 anos de atraso
Reconhecimento arquiteto santista veio com 200 anos de atraso   Foto: Divulgação

Foi após ter completado 58 anos, e obtido a alforria, que Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), conhecido como Tebas, escreveu seu nome na arquitetura da ainda provincial cidade de São Paulo, durante o Brasil Colonial. Considerado, hoje, um dos mais importantes personagens da história santista, ele só teve sua profissão reconhecida em 2018, mais de 200 anos depois de sua morte.


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O reconhecimento tardio veio do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (Sasp), que o homenageou com base em documentos oficiais reunidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A história do profissional escravizado e natural de Santos ganha um capítulo especial nas mãos do professor da São Judas – Unimonte, Renato Frosch.


Arquitetos do Estado de São Paulo prestaram homenagem ao santista
Arquitetos do Estado de São Paulo prestaram homenagem ao santista   Foto: Divulgação

Ele resgatou um personagem fundamental e ainda pouco conhecido na história de Santos e de São Paulo, cidades que fazem aniversário na próxima semana. O acadêmico conta que Tebas foi o responsável por obras que hoje são consideradas cartões-postais da Capital.


Jaquim responde por diversas obras como a construção da torre da antiga Igreja Matriz da Sé (1750), a ornamentação das fachadas das igrejas do Mosteiro de São Bento (1766), da Ordem 3ª do Carmo (1777) e da Ordem 3ª do Seráfico São Francisco (1783).


Natural de Santos, Tebas foi personagem importante no ofício com pedras e metais. Tradição que herdou de suas origens africanas. “A ideia foi trazer de volta uma obra importante que não existe mais e valorizar seu autor, que foi apagado da nossa história, como tantos negros que também construíram esse País”, destaca Frosch.


Em parceria com o laboratório Drone Lab Brasil, Frosch reconstruiu em 3D a réplica doseu trabalho mais famoso: o Chafariz da Misericórdia. Considerado primeiro chafariz público de São Paulo, foi demolido em 1866, coma canalização do sistema de abastecimentopaulistano. A fonte foi erguida onde hoje está a Rua Direita (próxima do metrô da Sé, no centro de São Paulo). Na época de sua construção, diversos escravos buscavam água no local, que também servia como um ponto de encontro entre eles.


Sua mais importante obra foi resconstruída por meio de impressão 3D
Sua mais importante obra foi resconstruída por meio de impressão 3D   Foto: Divulgação

Importância


O docente da instituição de Ensino Superior de Santos destaca ser notória a importância do trabalho do santista na Capital. “Mas, à informação de que foi Tebas o construtor da torre da Catedral, acrescenta que, depois desse trabalho arquitetônico de importância, não houve em São Paulo o que deixasse de ser por Tebas executado”.


“Tebas teria ainda atuado como engenheiro hidráulico, assumindo e realizando o encargo de estabelecer o primeiro abastecimento público regular de água à Paulicéia, com a construção do antigo chafariz da Misericórdia e derivação canalizada, para este, das águas do Anhangabaú”.


Tebas nasceu em Santos em 1721 e aprendeu o ofício com seu senhor, o português Bento de Oliveira Lima, um grande mestre de obras da região. Com 29 anos, Tebas subiu a Serra e tornou-se fundamental para a modernização das construções da Capital, ao talhar blocos de rocha no lugar das edificações em taipa (barro).


Morreu aos 90 anos, em 1811, mas, bem antes, foi alforriado. Alguns dizem que sua alforria custou 400 réis devido a seu talento, enquanto outras valiam 100 réis. O santista foi sepultado na Igreja de São Gonçalo, no Centro de São Paulo, cidade que ajudou a construir.


Para homenageá-lo, a Prefeitura de São Paulo entregou no final do ano passado uma estátua na Praça Clóvis Bevilácqua, na face leste da Praça da Sé, que celebra a grandiosidade do legado arquitetônico de Tebas.


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